
Ao longo das últimas duas décadas, assistimos a muitas mudanças no mundo financeiro que foram motivadas pelas consequências da crise financeira de 2008, por um ambiente regulatório cada vez mais complexo, pelo desafio de taxas de juro historicamente baixas seguidas de um período mais recente com taxas mais elevadas, pela concorrência feroz de instituições tradicionais e de novos intervenientes que surgiram na indústria e pela disrupção provocada pela pandemia global.
Estamos agora a atravessar mais um período de transformação – motivado pela nova era da IA. Embora o setor já tenha tido as primeiras experiências de inteligência artificial e de automação desde há cerca de uma década, está agora a preparar-se para uma transformação drástica à medida que as instituições financeiras reinventam as suas operações e modelos de negócio para atender às necessidades em mudança dos seus clientes, enquanto gerem novos riscos e requisitos regulatórios.
Tal como a própria indústria, a IA está a evoluir rapidamente, transformando o panorama atual com algumas promessas entusiasmantes e outras mais incertas. O que é certo é que a IA generativa é um fator revolucionário poderoso que demonstrará o seu papel central na estratégia de negócio de qualquer banco de referência.
Em 2025, esperamos ver o avanço, a otimização e a diversificação dos modelos de IA proporcionando um valor significativo ao setor dos serviços financeiros, com modelos empresariais direcionados a um propósito, como a utilização de Pequenos Modelos de Linguagem (SMLs) e dos Grandes Modelos de Raciocínio (LRMs).
A grande questão que se coloca é quais serão os bancos que irão liderar tirando o máximo partido destas capacidades.
De acordo com o relatório 2025 Global Outlook for Banking and Financial Markets: Elevate Banking Performance in the Age of AI, publicado pelo IBM Institute for Business Value (IBV), a resposta não é clara.
O estudo revela que mais de 60% dos CEOs do setor dos serviços financeiros estão dispostos a aceitar riscos substanciais para aproveitarem as vantagens avançadas de IA e automação para aumentar a sua competitividade. No entanto, esta ambição nem sempre se traduz em ação estratégica.
O IBV verificou que, em 2024, apenas 8% dos bancos estava a utilizar a IA estrategicamente em toda a empresa, enquanto 78% optava por uma abordagem mais tática de experimentação. Para que o setor dos serviços financeiros prospere no nosso panorama económico global em evolução, é de esperar que essa distribuição se inverta significativamente.
Os bancos deverão ir mais além da experimentação de IA e até mesmo da implementação básica, adotando, em vez disso, uma estratégia abrangente que alinhe a integração de IA com os seus objetivos de longo prazo. Para isso, deixo aqui algumas recomendações:
- Integre a IA em toda a sua estratégia de negócio
Simplesmente adotar IA não é suficiente. Os bancos exigem uma estratégia de negócios coesa, aproveitando a IA para gerar resultados direcionados, como eficiência operacional, experiências aprimoradas do cliente e produtividade do programador.
Igualmente crítica é a sua capacidade de comunicar claramente esta visão interna e externamente, permitindo-lhes destacar-se numa indústria cada vez mais dominada pela inovação e diferenciação impulsionadas pela IA.
Para isso, o banco tem que definir o que quer alcançar nos próximos três a cinco anos e como é que antecipa que a IA poderá ajudar. Uma estratégia de IA bem-sucedida requer que os investimentos tecnológicos estejam alinhados com as prioridades do negócio e que se possa entregar resultados tangíveis.
A inovação do negócio e a inovação tecnológica não devem estar separadas, uma vez que cada vez mais uma impulsiona a outra num círculo virtuoso para reinventar o futuro da banca.
- Trabalhe com IA, não contra ela
Quando implementada corretamente, a IA pode otimizar e reimaginar os processos existentes, gerando eficiência e inovação sem precedentes. Ao adotar a IA numa abordagem de parceria, e não apenas como uma ferramenta, os bancos poderão desbloquear novos caminhos para o seu crescimento e desenvolvimento.
Esta abordagem exige uma mudança de mentalidade, deixando de ver a IA como uma ameaça aos métodos bancários tradicionais para a reconhecer como um facilitador de novas oportunidades e de uma maior eficiência operacional. Embora a IA não vá substituir os bancos, aqueles que a utilizarem ao máximo como parte de uma estratégia abrangente a nível empresarial provavelmente irão ganhar quota de mercado.
- Encontre um equilíbrio entre cautela e inovação
Os bancos certamente têm a ganhar com a adoção de IA, mas não devem perder de vista os riscos. À medida que os sistemas de IA se tornam mais sofisticados, também podem tornar-se mais difíceis de compreender e gerir. Uma governança clara da plataforma é crucial para gerir a segurança, a conformidade e a resiliência à medida que a inovação aumenta.
Este equilíbrio irá garantir que os bancos possam colher os benefícios da IA sem comprometer a segurança. Envolve a identificação dos riscos potenciais e o desenvolvimento de estratégias robustas para os mitigar. Apela também ao desenvolvimento contínuo de competências e a uma cultura renovada de gestão do risco —o profissional do setor financeiro passa a ser também um gestor de risco de IA.
O caminho a seguir
O setor dos serviços financeiros tem registado um aumento significativo nos investimentos em IA, com previsões de crescimento de investimento de 35 mil milhões dólares em 2023 para 97 mil milhões de dólares até 2027.
Embora a aposta pareça promissora, no futuro, as instituições financeiras devem garantir que não estão apenas a investir em IA generativa para cumprir requisitos, mas sim a implementá-la de forma criteriosa, alinhando as capacidades computacionais com as suas maiores prioridades e mitigando quaisquer riscos.
Os bancos devem adotar a IA generativa, dando passos iniciais para a produção, alinhando os seus casos de uso de IA, mesmo que pequenos, para evitar a estagnação na busca da perfeição.
Ao produzirem os seus próprios modelos, mesmo que pequenos e usando-os em sistemas híbridos, com a sua própria informação on-prem e outra mais generalista na cloud, os bancos irão criar a sua própria vantagem competitiva e tirar vantagem dos seus próprios resultados, seguros e diferenciadores, conseguindo tirar partido do máximo valor da tecnologia. Ao invés de partilhar tudo em ambientes cloud distribuídos, que irão alimentar um modelo global privando-se assim da vantagem competitiva dos seus próprios dados.
O progresso começa com a ação, e a implementação do primeiro projeto de IA é crucial para construir momentum. O impacto pode crescer de forma exponencial ao longo do tempo. O segredo é começar, aprender e repetir, em vez de adotar uma postura passiva e esperar pela solução perfeita. O futuro da banca pertence aos que se atreverem a iniciar, a elevar as suas ambições e a deixar que a inovação os conduza.
À medida que o setor continua a evoluir rapidamente, os bancos que podem efetivamente alavancar a IA, alinhá-la com os seus objetivos de negócio e avaliar e gerir os riscos associados estarão melhor posicionados para liderar nesta nova era. A transformação não é apenas desejável, é essencial — e os bancos têm de definir o ritmo ou irão correr o risco de ficarem para trás.