O fundador e líder do partido centrista Movimento Democrático (MoDem), François Bayrou, foi “encarregado” pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, de “formar Governo”, de acordo com um comunicado do Eliseu divulgado esta sexta-feira.

Trata-se do sexto primeiro-ministro da presidência de Macron, o quarto só este ano, algo que nunca aconteceu na V República.

A nomeação de Bayrou segue-se à moção de censura e à demissão do primeiro-ministro conservador Michel Barnier a 4 de dezembro.

Apesar de ser um dos nomes mais falados desde a queda do curto Governo de Barnier, Bayrou foi recebido esta manhã no Palácio do Eliseu para, segundo a imprensa francesa, ser informado de que não seria nomeado primeiro-ministro.

Numa reunião descrita como “tensa” e que durou 1h45, Macron terá proposto ao antigo ministro e líder do MoDem que fosse “número dois” de um Governo liderado por Roland Lescure, deputado do partido macronista Renascimento e vice-presidente da Assembleia Nacional.

Ainda de acordo com os relatos da imprensa francesa, o presidente do MoDem recusou a proposta de Macron e sugeriu o nome de Bernard Cazeneuve para primeiro-ministro, que assumiu o cargo entre dezembro de 2016 e maio de 2017 sob a presidência de François Hollande. O chefe de Estado terá chumbado a sugestão.

A grande dúvida é quanto tempo Bayrou irá aguentar-se no cargo. Mathilde Panot, deputada do partido de esquerda radical A França Insubmissa (LFI), já sinalizou na rede social X que o seu partido irá apresentar uma moção de censura ao novo Governo.

Para a deputada, o país tem duas escolhas claras: a continuidade das políticas de infortúnio com François Bayrou ou a rutura. Também aos deputados se oferecem duas escolhas: o apoio ao resgate de Macron ou a censura. Nós fizemos a nossa, remata.

Recorde-se que o Executivo de Barnier não resistiu a uma moção de censura apresentada pela Nova Frente Popular (NFP, plataforma de esquerda) e apoiada pelo Reagrupamento Nacional (RN, de extrema-direita).

A crise política em França começou em junho, na noite eleitoral das eleições europeias, quando Macron decidiu convocar legislativas antecipadas após o “crescimento dos nacionalistas”, isto é, do RN, de Marine Le Pen e Jordan Bardella. Mas os resultados não deram a clareza que o chefe de Estado pretendia: a Assembleia Nacional ficou dividida em três blocos, nenhum com maioria. O bloco vencedor foi a NFP (união de socialistas, comunistas, ecologistas e LFI), seguido da coligação presidencial Juntos pela República (centro liberal) e do RN. Contudo, o partido de extrema-direita, isolado, é o mais representado no Parlamento.

Desta vez, contudo, Bardella assegura que “não haverá censura a priori” por parte do RN, adiantando que o partido teria censurado de imediato “uma personalidade vinda da esquerda e da extrema-esquerda” e que já tinha indicado que estariam “dispostos a não censurar à partida uma personalidade ou um perfil vindo da direita e do centro”.

Marine Le Pen, a líder de facto do RN, apela a Bayrou que faça “o que o seu antecessor não quis fazer: ouvir as oposições para elaborar um orçamento razoável e ponderado”. E alerta que “qualquer outra política que não seja mais do que uma extensão do macronismo, duas vezes rejeitado pelas urnas, só pode levar ao impasse e ao fracasso”.

Ministro da Educação nos governos de Édouard Balladur e de Allain Juppé, entre 1993 e 1997, e ministro da Justiça de Édouard Philippe durante apenas um mês em 2017, já com Macron no Eliseu, Bayrou foi eleito presidente da Câmara de Pau, nos Pirenéus Atlânticos, em 2014 e reeleito em 2020.

Foi ainda deputado da Assembleia Nacional durante uma década, entre 2002 e 2012, depois de ter sido eurodeputado.