Begoña Gómez já tinha sido chamada duas vezes, em julho, pelo juiz que tem a instrução do caso em que está envolvida, mas nas duas ocasiões anteriores invocou o direito ao silêncio para não falar.
Hoje, porém, prestou declarações, mas respondeu apenas ao seu advogado de defesa, Antonio Camacho.
"A minha cliente falou, que é aquilo que queria fazer desde o início do processo, porque não tem nada a esconder", disse o advogado aos jornalistas, no final da audição de Begoña Gómez.
O advogado garantiu que a mulher do líder do Governo de Espanha, o socialista Pedro Sánchez, só prestou declarações hoje porque até agora havia incerteza sobre o objeto da investigação judicial.
Begoña Gómez esclareceu todas as dúvidas levantadas pelas queixas de que é alvo e atuou sempre "de maneira correta", acrescentou Antonio Camacho.
Segundo fontes judiciais citadas por diversos meios de comunicação social espanhóis, Begoña Gómez negou hoje perante o juiz qualquer irregularidade na sua atividade dentro da Universidade Complutense ou ter sido intermediária na atribuição de apoios públicos ao empresário Juan Carlos Barrabés, as duas questões que estão a ser investigadas pela justiça espanhola.
Begoña Gómez, de 49 anos, está a ser investigada desde abril por corrupção e tráfico de influências, na sequência de queixas apresentadas por duas associações reputadas como próximas da extrema-direita: Manos limpias (Mãos limpas) e Hazte oír (Faz-te ouvir).
A mulher de Sánchez é suspeita de ter utilizado a posição do marido no âmbito das suas relações profissionais, nomeadamente com o empresário Juan Carlos Barrabés, de "apropriação ilícita" de 'software' criado para a universidade onde trabalhava e de "exercício ilegal" de uma profissão.
O juiz que tutela a instrução decidiu avançar com a investigação judicial apesar de dois relatórios da Guarda Civil (que tem a tutela da investigação judiciária em Espanha) terem concluído a inexistência de infrações e apesar de um pedido do Ministério Público para o arquivamento do caso.
Begoña Gómez falou hoje pela primeira vez perante o juiz, mas em 13 de novembro passado fez as primeiras declarações públicas sobre a investigação, numa comissão do parlamento regional de Madrid, dirigida pela direita, que está a investigar um alegado "tratamento preferencial" de que terá beneficiado por parte da Universidade Complutense, onde foi codiretora de um mestrado.
Nesse dia, Begoña Gómez assegurou que as acusações de que é alvo têm "um objetivo político evidente".
"Tenho plena consciência de que tanto esta comissão como todas as acusações judiciais (...) têm um objetivo político evidente", afirmou na ocasião a mulher do socialista Pedro Sánchez, que também sempre defendeu que não havia nada a censurar-lhe.
"Mais cedo ou mais tarde, a verdade vai corrigir as coisas", acrescentou Begoña Gomez, no mesmo dia.
Quando a investigação foi aberta, em abril, Pedro Sánchez suspendeu as suas atividades durante cinco dias e afirmou que estava a pensar demitir-se, argumentando que as acusações eram uma manobra política para o desestabilizar.
Sánchez tem dito estar a ser alvo, com a família, de uma "máquina de lodo" da direita e da extrema-direita espanholas, que usam as redes sociais para difundir mentiras e desinformação que depois judicializam com queixas no Ministério Público e nos tribunais.
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