“Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, venceu este sábado a categoria de melhor filme ibero-americano nos Prémios Goya, numa cerimónia que atribuiu a “Emília Perez”, obra de Jacques Audiard envolta em polémica, o título de melhor filme europeu.

É a primeira vez que uma longa-metragem brasileira é reconhecida nos prémios espanhóis Goya, e o realizador Walter Salles, através de uma mensagem lida pelo músico uruguaio Jorge Drexler, manifestou gratidão por este prémio “muito especial”.

Lembrou, além disso, que a obra é sobre a memória de uma família “durante a longa noite da ditadura militar no Brasil”. O filme relembra a história do ex-deputado Rubens Paiva (Selton Mello), que foi preso, torturado e morto pela ditadura brasileira em 1971, e da mulher, a ativista e advogada Eunice Paiva (Fernanda Torres), que teve de retomar sozinha a vida familiar, com os filhos, e que tentou reclamar justiça pela morte do marido, cujo corpo nunca foi encontrado.

O filme está nomeado para três Óscares: Melhor Filme e Melhor Filme Estrangeiro, além da nomeação de Fernanda Torres para Melhor Atriz.

A categoria de melhor filme ibero-americano premeia filmes de países de língua portuguesa e espanhola, ou seja, membros da “comunidade ibero-americana”. Em 2023, “Alma Viva”, de Cristèle Alves Meira, esteve entre os nomeados.

“Emília Pérez” ganha melhor filme europeu e uma dupla vitória no melhor filme: os vencedores da noite

Também este sábado, “Emilia Perez”, do realizador francês Jacques Audiard, venceu o prémio de melhor filme europeu.

A vitória de “Emilia Perez” foi anunciada durante a cerimónia em Granada, mas a votação terminou a 24 de janeiro, poucos dias antes do início da polémica gerada por tweets da protagonista, Karla Sofía Gascón, publicados há anos, alguns com conteúdo racista.

Nessas publicações, divulgadas no final de janeiro por uma jornalista norte-americana, Gascón descreveu o Islão como um “foco de infeção para a humanidade” e ironizou sobre o movimento antirracista após a morte de George Floyd, afro-americano morto pela polícia em 2020.

A imprensa espanhola especulava há algum tempo sobre a possibilidade de Gascón, que teve de cancelar a presença em vários eventos nos Estados Unidos, comparecer na cerimónia dos Goya. Mas a atriz, que vive perto de Madrid, acabou por não se deslocar a Granada.

Ainda nos Goya, aconteceu algo inédito: pela primeira vez na história da premiação, dois filmes partilharam a categoria de Melhor Filme. “El 47”, do espanhol Marcel Barrena, foi o filme que arrecadou o maior número de prémios, num total de cinco Goyas (filme, ator secundário, atriz secundária, direção de produção e efeitos especiais). Partilhou o prémio de melhor filme com “La infiltrada”, de Arantxa Echevarría, que valeu ainda a Carolina Yuste o titulo de melhor atriz.

Eduard Fernández, protagonista de “Marco”, realizado por Aitor Arregi e Jon Garaño, levou para casa o prémio de de melhor ator.

“La estralla azul”, coprodução espanhola e argentina, com direção de Javier Macipe, venceu as categorias melhor direção estreante e ator revelação. Já a comédia dramática “Casa en llamas”, de Dani de la Orden, venceu o melhor argumento original.

“Segundo Premio”, de Isaki Lacuesta e Pol Rodríguez, conquistou três Goyas (realização, som e edição).

Aitana Sánchez-Gijón recebeu o Goya de Honra, distinção de honra da Academia de Cinema espanhola, pela sua carreira.