No momento em que entramos em contagem decrescente para a grande festa dos 40 anos da BLITZ, na Meo Arena, em Lisboa, a 12 de dezembro – com concertos de Xutos & Pontapés, Capitão Fausto, Gisela João e MARO –, pedimos a músicos, promotores, jornalistas, radialistas e outras personalidades que vão ao baú resgatar memórias de quatro décadas de história, deixando-nos, também, uma mensagem para o futuro.

“Quando os meus dois discos foram considerados melhores álbuns pela BLITZ… não há nada que pague a alegria do Kalaf a dizer-me assim: ‘mano, acho que és o primeiro afrodescendente a receber o disco do ano da BLITZ’. Ele disse aquilo de uma forma que parecia que eu tinha ganho um Grammy ou um Óscar”, recorda Dino D’Santiago, referindo-se a “Kriola” e “Badiu”, eleitos pela equipa da BLITZ melhores álbuns nacionais nos anos em que foram editados, respetivamente 2020 e 2021, “há muitos álbuns que eu meteria em primeiro lugar, mas a minha melhor sensação foi: sinto que mereci este lugar. Foi das poucas vezes que consegui exercitar o merecimento. Até ali, tinha sido sempre um ‘epá, fogo, isto não é para mim’. Senti ali, genuinamente, que mereci aquilo, por todo o processo de construção espiritual e mental que tive de fazer. Mais do que ser por mim, por todas as pessoas que trabalharam no disco, o Seiji, o Kalaf, o Branko. Foi uma honra tremenda. Foi transformador, foi mesmo transformador. Não pensem que o top da revista não nos importa. Importa muito, mais do que qualquer outro prémio, porque é a revista de excelência que fala sobre as nossas obras”.

Recuando muito mais atrás, D’Santiago marca o ano de 2004 como aquele que marca o início da sua ligação à BLITZ. “A recordação mais antiga, por incrível que pareça, é do entusiasmo com que o New Max [dos Expensive Soul] aguardava pelo jornal. Aquilo fascinou-me. Como não lia muito o jornal, foi o entusiasmo dele, que era uma pessoa muito apaixonada por música, por instrumentos e quem tocou nos discos… e isso era uma coisa que a BLITZ tinha de muito maravilhoso: ia aos discos e descosia quem eram os produtores, os sujeitos ativos e fantasmas. Então, a minha memória mais bonita é precisamente o entusiasmo dele à espera que o jornal chegasse à papelaria. A minha paixão pela BLITZ começou aí, no Porto, a partir de 2004. Depois, tenho imagens do Virgul muito orgulhoso de cada vez que os Da Weasel apareciam na BLITZ, de quando o Sam The Kid e o ‘Pratica(mente)’ apareceram ou quando o Valete também apareceu… Foram momentos históricos para nós… Tenho essas memórias fortes, muito conectadas ao hip-hop”.

“O maior contributo da BLITZ, para mim, é ter resistido de verdade aos novos tempos, à era digital, e ter conseguido reinventar-se para não desaparecer. Para mim, ia ser um luto gigantesco”, defende o músico, “quando soubemos que a revista já não ia ser publicada fisicamente, pensámos ‘e agora, quem vai olhar por nós?’. E, de repente, multiplicaram-se na cena digital e muito bem. Sempre com artigos longos, a dar tempo ao artista para falar. As fotografias sempre icónicas. Sinto que não perder a BLITZ para uma era física, passando ao digital, fez com que não deixasse de ser punk, forte nesse sentido punk e hip-hop de disrupção, sem receio do que se possa pensar”. Para o futuro, deseja que, “sempre que puderem”, exista “uma edição de colecionador, física”. “Adorava mesmo que houvesse esse livro da BLITZ, que todos nós vamos querer ter na prateleira, com estes 40 anos, mas já a desenhar os próximos 40. Gostava muito de perceber, através dos vossos pensamentos, como imaginam os próximos 40 anos”.