"Respondendo ao apelo histórico do futuro chanceler alemão [Friedrich Merz], decidi abrir o debate estratégico sobre a proteção dos nossos aliados no continente europeu pela nossa capacidade de dissuasão", declarou o Presidente francês num discurso transmitido pela televisão francesa.

A França é a única potência nuclear da União Europeia (UE) e o chefe de Estado francês afirmou recentemente estar pronto para um "diálogo estratégico" para que os países europeus deixem de estar dependentes da dissuasão norte-americana para fazer face às ameaças da Rússia, que continua a apostar no rearmamento, e proteger o continente europeu, que lida desde fevereiro de 2022 com a invasão russa na Ucrânia.

"A França tem um estatuto especial" na defesa europeia, disse Macron, garantindo que "aconteça o que acontecer, a decisão sempre esteve e continuará a estar nas mãos do Presidente da República, o chefe das forças armadas" francês no que respeita ao desarmamento nuclear.

No discurso, Macron referiu que irá reunir em Paris, na próxima semana, os chefes de Estado-Maior dos países dispostos a garantir a futura paz na Ucrânia.

"Perante este mundo de perigos, seria uma loucura permanecer espetador", acrescentou o chefe de Estado francês.

Para Macron, a paz na Ucrânia "implicará também, talvez, o envio de forças europeias", especificando que estas "não iriam combater hoje, não iriam combater na linha da frente, mas estariam lá, pelo contrário, assim que a paz fosse assinada, para garantir o seu pleno respeito".

"A ameaça russa está aí e afeta-nos", sem "conhecer fronteiras", afirmou Macron, num contexto de aproximação entre Moscovo e Washington, que suspendeu a ajuda militar a Kiev.

Segundo o chefe de Estado francês, "o caminho para a paz não pode passar pelo abandono da Ucrânia", defendendo que a paz "não pode ser construída a qualquer preço e sob o comando russo, e não pode ser a capitulação da Ucrânia".

Além disso, Macron anunciou "investimentos adicionais" na defesa europeia sem aumentar os impostos, um dia antes da cimeira extraordinária dos líderes da UE em Bruxelas, onde serão dados "passos decisivos" segundo Macron, reiterando que "serão tomadas várias decisões".

"Os Estados-Membros poderão aumentar as suas despesas militares sem que isso seja tido em conta no seu défice", acrescentou.

Referindo-se a "acontecimentos históricos em curso que estão a virar a ordem mundial de pernas para o ar", o Presidente francês falou da "situação internacional e das suas consequências" para a França e para a Europa.

"Os Estados Unidos, nosso aliado, mudaram a sua posição sobre esta guerra, apoiam menos a Ucrânia e estão a lançar dúvidas sobre o que vai acontecer a seguir", disse Macron, acrescentando que a Europa está "a entrar numa nova era", em que a segurança e a prosperidade são incertas.

No seu discurso, Emmanuel Macron disse que espera ainda "convencer" o Presidente dos Estados Unidos a abandonar os direitos aduaneiros sobre os produtos europeus importados, já que Donald Trump quer impor sobretaxas de 25% de taxas alfandegárias, o que, para o Presidente francês, é "incompreensível".

 

MYCO // ACC

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