A bordo de um tradicional elétrico de Lisboa, no percurso entre Alcântara  Belém, descobriu-se quanto vale a inovação. Uma dúzia de startups levaram as suas ideias a potenciais investidores de capital de risco num palco em movimento e Ana Teresa Maia, cofundadora e CEO da expressTEC, trouxe para casa 5 mil euros para ajudar a desenvolver a ideia vencedora: o primeiro teste baseado em RNA para avaliar a elegibilidade para tratamentos direcionados de cancro.

"A dura realidade é que quase metade dos doentes oncológicos não tem resultados no primeiro tratamento a que é submetido, resultando no devastador número de perto de 10 milhões de mortes todos os anos. É trágico e é evitável." Foi assim que Ana Teresa Maia agarrou quem assistia aos seu pitch logo à chegada. E após esta introdução, apresentar uma solução que cumpre a vontade de "salvar vidas" foi a cereja em cima do bolo que lhe permitiu ser a incontestada vencedora desta edição do Elétrico Pitch.

Fundada por duas cientistas visionárias que apostaram em transformar o tratamento do cancro, a expressTEC é uma startup pioneira de biotecnologia da Universidade do Algarve, que usa a análise de RNA para fornecer uma visão abrangente do perfil genético de cada paciente. "Isto permite que os profissionais de saúde tomem decisões de tratamento informadas e personalizadas", explicam as fundadoras, Ana Teresa e Joana Xavier, na sua apresentação. O principal produto da startup, que convenceu e impressionou o júri, é o expressPIK, que "identifica com precisão as mutações mais comuns encontradas nos tumores da mama".

Mesmo com a aprovação do regulador para ser confirmado como meio de diagnóstico a três anos de distância, conforme notaram os investidores, o kit convenceu pelo seu potencial transformador. De acordo com a apresentação feita, implicará um custo de produção e distribuição individual de 500 euros, com a expressTek a prever praticar um preço a rondar os mil, de forma a cobrir os custos de pesquisa e desenvolvimento, atingindo o break even após dois anos no mercado. A venda arrancará já em 2025, a um preço reduzido (pela falta de aprovação referida) e unicamente disponível para investigadores.

Já distinguidas noutras competições a nível europeu e com processos de patente pendentes para esta solução, que apresentam como "o futuro do tratamento do cancro", com este prémio, Ana Teresa Maia e Joana Xavier poderão levar a startup ao próximo nível. A bordo do Elétrico, a ideia das duas cientistas empreendedoras foi recebida com enorme entusiasmo, pelo poder transformador que encerra no combate ao cancro, por um painel de investidores que juntou MEO, N1 Investment Fund, Plug and Play Ventures, Santander, Techstars, Ultra.VC e Vinthera.

"Estes parceiros de investimento participaram ativamente, oferecendo feedback valioso e identificando oportunidades de colaboração com as startups participantes", adianta o representante da iniciativa, João Baptista, da 351 - Associação Portuguesa de Startups, elogiando a diversidade e qualidade dos projetos apresentados como bons exemplos do dinamismo e inovação do ecossistema tecnológico em Portugal.

Ao lado da expressTEC, que "impressionou o painel de investidores com a sua proposta inovadora e conquistou o prémio", foram ainda expostas, no domingo, outras duas startups que chegaram ao pódio: "pela qualidade da solução proposta", a pH7, plataforma que reúne uma comunidade de profissionais médicos e pacientes que advogam tratamentos com canábis medicinal e os entrega em casa em uma hora; e "pela originalidade", o Manie, sediado na Fábrica de Unicórnios e que pretende transformar a forma como os consumidores interagem com o mercado energético usando uma plataforma que analisa faturas individuais em simultâneo com o que oferece o mercado para ajuda a escolher a melhor oferta. Finalistas neste Elétrico Pitch foram ainda a Lampsy Health, a Neroes, a build.ing, a Vocaire, a CodePlatform, a Anna Health, a Awtra, a DeepRent e a Granter.ai.

"A Portugal Tech Week é uma plataforma que visa conectar pessoas e ideias e o Elétrico Pitch é um exemplo perfeito de como uma ideia criativa pode transformar uma experiência de pitch em algo memorável e acessível", considera João Baptista, representante da Portugal Tech Week, em que se inseriu o Elétrico Pitch. "O apoio do MEO foi fundamental para que o evento chegasse a ainda mais pessoas e estamos entusiasmados com o impacto que ele pode gerar para o ecossistema."

Conceito inspirado no tradicional Elevator Pitch, o Elétrico Pitch foi adaptado de forma a refletir a identidade portuguesa, utilizando o icónico elétrico amarelo de Lisboa, uma ideia que a Carris acolheu com entusiasmo, juntando-se à iniciativa da Portugal Tech Week. Novidade neste ano é que, "graças ao apoio do MEO, conseguimos descentralizar ainda mais as nossas atividades, levando o Elétrico Pitch a todo o território nacional e parceiros internacionais, utilizando transmissões em live stream com tecnologia 5G mais confiável", revela João Baptista. No âmbito dos Tech Days e em parceria com a CM de Viana do Castelo e o ecossistema local, o Elétrico Pitch será replicado no Elevador de Santa Luzia em Viana do Castelo, expandindo o alcance do evento e promovendo a inovação tecnológica em diferentes regiões de Portugal.