
O REPMUS (Robotic Experimentation and Prototyping with Maritime Unmanned Systems) vai já na sua 14ª edição e é considerado o maior evento mundial de experimentação com sistemas não tripulados no domínio marítimo.
Organizado anualmente pela Marinha Portuguesa em colaboração com a NATO, a União Europeia e instituições académicas de renome, como a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), o exercício foca-se na experimentação de sistemas autónomos com aplicações tanto no contexto militar como civil. Esta iniciativa fortalece o papel de Portugal como um ator central no palco da inovação tecnológica global.
Realizado nos espaços da Zona Livre Tecnológica (ZLT) Infante D. Henrique, que abrange mais de 1000 milhas quadradas da Baia de Setúbal, com dois centros de comando e controlo, um na península de Tróia e outro em Sesimbra, o exercício deste ano envolve a participação de 30 países e de mais de 150 instituições, indústrias e universidades. Em 2024, o exercício contou com 16 navios, incluindo submarinos, e mais de uma centena de veículos não tripulados que operam nos domínios submarino, aéreo, terrestre e de superfície.
Este evento coloca Portugal na vanguarda da tecnologia de defesa, com mais de 700 testes realizados durante o exercício. A Marinha Portuguesa destaca-se ao testar tecnologias de ponta para a proteção de infraestruturas submarinas e a deteção e neutralização de ameaças submarinas. Universidades como o Instituto Superior Técnico e a FEUP desempenham um papel fundamental, desenvolvendo projetos de investigação que geram valor tanto para o setor militar como para o tecido empresarial.
Impacto Tecnológico e Económico
Para além de um retorno económico significativo para as regiões onde o exercício é realizado, o REPMUS tem um impacto tecnológico profundo. O exercício permite que novas tecnologias sejam testadas em condições reais, acelerando o desenvolvimento de inovações disruptivas no campo da inteligência artificial (IA), robótica, e veículos autónomos. Um exemplo notável é o projeto da ilha artificial do CEOM (Centro de Experimentação Operacional da Marinha), que testa sistemas de sensorização marítima, produção de energia e armazenamento de dados.
Um outro projecto de referência é o projeto Trator do Mar que visa o desenvolvimento, construção, experimentação e emprego operacional de uma plataforma não tripulada de superfície marítima, multipropósito, modular, multiplicador de força, de capacidade offshore e elevado endurance, que efetue primariamente a proteção de infraestruturas criticas, operação de um sensor acústico multiestático para deteção submarina, com possibilidade de integração de outros sensores e tarefas de recolha de informação com valor operacional de defesa.
A ZLT Infante D. Henrique, a primeira ZLT nacional, desempenha também um papel crucial ao proporcionar um laboratório real, com um ambiente regulatório bastante flexível e que estimula a inovação e a colaboração entre a academia e a indústria. Isto resulta numa transferência em tempo real e mais eficiente de tecnologia para o mercado, abrindo portas a novas oportunidades económicas e de desenvolvimento.
Interoperabilidade e Cooperação Internacional
Uma das grandes mais-valias do REPMUS é a sua capacidade de testar a interoperabilidade entre forças armadas aliadas da NATO e da União Europeia. O exercício foca-se no avanço de conceitos disruptivos, como o Comando e Controlo Multidomínio (C2) e a guerra submarina, essenciais para a proteção de infraestruturas críticas, como os cabos submarinos, vitais para as comunicações globais.
Durante o exercício foram realizados testes desde a deteção de minas submarinas à neutralização de submarinos inimigos. Estas tecnologias têm o potencial de transformar a forma como as operações militares são conduzidas, aumentando a segurança marítima e a resiliência das infraestruturas estratégicas. E neste campo, a Marinha Portuguesa posicionou-se como referência a nível mundial.
O Futuro da Defesa Portuguesa
O REPMUS demonstra que o investimento na indústria de defesa é crucial para o futuro de Portugal. A aposta em tecnologias autónomas, inteligência artificial e sistemas de defesa avançados não só fortalece a capacidade de defesa do país, como também cria oportunidades económicas significativas. Ao promover parcerias entre as Forças Armadas, a academia e a indústria, Portugal posiciona-se como um líder na inovação militar, com impacto direto na sua soberania e na sua economia. Tendo em conta a dimensão da Zona Económica Exclusiva de Portugal, e a plataforma continental Portuguesa, estas tecnologias serão, sem dúvida, a próxima geração de equipamentos de monitorização e controlo destas áreas.
O REPMUS posiciona-se como uma das plataformas mais importantes de experimentação militar e tecnológica na Europa. A sua capacidade de atrair a atenção de empresas internacionais, governos e instituições académicas é uma prova do seu sucesso, e realça a necessidade da continuidade do investimento público e privado, bem como da capacidade de adaptação às rápidas mudanças tecnológicas.
Portugal tem uma oportunidade única de se tornar um líder no desenvolvimento de tecnologias militares e de segurança, especialmente no domínio marítimo. No entanto, é crucial que as políticas públicas continuem a fomentar um ecossistema de inovação que envolva tanto o setor militar como o civil, garantindo que os benefícios da inovação tecnológica se estendam a toda a sociedade.
O REPMUS vai além de um simples exercício militar. É uma plataforma de inovação com impacto direto na segurança global, na projeção internacional de Portugal e no desenvolvimento económico e tecnológico do país. Para além de fortalecer as capacidades da Marinha Portuguesa, o exercício abre novas portas para a indústria nacional, criando um futuro mais seguro e próspero.