O resultado era, após uma derrota e um empate, o mais importante. E, neste quesito, o FC Porto cumpriu e venceu o Hoffenheim. Pelo novo formato da Europa League e pela importância dos dragões terminarem a fase de liga no top-8, evitando dois jogos e o risco de cair de forma precoce, ainda mais importante era conquistar os três pontos diante dos alemães.

Na conta de Vítor Bruno, há dois pratos fortes que explicam a vitória. O primeiro, e principal mérito do FC Porto numa primeira parte muito instável, a qualidade na bola parada ofensiva. Foram vários os lances claramente estudados que permitiram aos dragões chegar com qualidade à área adversária. Num destes, Tiago Djaló, goleador improvável nos dragões, voltou a fazer o gosto ao pé.

O segundo mérito chama-se Samu Aghehowa. Não foi o jogo mais inspirado do avançado do FC Porto, longe disso, mas num lance mostrou todos os atributos que tem no seu jogo. Ganhou o duelo com o defesa pela agressividade que colocou no lance, disparou em direção à baliza e, mesmo com as atrapalhações técnicas que resistem – e que, sendo limadas, desvendam um futuro (ainda mais) promissor – e lá arranjou espaço para rematar. Absolutamente demonstrador o lance do golo da tranquilidade.

A segunda parte do FC Porto já havia sido mais serena, mas o segundo golo foi um suspiro coletivo de alívio dos dragões dentro de campo. O Tribunal do Dragão está exigente e as exibições recentes aumentaram uma exigência que, dentro de campo, se faz sentir na ansiedade de gerir uma vantagem mínima que já provou ser efémera. A exibição repleta de turbulências da primeira parte resgatou traumas recentes e voltou a deixar questões no ar. Tal como no início da época, ganhar é fundamental para conseguir trabalhá-las e ganhar tempo, fundamental numa época tão longa.

Pressão

Vítor Bruno quis ser agressivo na pressão e os jogadores do FC Porto, mal perdiam a bola no meio-campo contrário, procuravam rapidamente recuperá-la aproximando-se do portador da bola e cortando as linhas de passe próximas. Nas poucas vezes que resultou, os dragões viram-se novamente em situação privilegiada para ferir o adversário. Quando tal não aconteceu, o FC Porto sofreu.

O Hoffenheim é uma equipa com mais atributos ofensivos que defensivos e, como Vítor Bruno explicou no final do jogo, com capacidade para colocar os jogadores fora das zonas de pressão para permitir saídas destas zonas de perigo. Com os avançados a variar movimentos e Tom Bischof a oferecer qualidade na definição em zonas mais recuadas, os alemães conseguiram várias vezes colocar a bola no lado contrário, longe da confusão, e com os jogadores a poderem respirar e ver o jogo de frente.

Resolver este momento é um passo importante para o FC Porto se conseguir definir. Importa não ficar num meio-termo entre a vontade de morder os calcanhares aos defesas e a necessidade de respirar e ter algum conforto com linhas mais baixas. Conjugar os dois é mais complicado porque a manta, curta de qualquer maneira, fica destapada entrelinhas, o espaço mais perigoso do campo de futebol.

Tempo de ataque

As peças escolhidas pelo FC Porto já deixam antever uma procura constante de vertigem ofensiva. Não é de esperar que jogadores como Wenderson Galeno, Pepê e Samu Aghehowa abrandem na procura de chegar à baliza e mesmo criativos como Iván Jaime ou Fábio Vieira procuram mais vezes o risco que a segurança.

Por esta razão, Nico González é o jogador mais importante dos primeiros meses de Vítor Bruno. Começou com maior impacto junto da área do adversário, ligando setores e aproximando os dragões da baliza, mas é, nesta altura da época, um gestor de ritmos e dos tempos. Procura constantemente a melhor opção, não se inibe de ficar com a bola na sua posse, deambulando de um lado para o outro e acrescenta no passe e em condução.

Ainda assim, e por muito eficaz que o espanhol seja, o FC Porto ressente-se desta procura tão rápida e vertiginosa da baliza adversária. Reduzir o tempo com bola nos pés é, por si só, aumentar o tempo da bola no adversário, uma situação em que o FC Porto continua sem conseguir estar confortável. Daí os pontos de interrogação sobre as opções ofensivas de Vítor Bruno mais confortáveis em esticar do que em segurar a corda e esperar pelo momento certo para ameaçar.

Gestão das vantagens

Entre o lado mental e a balança desequilibrada entre a alegria pela vantagem – por mais mínima que seja – e a ansiedade de a manter em todo o custo, o FC Porto tem trilhado o caminho desta época. Nos últimos jogos, tem sido clara, evidente e assumida por Vítor Bruno a diminuição da altura das linhas.

Justificada pela postura não refletida – e perfeitamente compreensível – dos jogadores, a verdade é que há também capacidade de atuar sobre esta, através de ajustes dentro de campo ou fora deste, lançando peças novas para o tabuleiro. A verdade é que os dragões acabam por se colocar nesta situação de uma forma cada vez mais frequente e, se diante do Hoffenheim não criou grande perigo, contra o Manchester United e o Braga a situação foi diferente.

Mais do que a opção estratégica de baixar linhas, perfeitamente legítima e compreensível, fica a certeza que, neste momento, o FC Porto não tem segurança nem estabilidade defensivas para se sentir confortável a jogar tanto tempo sem bola. Mesmo que na frente tenha armas capazes de resolver, o saldo até ao momento mostra que os dragões ficam bem mais perto de sofrer. Não que sejam questões preocupantes ou que retirem o mérito do FC Porto.

BnR na Conferência de Imprensa

Bola na Rede: Sempre que perdeu a bola, o Porto procurou sufocar o Hoffenheim e recuperá-la rapidamente, mas sempre que não o conseguiu acabou por permitir ao Hoffenheim sair e encontrar o ala ou o central do lado contrário com o jogo de frente para definir. Taticamente que avaliação faz deste momento da pressão, tendo em conta a capacidade do Hoffenheim ameaçar de forma direta e de chegar rapidamente ao meio campo contrário?

Vítor Bruno: Não só direta como também apoiada. Mas sim, é uma excelente questão que tem que ver com o que se foi passando ao longo do jogo. Na primeira parte sentimos que nos criaram problemas no corredor lateral com posicionamentos que derivaram muito de dentro para fora, o Kramaric muito de dentro para fora. Os nossos referenciais de pressão começaram a perder-se. Se calhar os nossos avançados começaram a guardar muito aquilo que eram os médios adversários, os nossos médios a guardar muito do que eram as nossas costas e os nossos centrais com receio de afundar com medo da profundidade. A equipa não foi igual a si própria naquilo que temos como identidade e que queremos ser uma equipa agressiva, intensa e ousada na frente. Acaba por ser aceitável porque a equipa vinha de dois jogos nos quais tinha sofrido seis golos, e acaba por ser uma defesa pessoal de quem quer guardar a baliza, se calhar proteger-se um bocadinho mais. No geral esses momentos de pressão não foram perfeitos, por isso é que temos trabalho pela frente. Temos de crescer e etapas para fazer. Na segunda parte viu-se um FC Porto diferente, mais sereno, mais calmo no momento com bola. A partir do 2-0 senti algum alívio de tensão, os jogadores em determinados momentos parecem ter receio de cometer erros. No geral aquilo que disse acaba por espelhar um bocadinho do que aconteceu. Pareceu-me que o Hoffenheim não só de forma direta, talvez na parte final sim quando mete o Tabakovic, uma referência de poderio físico na frente. Sabíamos que era uma arma que podiam ter, mas não nos podemos esquecer que é um adversário que tem feito golos em todos os jogos e que foi o primeiro jogo em que não o fez. Tem de ser dado mérito ao FC Porto.