Com o objetivo de “recordar e homenagear António Variações”, a FCSH da Universidade Nova de Lisboa vai receber o colóquio “Variações em Torno de António” nos dias 5 e 6 de dezembro, com a programação, agora divulgada, a contar com debates sobre o impacto do artista, falecido há 40 anos, na música, cultura e sociedade portuguesas.

Com organização de Manuela Gonzaga, biógrafa de António Variações, e Catarina Pimentel Neto, o colóquio tem como ideia central “ilustrar o desenrolar da sua vida através dos momentos-chave da vida em Portugal e no mundo”, propondo-se “refletir sobre o país em que António Joaquim Ribeiro veio ao mundo”. Nos vários debates, participam figuras como Júlio Isidro, Lena d’Água, Carlos Maria Trindade, Francisco Vasconcelos, David Ferreira ou Vítor Rua.

“Que país era Portugal nas décadas de 40, 50, 60 e 70 até ao fim do regime que antecedeu abril de 74?”, lê-se na apresentação de “Variações em Torno de António”, “migrações e imigrações. Guerra Colonial. Crianças sem infância. E questões de género, com perseguições a quem afirmava a sua diferença nesse campo. A homossexualidade era crime. O divórcio proibido. A emigração (do campo para a cidade) e imigração (quase toda clandestina) era uma realidade cujos números refletem, num país esmagadoramente rural. O serviço militar obrigatório atirava centenas de milhares de jovens, alguns dos quais nunca tinham saído da sua terra, para o Ultramar”.

Consulte abaixo a programação completa:

5 DE DEZEMBRO

09h30 – 10h00 Receção e abertura
Maria Fernanda Rollo
Manuela Gonzaga
Laurentina Pereira, Diretora Municipal da Cultura da CML
Jaime Ribeiro, irmão de António Variações

10h00 – 11h00 1ª Sessão
Moderação: Maria Fernanda Rollo
“Já fiz o exame da 4ª classe”. A vida rural e urbana no século passado. Falta de horizontes, escassez alimentar, fome sofrida por grande parte das populações, sob uma rigorosa tutela política e religiosa. Mas também memórias felizes de infâncias breves e, no caso de António Variações, muito musicais. A persistência da alegria traz memórias a que o artista será sempre fiel.

Micro e macrocosmo de António Variações.
Susana Coimbra

O Trabalho Infantil em Portugal entre as décadas de 1940 e 1980.
Catarina Pimentel Neto

11h30 – 13h00 2ª Sessão
Moderação: Carlos Vargas
A partir do 25 de Abril de 1974, Portugal torna-se um país de pernas para o ar que se reinventa, descobre, e cresce em direções múltiplas, com ruturas, e novas formas de viver, socializar, e sonhar os futuros possíveis e, porque não? impossíveis. António Variações, a persona de António Joaquim Ribeiro, sobe aos palcos. Ele é, decididamente, raiz, flor e fruto de Abril. Mas há muito mais em causa…

De Maria Albertina a Vanessa - perspetivar mudanças sociais nas décadas de 40 a 80 do século XX através dos nomes próprios.
Judite Maria Esteves

Permanências e Mudanças: A Sociedade Portuguesa nos anos 80.
Raquel Varela

António Variações - Opressão e Liberdade. A fome de ser autêntico.
Manuela Gonzaga

14h30 – 16h00 3ª Sessão
Moderação: Fernando Cascais
“Só estou bem onde não estou” Desacertos e ocultações. A censura e a vigilância dos costumes abrem caminho às viagens possíveis, nomeadamente ao “estrangeiro” de onde chega outra música, outros costumes, outra liberdade. Ouviremos falar de “subversão da hegemonia social”; da “recuperação de identidades queer” no contexto português. E entraremos no campo de um dos maiores tabus nacionais: a homossexualidade no contexto do serviço militar nas antigas colónias portuguesas.

Subversão e Expressão: A Queerização nas Obras de António Variações.
Paulo Peppe [via Zoom]

Estar além: A persona queer de António Variações.
Fernando Cascais

Representatividade homossexual e construção da narrativa da Guerra Colonial Portuguesa: Um testemunho sobre a experiência de João Carlos Roque.
André Filipe de Oliveira

16h30 – 17h30 4ª Sessão
Moderação: Manuela Gonzaga
Depois do êxito do seu primeiro maxi single, Povo Que Lavas no Rio, em 1982, António Variações torna-se uma figura consensual, um ícone dos anos 80, simultaneamente aceite pela elite de Lisboa e pelas gentes dos bairros populares. Por outro lado, é a simplicidade em pessoa, mau grado a aparente altivez de gestos e modos, a sua forma de disfarçar a enorme timidez. E nos seus passeios por Lisboa, da Feira da Ladra ao Príncipe Real, do Largo do Rato aos Restauradores, do Bairro Alto à Estrela, do Chiado à Sé, ele responde aos cumprimentos e devolve as saudações com um sorriso fácil e maneiras afáveis.

“O meu grande amigo António.” Um registo de memórias e imagens icónicas.
Teresa Couto Pinto

“Experiência Variações” - os espetáculos concebidos a partir das compartimentações da vida de António.
André Murraças

Editar, gravar e lançar António Variações para o grande público.
David Ferreira

6 DE DEZEMBRO

09h30 – 11h00 5ª Sessão
Moderação: Carlos Poiares
“António Variações: "Em miúdo, era surpreendido várias vezes, a cantar em frente ao espelho. Era ali que atuava. Tenho sido um cantor de casa de banho, e não foi nada fácil chegar até ao palco. Tive de atravessar um corredor muito longo. Dá-me ideia de que nasci demasiado cedo. É que se tudo tivesse corrido como devia ser, já teria aparecido há dez anos. Mas nessa altura ninguém entendia o meu trabalho, a minha conceção estética”.

Reflexões Tardias sobre os Heróis do Mar e António Variações.
Jorge Pereirinha Pires

António Variações: A Voz Inovadora dos Anos 80 e o Legado Imortal para Sociedade Portuguesa.
Vítor Rua

11h30 – 13h00 6ª Sessão
Moderação: Manuela Gonzaga
A moda e os modos. Roturas coloridas. Em 1983, António Variações integrou a lista dos mais malvestidos “de Portugal”, um galardão que lhe é entregue a 14 de novembro numa festa na boîte-discoteca Charlie's Place.O artista reage com olímpico desdém: “Sabem lá eles o que é vestir! O estilo sou eu!”

António Variações: Estou além - A moda como transgressão.
Margarida Amaro

Rudolfa/Rudolfo, a “Rita Hayworth” do Bairro Alto.
Rudolfo Pimentel

Em novembro de 1975, o Scarllaty Clube abria as portas.
Carlos Ferreira/Guida Scarllaty

14h30 – 16h00 7ª Sessão – Mesa Redonda
Moderação: Maestro Ricardo Bernardes
O som de Variações e o rock português. Conversa acerca do trabalho musical com o cantor que congregou em seu redor os melhores músicos da época. Como foi trabalhar com um músico que não sabia música? E traduzir o som que ele queria transmitir? E que voz era a sua, que a princípio “estranhava-se” e depois se “entranhava”?

Testemunhos:
Carlos Maria Trindade. “Produzi o seu último disco, juntamente com Pedro Ayres de Magalhães.”

Pedro Félix. “No Passeio dos Alegres, vi e ouvi o Variações pela primeira vez”, palavras do coordenador da Equipa Instaladora do Arquivo Nacional do Som.

Francisco Vasconcelos. “Ele era um de nós.” Memórias inesquecíveis do então A&R, diretor e, posteriormente, administrador da Valentim de Carvalho.

Pedro Vasconcelos. “O António era… único”. Técnico de som, foi responsável pela gravação dos primeiros discos de Variações. de quem era amigo.

16h15 – 17h45 8ª Sessão – Mesa Redonda
Moderação: Catarina Pimentel Neto, Manuela Gonzaga
“Recordem-me a cantar”. Conversa com pessoas que privaram com o artista (mundo da música e do espetáculo) recordando episódios e caraterísticas das vivências com António Variações.

Testemunhos:
Júlio Isidro. Lançou o António junto do grande público no programa de maior audiência nacional da época, O Passeio dos Alegres. Voltou a entrevistá-lo muitas vezes. A última entrevista que o cantor deu foi no seu programa, vestido com o pijama de flanela com ursinhos.

Lena d'Água. Variações chamava-lhe “Aguinha”. Estavam os dois na mesma editora, a Valentim de Carvalho. Mais tarde, já Variações tinha partido, lançou o disco com temas dele. A imprensa de então ignorou esta homenagem de resto muito bem acolhida pelo público.

Fernando Heitor. Ator, encenador, cliente da barbearia e amigo de António Variações desde o início dos anos 70, levou-o para o cinema, onde tem uma aparição fugaz. Chegou a escrever letras para as músicas dele, e a dupla foi premiada num Festival da Canção paroquial.

Luís Filipe Sarmento. Jornalista, escritor e poeta, conheceu António nos anos 70. Com grandes ligações familiares às famílias circenses, o jornalista trocava cortes de cabelo por bilhetes para o Circo, que Variações adorava, com direito a entrada nos bastidores.

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