"Não podemos perder esse costume de rezar, pedir por todo o mundo, rezar pela paz", disse o cardeal, numa homilia de improviso na missa de encerramento da peregrinação de 12 e 13 de maio ao Santuário da Cova da Iria.

Deixando a homilia que tinha escrito para que os fiéis leiam na internet, questionou "quantos países estão em guerra? Quantas famílias estão em guerra?"

"Oremos pela paz no mundo", pediu Omella, perguntando "quantos países reclamam, necessitam, da paz?", referindo-se, nomeadamente, à Ucrânia, à Rússia, à Faixa de Gaza e territórios em África.

Depois, pediu aos católicos presentes no santuário que sejam missionários, sublinhando que "o Papa convida, no Sínodo, à evangelização".

Antes de terminar a homilia, com um apelo a que os fiéis não deixem de ler o texto que tinha preparado, "pois estava melhor" que o seu improviso, Omella exortou a que "a fé não desfaleça" e defendeu uma Igreja unida em torno do Papa, para que possa ser evangelizadora.

Já no texto original distribuído aos jornalistas, o cardeal espanhol alertava para os conflitos existentes no mundo que, citando Bento XVI, fazem com que a humanidade esteja "acabrunhada por misérias e sofrimentos".

"O mundo arde em muitos lados", escreveu o prelado espanhol, sublinhando que o Papa Francisco "não se cansa de dizer" que o mundo está "a viver uma terceira guerra mundial aos pedaços".

Para o cardeal Omella, que vê os homens com o "coração ferido", que por vezes "sucumbe à tentação e ao pecado que provocam a divisão no seio das famílias e ambientes sociais", surge a pergunta: "que podemos fazer diante deste mundo que caminha perdido?".

"Que podemos fazer para pôr fim às guerras na Ucrânia, na Terra Santa e em tantos outros lugares de África e do mundo? Que podemos fazer para que as pessoas recuperem a alegria e a esperança? Como podemos vencer esta indiferença que, com tanta facilidade (...) nos faz viver continuamente centrados em nós mesmos?", questionava o arcebispo de Barcelona.

Juan José Omella recordava ainda o ambiente vivido em 1917, na altura das aparições, em plena I Guerra Mundial, para fazer o paralelismo com a atualidade.

"Hoje, desgraçadamente, também temos muitas guerras por todo o mundo, que nos inquietam. Os portugueses sabem bem que esse tempo não foi fácil para vós nem para os países europeus. Além disso, no vosso país estes conflitos coincidiram com uma triste perseguição religiosa contra os católicos", escreveu o cardeal espanhol, reconhecendo que, "diante dessa situação dramática, muitos perderam a esperança".

No entanto, "houve um 'pequeno resto fiel' que confiou plenamente em Deus e nas suas promessas".

Segundo Omella, "foram pessoas que, com profunda fé e insistência, iniciaram uma cruzada de oração do Rosário. Pediam à Virgem que voltassem os seus filhos da guerra, e pediam-lhe que salvasse Portugal. Confiaram na maior intercessora".

Neste ponto, deixava o desafio aos fiéis, que hoje tiveram de suportar alguma chuva no Santuário de Fátima, a integrarem a "humilde família que reza e se oferece pela salvação da humanidade".

"Diante deste mundo onde a paz se vê ameaçada, onde se perde a esperança", o arcebispo recordava a mensagem deixada pela Virgem aos pastorinhos de Fátima, e que considera um "precioso programa" consubstanciado na "conversão, reconciliação, renovação da vida cristã, reforma dos costumes, oração e sacrifício pela conversão dos pecadores e pela reparação dos próprios pecados".

Também na Oração dos Fiéis, a situação na Ucrânia e na Faixa de Gaza foi evocada, com um pedido pela paz e para que os responsáveis políticos sejam guiados "na construção de um mundo novo".

Foi ainda feita uma prece pelos cristãos "que são discriminados ou perseguidos por causa de Jesus", para que "possam permanecer firmes como testemunhas".

Na noite de domingo, nas cerimónias de abertura da peregrinação, exortara os católicos a não terem medo de recorrer à Virgem Maria, entregando-lhe todos os pedidos e orações.

Perante cerca de 250 mil peregrinos -- número divulgado pelo Santuário de Fátima --, entre os quais o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o cardeal espanhol aconselhou os fiéis a, perante a Virgem, pedirem "pela paz do mundo e pela conversão dos pecadores".

Para esta peregrinação, o santuário recebeu a informação da presença de 186 grupos de peregrinos, 92 dos quais portugueses, estando ainda registados fiéis de 32 países estrangeiros.

A peregrinação que hoje termina, além de assinalar os 107 anos da primeira aparição de Nossa Senhora aos três Pastorinhos, em 1917, evoca, também, o sétimo aniversário da canonização de Francisco e Jacinta Marto, que em 13 de maio de 2017 se tornaram os mais jovens santos não mártires da Igreja.

Neste âmbito, para hoje, às 18:00, está previsto um "momento de veneração dos dois santos", na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima.

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