Quando se fala de gastronomia portuguesa, há um prato com nome estrangeiro que tem sempre de ser referido: a francesinha.
Os relatos da sua criação não são consensuais. O mais popular é que Daniel David Silva, emigrante que esteve na Bélgica e França, se inspirou no croque-monsieur para criar esta nova iguaria que serviu no restaurante ‘A Regaleira’ pela primeira vez nos anos 50.
O que Daniel David Silva estava longe de imaginar é que décadas mais tarde, este prato nortenho continuaria a mover populações e a mexer com os sentimentos dos amantes da gastronomia portuguesa.
Um exemplo disso é o grupo ‘Rota das francesinhas’, criado em 2013, que atualmente conta com quase 130 mil membros. Criado por Nuno Cunha, o espaço de partilha de experiências viu a popularidade aumentar exponencialmente no ano que passou.
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O impacto do grupo no negócio dos restaurantes
Em entrevista exclusiva à revista ‘VIP’, Nuno explicou como tudo começou: “Eu tenho um amigo que, com alguma frequência, partilhava comigo as suas últimas degustações de francesinhas. Eram sempre espaços interessantes e que me suscitavam curiosidade em conhecer. Assim sendo, eu memorizava sempre estas suas sugestões para mais tarde visitar”, explicou.
“Um dia, eu disse-lhe, em tom de brincadeira, que ia criar um grupo no Facebook para registarmos e partilharmos todas estas experiências. E assim surgiu, a 26 de junho de 2013, o Rota das Francesinhas. No início, na moderação, era só eu e esse meu amigo, mas com os anos e com o crescimento acelerado do grupo, surgiu a necessidade de aumentar a equipa. Hoje em dia orgulho-me em dizer que posso contar com uma equipa composta por valiosos elementos, a quem posso chamar amigos, pois são pessoas que, por partilharem o mesmo gosto por francesinhas, se aliaram a mim nesta aventura”, continuou.
E a verdade é que o fundador do grupo considera que o sucesso deste tem tido impacto na vida real: “Nestes últimos anos temos recebido testemunhos de proprietários de espaços que viram crescer significativamente o seu volume de negócios graças à recomendação de membros no nosso grupo. Mas penso que só no final de 2024 é que comecei a ter verdadeira noção da influência deste grupo na vida de algumas pessoas. Espaços como o Café Mendes em Vila Nova de Famalicão, Café Lemos no Porto, Alkimia em Vila Nova de Gaia e o Timeout e Mesa 13, ambos em Valongo, são apenas alguns exemplos de Restaurantes que sentiram que beneficiaram da existência do grupo Rota das Francesinhas”, fez saber.
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Mais polémica do que pode parecer
Porém, o que Nuno Cunha acabou por descobrir é que a francesinha pode ser um tema polémico dado que desde a sua génese, a receita se foi transformando para acomodar novas tendências e preferências. Assim, molhos mais doces ou opções que fogem à tradição chegam a provocar discussões verdadeiramente incendiárias.
“Nunca pensei, honestamente, que a francesinha pudesse trazer tantas dores de cabeça à nossa equipa de moderação. Sempre pensei que os temas polémicos que poderiam levar a discussões seriam a religião, o futebol e a política. Mas, depois de alguns anos a moderar milhares de comentários, posso seguramente afirmar que a “Francesinha” também pode ser tema “tabu”ou dogma para alguns, especialmente por bairrismo e por algum “purismo””.
Assim, surgiu a necessidade de estabelecer um conjunto de regras: “Por isso é que nestes últimos anos surgiu a necessidade de criar um conjunto de regras que regulassem de alguma forma estas discussões algo “acesas” que diariamente acontecem no Rota. Acima de tudo, o que pedimos aos membros é que respeitem as variantes locais e saibam aceitar a diversidade gastronómica existente. A história da francesinha é evolutiva e não termina de forma alguma na Regaleira. Esta receita tem sofrido uma evolução constante desde a sua criação e nenhum sítio a confeciona da mesma forma. Há que saber respeitar e honrar a sua história mas também aceitar os vários espaços que tentam, à sua maneira, recriar este prato oferecendo novas perspetivas”, apelou.
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“Gostos não se discutem, partilham-se”
Por isso mesmo, quando questionado sobre o que define uma francesinha perfeita, Nuno Cunha não tem dúvidas: “Quando criei o grupo, eu mantinha uma ideia algo “inocente” do que seria a francesinha perfeita. Eu acreditava que se alguma vez encontrássemos a francesinha ideal, seria uma que agradaria de forma igual a todos. Daí eu ter iniciado esta minha aventura no Facebook com “um grupo que se propunha descobrir a melhor francesinha.” Mas o tempo e a minha experiência neste grupo vieram provar-me justamente o contrário Hoje posso dizer, sem sombra de dúvida, que a francesinha perfeita é aquela que nos sabe melhor. Porque o que agrada a um não agrada necessariamente a outro. É por isso que eu prefiro focar o grupo, acima de tudo, numa pura partilha de experiências. Sempre com o lema “Gostos não se discutem, partilham-se”.
Quando questionado para partilhar uma lista de sugestões, o fundador deste fenómeno das redes sociais procurou reunir uma lista ecléctica baseada nas suas experiências em 2024, havendo espaço para diversas cidades e modos diferentes de confecionar a francesinha. Por terem todas “características diferentes”, optou por não atribuir nenhuma ordem específica.
- Alkimia (Vila Nova de Gaia)
- Braguista (Braga)
- Cervejaria O Begueiro (Braga)
- Guarda-Sol (Póvoa de Varzim)
- Lemos Café (Porto)
- Majára (Matosinhos)
- Mesa 13 (Valongo)
- Regaleira (Porto)
- Taberna Belga (Braga)
- TimeOut Sports Bar & Grill (Valongo)
Depois de um ano de “grande crescimento” para o ‘Rota das Francesinhas’, o fundador Nuno Cunha já só pensa no futuro: “De um espaço meramente de partilha, passou a organizar eventos e estabeleceu algumas parcerias para pequenos passatempos, sempre com o objetivo principal de premiar os membros. Temos algumas surpresas pensadas para o futuro, algumas que estão previstas até ao final deste ano”.