A nova colheita de um dos mais emblemáticos vinhos do país, o tinto Pêra-Manca foi apresentada em Évora, por um jantar revestido da pompa devida ao momento de “desvendar mais um capítulo da história formidável deste vinho”. Antes, a colheita de 2018 foi dada a conhecer no Brasil, mercado que absorve atualmente 30% da produção da Cartuxa, com o Pêra-Manca a ser uma verdadeira bandeira, mais de 500 anos depois… Rezam as crónicas que o vinho, oriundo de um barranco onde pedras de granito soltas “mancavam” (oscilavam), ganhou fama e foi levado por navegadores nas viagens dos Descobrimentos. Ainda segundo as crónicas, Pedro Álvares Cabral embarcou alguns barris nas caravelas que desembarcaram no Brasil e que terá sido este o vinho com brindou com os indígenas, conforme relato de Pero Vaz de Caminha.

Pêra-Manca tinto 2018
Pêra-Manca tinto 2018 Expresso

Uma garrafa por pessoa
Com 6000 garrafas a caminho do Brasil, quem reservar e, depois, fizer a visita guiada no Enoturismo Cartuxa, na Quinta de Valbom, em Évora, pode comprar a nova colheita do icónico Pêra-Manca tinto na loja da Adega Cartuxa. Mas “só é vendida uma garrafa de Pêra-Manca [tinto 2018] por visitante”, lembra João Teixeira, diretor comercial e de marketing da Fundação Eugénio de Almeida. Esta regra pretende travar “o controlo do mercado” por parte de quem possui poder de compra, nas palavras de João Teixeira. Assim, “as outras pessoas não teriam acesso ao vinho”. Ao mesmo tempo, esta medida evita que “entremos em concorrência com os nossos clientes”, justifica.

A título de curiosidade, o diretor comercial e de marketing da Fundação Eugénio de Almeida conta as peripécias de alguns dos visitantes da Adega Cartuxa a respeito das colheitas anteriores do Pêra-Manca tinto. “Desde tentarem subornar quem está no enoturismo, virem com cinco ou seis pessoas que acabaram de conhecer no centro de Évora e que passam por familiares, ou terem um bebé de colo e dizerem que ele também quer uma garrafa de Pêra-Manca tinto, ainda que esteja bem claro que só vendemos vinho a maiores de 18 anos”.

Pêra-Manca tinto 2018
Pêra-Manca tinto 2018 Expresso

Vinho com exuberância notável
Quanto ao preço de venda - €350, por garrafa -, João Teixeira esclarece que este valor está associado à lei do mercado, em que “a procura é maior do que a oferta”. Estima-se que 50% das 21.000 garrafas desta nova edição de Pêra-Manca tinto fique pelo mercado nacional e 6000 garrafas tenham o Brasil como destino. Mesmo assim, considera que “até tínhamos espaço para ir mais além, sobretudo nesta colheita de 2018”. Esta redução deveu-se ao facto de 2018 ter sido “um ano muito duro”, quente e seco na primavera e no verão, segundo Pedro Baptista, responsável pela enologia da Fundação Eugénio de Almeida.

Para os colecionadores e apreciadores deste icónico vinho do Alentejo, Pedro Baptista assegura que o Pêra-Manca tinto 2018 “vai evoluir favoravelmente, mais 10 ou 15 anos”. Com base “nas provas realizadas com colheitas mais antigas”, há a probabilidade da evolução em garrafa chegar mesmo há 25 anos. Apesar das parcelas de onde é vindimada a matéria-prima, plantadas há cerca de 40 anos, em solos pobres de origem granítica, na quase vizinha Herdade de Pinheiros, em Évora, “a qualidade que temos das uvas é consistente ano após ano”, garante. O resultado traduz-se num vinho com uma exuberância aromática notável, com uma complexidade marcante, com textura e densidade, características equilibradas pela frescura, que confere frescura a este Pêra-Manca tinto 2018.

Adega Cartuxa
Adega Cartuxa Expresso

Até chegar ao copo, o Pêra-Manca tinto 2018 permaneceu um mês e meio em balseiros de carvalho francês na Adega Monte de Pinheiros, onde “a uva é fermentada e o vinho faz uma maceração em contacto com as películas”, descreve Pedro Baptista. Em seguida, passou para os tonéis da Adega Cartuxa, na Quinta de Valbom. Aqui, foi submetido a um estágio de cerca de 18 meses. Posteriormente, estagiou cerca de quatro anos em garrafa, nas caves do Convento da Cartuxa, “com condições naturais de humidade, temperatura e luminosidade muito boas para a evolução dos vinhos”, continua o enólogo. Este período de envelhecimento deste vinho é longo, “mas não é demasiado longo para o potencial de um vinho como este”.

Face ao teor alcoólico 15,5% do Pêra-Manca tinto 2018, João Teixeira argumenta: “seria estranho se agora um vinho que fosse ícone do Alentejo tivesse 12% de álcool, um corpo muito leve e uma cor quase de palhete.” Para o diretor comercial e de marketing da Fundação Eugénio de Almeida, o importante é defender “o valor e a tipicidade dos vinhos da região. Portanto, vamos pôr sempre na garrafa o que a uva nos dá, o que o clima nos dá, o que o solo nos dá”, sobretudo quando se trata de “um ícone do Alentejo, um ícone de Portugal”.

Pêra-Manca tinto 2018
Pêra-Manca tinto 2018 Expresso

Sabores do Alentejo
Sobre a apresentação do Pêra-Manca tinto 2018, o jantar decorreu na Adega Cartuxa e esteve a cargo de Leopoldo Garcia Calhau, chef da Taberna do Calhau, em Lisboa, a quem foi pedido que levasse o Alentejo à mesa. Foi o que fez o reconhecido cozinheiro alentejano, ao eleger dois pratos inspirados em receitas da região para harmonizar com esta nova colheita do emblemático vinho da Fundação Eugénio de Almeida: “Cação e feijão-branco", “Grão e presa alentejana” e “Filhós e feijão”, este último, como sobremesa.

A nova edição do Pêra-Manca tinto 2018 está à venda na loja do Enoturismo Cartuxa, espaço localizado na Quinta de Valbom (Estrada da Soeira, Évora. Tel. 266748383). A venda está sujeita à “disponibilidade desta referência”, de acordo com a página oficial da Adega Cartuxa. Refira-se ainda que existe um Clube Pêra-Manca, onde saber tudo sobre este icónico vinho do Alentejo.

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