Os manifestantes, sobretudo comerciantes de um mercado local, bloquearam a Estrada Nacional Número 1 (EN1) desde o início da noite de terça-feira em Bobole, a 50 quilómetros do centro de Maputo, obrigando um condutor de um camião a deixar a viatura no meio da estrada.
Para desmobilizar o grupo, cerca das 10:00 locais de hoje (08:00 em Lisboa), a polícia, com um veículo blindado e dois outros carros da corporação, realizou disparos, com balas verdadeiras e cápsulas de gás lacrimogéneo.
A operação, que incluiu o arremesso de granadas de gás lacrimogéneo, gerou caos em Bobole, com dezenas de manifestantes, aos gritos, a fugirem para interior do mercado, que está localizado ao longo da estrada.
"A população está revoltada, principalmente agora que eles começaram a disparar", explicou à Lusa Jaime Marcos, residente de Bobole.
Ao final da manhã em Maputo, a via estava desbloqueada, mas sempre com um forte aparato policial, que, além de vigiar o local, escoltava alguns camiões de carga até pontos considerados mais seguros.
Além da repetida exigência de "verdade eleitoral", entre as principais razões do protesto deste grupo está o custo de vida, com destaque para o preço do cimento.
"Nós aqui não chegamos de roubar nada, só que queremos que baixem o preço dos produtos, sobretudo cimento, porque o nosso presidente Venâncio Mondlane (o candidato derrotado nas presidenciais) já disse que o preço de cimento tem de baixar", disse à Lusa Lara Lileme, uma comerciante que estava entre os manifestantes.
A população acusa as autoridades de terem baleado pessoas durante as operações, ameaçando voltar a bloquear, naquele ponto, na principal estrada que liga o sul, o centro e o norte do país.
"Eles estão a disparar balas verdadeiras e andaram aqui a balear pessoas. Isto não vai parar. Eles que reduzam o preço das coisas ou que conversem com o nosso presidente. Nós ouvimos o nosso presidente", disse à Lusa Cornélio Mata, outro manifestante, referindo-se não ao Presidente eleito mas sempre a Venâncio Mondlane como este tivesse sido o vencedor das eleições de outubro.
Bobole foi um dos pontos em que os confrontos entre a polícia e os manifestantes foram mais intensos durante os últimos três meses de crise pós-eleitoral, sendo também um dos primeiros pontos que o ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane visitou desde o seu regresso a Moçambique dia 09 de janeiro.
Moçambique vive um clima de forte agitação social, protestos, manifestações e paralisações, convocadas por Mondlane, que não aceita os resultados eleitorais, com confrontos entre a polícia e manifestantes, que provocaram pelo menos 315 mortos, e cerca de 750 pessoas baleadas, de acordo com a plataforma eleitoral Decide, organização não-governamental que acompanha os processos eleitorais.
*** Estêvão Chavisso (texto), Fernando Cumaio (vídeo) e Luisa Nhantumbo (fotos), da agência Lusa ***
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