Kiev afirma que as suas forças se retiraram da cidade de Vugledar, um bastião defensivo no leste da Ucrânia, que resistiu aos repetidos ataques russos desde a invasão em grande escala, em 2022.

O comando militar em Kiev admitiu que as suas tropas partiram na noite de terça-feira, adianta o jornal “The Guardian”. As forças ucranianas recuaram para preservar o pessoal e o equipamento de combate, afirmou a chefia, acrescentando que as unidades de combate russas atacaram a partir de três direções e estiveram perto de “cercar” a cidade.

A queda de Vugledar constitui um novo impulso para o Kremlin, num momento em que as tropas russas avançam ao longo da região de Donetsk. Em fevereiro capturaram a cidade de Avdiivka, perto da capital regional de Donetsk.

Desde então, o avanço russo engoliu cidades e aldeias e chegou a cerca de 10 quilómetros da cidade de Pokrovsk, um centro logístico mais de 50 km a norte de Vugledar. Estes avanços fazem levantar a hipótese de que as tropas ucranianas tenham de vir a recuar de outros pontos urbanos sob pressão, incluindo Toretsk e Selydove.

Canais russos do Telegram publicaram vídeos de tropas triunfantes a agitar a bandeira tricolor russa no topo de edifícios destruídos em Vugledar. Num dos vídeos, quatro soldados que se encontram dentro de um edifício destruído, ecoam frases imperialistas: “Tudo será a Rússia. A vitória será nossa.” Uma foice e um martelo são também exibidos nas imagens, evocando o passado daquela cidade. Vugledar foi originalmente construída em torno de uma mina em meados da década de 1960, ainda na União Soviética. Antes da guerra, tinha uma população de cerca de 14.000 habitantes. Agora, é uma montra de ruínas, com prédios destruídos, cicatrizes dos ataques sofridos ao longo de mais de dois anos.

Os combates prolongados terão causado numerosas baixas de ambos os lados. Moscovo afirma ter eliminado um grande número de soldados ucranianos em fuga, mas o Instituto para o Estudo da Guerra assegura que essas estatísticas ainda não são conhecidas.

O quadro geral com que Kiev se confronta não é animador: as forças russas estão a avançar no leste da Ucrânia ao ritmo mais rápido dos últimos dois anos.

Com um certo défice de “boas” notícias, Volodymyr Zelensky resolveu anunciar que a Ucrânia pode produzir quatro milhões de drones anualmente e está a aumentar rapidamente a produção de outras armas. Perante representante de dezenas de fabricantes de armas estrangeiras, em Kiev, o Presidente ucraniano disse que a Ucrânia já tinha contratualizado a produção de 1,5 milhões de drones este ano. (A produção de drones era praticamente inexistente naquele país antes da invasão russa de fevereiro de 2022.)

“Em condições extremamente difíceis de guerra em grande escala, sob constantes ataques russos, os ucranianos foram capazes de construir uma indústria de defesa praticamente nova”, enalteceu o líder ucraniano, de acordo com a agência Reuters.

A Ucrânia triplicou a sua produção total de armas em 2023, e depois duplicou novamente esse volume apenas nos oito meses deste ano, avançou o primeiro-ministro, Denys Shmyhal, no mesmo encontro.

Outras notícias a destacar:

⇒ O Presidente russo, Vladimir Putin, promulgou duas leis que permitem suspender ações judiciais caso os acusados se alistem voluntariamente no Exército ou sejam mobilizados como reservistas. A primeira lei, aprovada há uma semana pelo parlamento (Duma), permite que os arguidos cujos processos se encontram num tribunal de primeira instância assinem contratos com as Forças Armadas. Uma segunda regra interrompe o processo penal e anula as medidas cautelares decretadas durante o cumprimento do dever militar do arguido.

⇒ A Rússia realizou nesta quarta-feira o primeiro teste do sistema nacional de alerta público em antecipação de uma possível autorização ocidental para a Ucrânia utilizar mísseis de longo alcance contra alvos em território russo. "O teste em grande escala dos sistemas de alerta público regionais e municipais foi realizado em todas as regiões federais da Rússia", afirmou o Ministério das Situações de Emergência nas redes sociais. Durante o teste, “foram ativadas sirenes e altifalantes, e foram transmitidas mensagens em canais de rádio e televisão”.

⇒ A Rússia afastou a possibilidade de negociações para o acordo nuclear com os Estados Unidos, citando a posição de Washington sobre a expansão da NATO. "Não vemos sentido no diálogo com Washington sem o respeito pelos interesses fundamentais da Rússia, este é o problema da expansão da NATO no espaço pós-soviético, que representa ameaças à segurança comum", disse a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova.