Intervindo no Fórum Económico Mundial de Davos, Suíça, o secretário-geral das Nações Unidas defendeu que "os governos devem manter a sua promessa de produzir novos planos de ação climática nacionais para toda a economia este ano, muito antes da COP30 no Brasil", que estejam alinhados com a limitação do aumento da temperatura global a 1,5 graus, e deixou o apelo a que todos os atores se mantenham "do lado certo da história".
"Chegou o momento de acelerar os nossos esforços coletivos e fazer de 2025 o maior ano de sempre para a ação climática", declarou Guterres, numa intervenção realizada menos de 48 horas depois da tomada de posse do novo Presidente norte-americano Donald Trump, que, entre as primeiras medidas tomadas no seu regresso à Casa Branca, anunciou que volta a retirar os Estados Unidos do Acordo climático de Paris.
Discursando em Davos, Guterres sustentou que, além da ameaça nuclear, o mundo enfrenta hoje "duas novas e profundas ameaças que exigem muito mais atenção e ação a nível global, porque ameaçam pôr em causa a vida tal como a conhecemos: a crise climática e a expansão descontrolada da Inteligência Artificial".
Relativamente ao que classificou como "o caos climático", insistiu que o "vício em combustíveis fósseis é um monstro de Frankenstein, que não poupa nada nem ninguém", havendo hoje "sinais claros de que o monstro se tornou mestre", como o demonstra o facto de 2024 ter sido o ano mais quente da história e, provavelmente, "o primeiro ano civil a ultrapassar 1,5 graus acima dos níveis pré-industriais".
Argumentando que "o facto de se ultrapassar este limite não significa que o objetivo a longo prazo de manter o aumento da temperatura global em 1,5 graus esteja comprometido", antes "lutar ainda mais para entrar no bom caminho", Guterres apontou que "a energia barata e abundante fornecida pelas energias renováveis é uma oportunidade económica extraordinária".
De acordo com o secretário-geral da ONU, esta é "uma oportunidade que beneficiará as pessoas em todos os países e que tornará inevitável o fim da era dos combustíveis fósseis, por mais que os interesses instalados tentem impedi-lo".
"Várias instituições financeiras e indústrias estão a recuar nos seus compromissos em matéria de clima. Aqui, em Davos, quero dizer alto e bom som: é uma atitude míope e, paradoxalmente, egoísta e também autodestrutiva. Estão do lado errado da história, do lado errado da ciência e do lado errado da sociedade", declarou então.
Insistindo que "o aquecimento global está a avançar rapidamente", pelo que o mundo não pode dar-se ao "luxo de recuar", António Guterres exortou então os governos a manterem-se comprometidos com as suas promessas, apelando também "a todas as empresas e instituições financeiras para que criem este ano planos de transição robustos e responsáveis".
O Fórum de Davos, que junta anualmente nesta estância suíça as elites política e económica, prolonga-se até sexta-feira, estando prevista para quinta-feira à tarde a participação, por videoconferência, do recém-empossado Presidente norte-americano, Donald Trump.
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