O Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, pediu esta quinta-feira nas Nações Unidas o fim do “genocídio” em Gaza e do envio de armamento para Israel. Durante o discurso advogou que Israel não “merece” ser membro da ONU por não respeitar as resoluções daquela organização.

“Parem o genocídio. Parem de enviar armas para Israel. (…) Parem de matar crianças e mulheres”, instou Abbas perante a Assembleia-Geral da ONU, quase um ano após o início da campanha militar israelita na Faixa de Gaza. “Esta loucura tem de parar. O mundo inteiro é responsável pelo que a nossa população está a sofrer em Gaza e na Cisjordânia”, acusou ainda.

O líder palestiniano, que foi recebido com aplausos da maioria dos presentes na Assembleia, atacou Israel durante o seu discurso, acusando mais uma vez Telavive de “ocupação” e “genocídio” nos territórios palestinianos.

A reação de Israel foi rápida, através do seu novo embaixador nas Nações Unidas. “Abbas falou durante 26 minutos sem pronunciar uma só vez a palavra 'Hamas'. Desde o massacre de 7 de outubro, Abbas não condenou o Hamas pelos seus crimes contra a humanidade”, atacou Danny Danon num comunicado. O diplomata israelita acusou a Autoridade Palestiniana, sob o comando de Abbas, de “pagar os salários dos terroristas que matam israelitas”.

O apelo de Autoridade Palestiniana surge no mesmo dia em que Israel anunciou novo pacote de ajuda militar norte-americana. O Ministério da Defesa israelita anunciou um novo pacote de ajuda norte-americano, no valor de 8,7 mil milhões de dólares (7,7 mil milhões de euros) “em apoio do esforço militar contínuo de Israel”.

As negociações entre Israel e os Estados Unidos foram concluídas em Washington e dizem respeito à libertação de 3,5 mil milhões de dólares (3,1 mil milhões de euros) para a compra de materiais e equipamentos de guerra, e 5,2 mil milhões de dólares (4,6 mil milhões de euros) destinados a sistemas de defesa antiaérea, incluindo a Cúpula de Ferro, de acordo com um comunicado do Ministério da Defesa.

Estados Unidos insistem em proposta de uma trégua no Líbano, enquanto ministros israelitas e Netanyahu rejeitam completamente a possibilidade

O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, insistiu que a proposta de uma trégua de 21 dias na fronteira israelo-libanesa é a única forma de “encontrar uma solução diplomática” para o conflito entre Israel e o Hezbollah. Uma solução diplomática seria também “a melhor forma” de garantir que os libaneses e israelitas que tiveram de abandonar as suas casas perto da fronteira possam regressar.

O secretário de Estado sublinhou que a diplomacia apelou ainda a Israel para não cair na "armadilha" do Irão, aliado do Hezbollah no Líbano e do Hamas na Faixa de Gaza. O Governo iraniano está a tentar "mergulhar Israel em várias guerras de desgaste, seja no norte do Líbano, em Gaza ou noutros locais da região", disse em entrevista à estação televisiva MSNBC a partir de Nova Iorque, onde participa na 79.ª Assembleia-Geral da ONU.

O gabinete do primeiro-ministro israelita negou hoje relatos de que poderia aceitar a proposta de cessar-fogo e disse que os combates vão continuar. O gabinete de Netanyahu disse que o primeiro-ministro “deu instruções às Forças Armadas para continuarem os combates com toda a força e de acordo com os planos apresentados” e reiterou que “os combates em Gaza continuarão até que todos os objetivos da guerra sejam alcançados”.

Vários ministros israelitas recusaram também a proposta de cessar-fogo. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Israel Katz, garantiu que continuarão “a lutar contra o grupo terrorista Hezbollah com toda a força até à vitória e ao regresso dos habitantes do norte às suas casas em segurança". Enquanto o ministro de extrema-direita israelita Itamar Ben Gvir ameaçou boicotar o trabalho do Governo se Israel aceitar um cessar-fogo temporário.

Por outro lado, o primeiro-ministro libanês, Nagib Mikati, desmentiu ter assinado um acordo de cessar-fogo para o Líbano depois de se ter reunido com o chefe da diplomacia norte-americana, Antony Blinken, com quem discutiu a proposta de uma trégua, noticiou a imprensa libanesa. O gabinete do primeiro-ministro libanês acrescentou que Mikati apenas acolheu imediatamente a iniciativa conjunta dos Estados Unidos e da França sobre uma proposta de cessar-fogo.

OUTRAS NOTÍCIAS QUE MARCARAM O DIA:

⇒ O Hezbollah declarou ter disparado 80 'rockets' sobre a cidade de Safed, no norte de Israel, em retaliação aos ataques israelitas ao Líbano. O grupo pró-iraniano reivindicou também o lançamento de rajadas de projéteis e de 'drones' contra várias povoações e alvos militares no norte de Israel.

⇒ Israel efetuou esta quinta-feira um total de 115 ataques aéreos no Líbano, provocando pelo menos 60 mortos no sul e leste do país, mas também num bairro de Beirute, segundo o Ministério da Saúde Pública libanês.

⇒ O Governo da Síria comprometeu-se a tomar as medidas necessárias para acolher e assistir todas as pessoas que atravessam a fronteira sírio-libanesa para fugir aos ataques de Israel, noticiou a agência síria Sana. Fontes da segurança síria disseram que mais de 22.000 pessoas, maioritariamente sírios, entraram na Síria desde segunda-feira. Por sua vez, o Governo libanês avançou hoje que mais de 31 mil pessoas atravessaram a fronteira sírio-libanesa nos últimos dois dias.

⇒ O exército israelita reivindicou a morte do chefe da unidade de 'drones' do Hezbollah, Mohammed Srour, num ataque em Beirute que as autoridades libanesas disseram ter provocado dois mortos e 15 feridos. Uma fonte próxima do grupo libanês tinha afirmado anteriormente que o comandante do Hezbollah tinha sido alvo de um ataque israelita, sem especificar se estava entre as vítimas.

⇒ Pelo menos 23 cidadãos sírios residentes no Líbano foram mortos na sequência de um ataque aéreo israelita que também fez oito feridos na quarta-feira, noticiou a agência noticiosa estatal libanesa. O ataque ocorreu perto da antiga cidade de Baalbek, no Vale de Bekaa, no leste do país, ao longo da fronteira com a Síria.

⇒ O Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança disse, em nome dos 27 Estado-membros, estar “extremamente preocupado” com as tensões militares entre Israel e o Hezbollah no Líbano, alertando que uma nova escalada “teria consequências dramáticas” na região. “Lamentamos o pesado preço pago pelos civis, incluindo crianças e pessoal das Nações Unidas e apelamos ao respeito do Direito Internacional Humanitário em todas as circunstâncias”, afirma Josep Borrell.

⇒ O comandante da Força Aérea israelita disse que as suas unidades estão a preparar-se para apoiar uma operação terrestre no Líbano, com vista a degradar o grupo xiita Hezbollah e interromper o abastecimento de armas do Irão.

⇒ Mais de 1.200 pessoas morreram e quase 5.800 ficaram feridas no Líbano desde o início dos confrontos entre Israel e o Hezbollah, em 8 de outubro de 2023, divulgou o Governo libanês. “Quanto aos deslocados, 52.900 pessoas estão agora alojadas em 360 abrigos, a maioria em instituições de ensino e escolas públicas”, disse Nasser Yassin, ministro do Ambiente libanês e coordenador do plano de emergência do Governo para lidar com o desastre.

⇒ O Exército israelita anunciou ter atacado na noite de quarta-feira 75 alvos militares do movimento Hezbollah no sul do Líbano e na região de Bekaa, no leste, “incluindo depósitos de munições, lançadores prontos a disparar (contra o território israelita), edifícios militares, terroristas e infraestruturas terroristas”, indicaram os militares de Israel em comunicado.

⇒ O Qatar, um dos mediadores da proposta de cessar-fogo em Gaza, disse desconhecer uma ligação direta entre as negociações para uma trégua na Faixa de Gaza e os esforços internacionais para um cessar-fogo entre Israel e o Hezbollah no Líbano. É “demasiado cedo” para falar de um “caminho de mediação formal” nas conversações entre Israel e o Hezbollah, afirmou disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Qatar, Majed al-Ansari, durante uma conferência de imprensa em Doha. Sublinhou ainda que “todos os canais de comunicação permanecem abertos” e que continuarão os esforços para atingir tréguas em Gaza.