Abrir um restaurante em homenagem a uma governante de um país estrangeiro já parece uma escolha um tanto ou quanto inusitada. Neste caso, a localização do estabelecimento também pode causar alguma estupefação. Na Albânia, a poucos metros de um centro de acolhimento destinado a receber migrantes detidos em águas italianas foi inaugurada a "Trattoria Meloni", um restaurante que tem a primeira-ministra de Itália como tema central.

Empreendedor de 58 anos e filho de um ator famoso na Albânia, Gjergj Luca decidiu usar a figura de Giorgia Meloni como inspiração para o seu restaurante em Shengjin. Luca, apoiante da extrema-direita, foi seduzido pela imagem da primeira-ministra italiana, que considera "extraordinária".

Nas paredes da "Trattoria Meloni" há dezenas de retratos da líder do partido Fratelli d'Italia: há imagens de Meloni a sorrir, de Meloni zangada, de Meloni séria e até de Meloni nas diferentes fases da vida, da infância até à vida adulta. Todos os quadros foram pintados por um conhecido artista albanês, Heliton Haliti.

"Quando a gastronomia, a arte e a política se juntam, podemos fazer coisas lindas", garantiu Luca, com um sorriso, à AFP.

A novembro de 2023, Giorgia Meloni e o seu homólogo albanês, Edi Rama, assinaram um controverso acordo para a abertura de dois centros de receção de migrantes na Albânia, um no porto de Shengjin e outro a cerca de vinte quilómetros de distância, em Gjader, que deverá começar a funcionar nas próximos semanas. O acordo entre os dois países foi fortemente criticado pela oposição italiana e por várias Organizações Não Governamentais (ONG's).

O restaurante ainda não estava aberto quando a primeira-ministra italiana visitou o centro de migrantes de Shengjin, no início de junho. Todavia, Luca espera que Meloni volte para provar alguns pratos e admirar os retratos.

De acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM), pelo menos 384 migrantes morreram durante o primeiro trimestre de 2024 quando tentavam atravessar o Mediterrâneo em direção a Itália e Malta.

Segundo o Ministério da Administração Interna italiano, 157.652 pessoas desembarcaram nas costas italianas no ano passado, em comparação com 105.131 em 2022. A mesma fonte informou que 18.593 pessoas chegaram a Itália entre 1 de janeiro e 17 de maio, em comparação com 45.507 durante o mesmo período em 2023.

Que centros de migrantes são estes?

O acordo entre Albânia e Itália, firmado em Roma a 6 de novembro passado, prevê a criação de "duas instalações para a entrada e o acolhimento temporário de imigrantes resgatados no mar, que poderão acolher até três mil pessoas, entre 36 e 39 mil num ano, para concluir rapidamente os procedimentos de tratamento dos pedidos de asilo ou de um eventual repatriamento".

Os centros, embora fisicamente na Albânia, estão sob jurisdição italiana. De acordo com o protocolo, o direito de defesa é assegurado através do acesso às instalações de advogados e auxiliares, organizações internacionais e agências da UE que prestam aconselhamento e assistência aos requerentes de proteção internacional, dentro dos limites da legislação italiana, europeia e albanesa.

Sabe-se, através de documentos publicados pelo governo libanês, que Itália pagará à Albânia "16,5 milhões de euros" para o primeiro ano de aplicação do protocolo, sendo que o mesmo tem uma duração de cinco anos.

Na altura, a assinatura do acordo causou alguma surpresa, uma vez que os dois principais intervenientes políticos - Edi Rama , primeiro-ministro da Albânia, e Giorgia Meloni, homóloga italiana - são de quadrantes políticos opostos. Meloni é chefe do governo italiano, formado pelos Irmãos de Itália, de Meloni; a Liga, de Matteo Salvini; e a Força Itália, enquanto Edi Rama lidera um executivo socialista. O acordo chegou a valer a Edi Rama críticas do principal partido da oposição em Itália, o Partido Democrático (PD), que reclamou a exclusão do primeiro-ministro albanês do Partido Socialista Europeu (PES).


Com AFP e LUSA