Após o terceiro campeonato da NASCAR Cup Series de Joey Logano em Phoenix em 2024, uma onda de fãs abandonou as bancadas antes que as celebrações na Victory Lane pudessem começar. Esta não foi apenas uma reação à dominância de Logano—foi um referendo claro sobre um sistema de playoffs que tem dividido fãs e insiders durante mais de duas décadas. Agora, um coro crescente de críticas, liderado por veteranos da NASCAR como Kevin Harvick e Chris Gabehart da Joe Gibbs Racing, está a forçar o desporto a confrontar uma questão crucial: o equilíbrio entre entretenimento e meritocracia foi longe demais?


A Ascensão e Queda da Era dos Playoffs da NASCAR

O formato de playoffs da NASCAR, introduzido em 2004 e revisto em 2014, foi concebido para injectar drama nas semanas finais da temporada, imitando os “Momentos do Jogo 7” de outros desportos. Mas o sistema, que reduz o campo do campeonato a quatro pilotos para uma final única, onde o vencedor leva tudo, tem sido tudo menos universalmente aceite. Os críticos argumentam que o formato prioriza o espetáculo em detrimento da performance consistente que outrora definiu os campeões da NASCAR.

Kevin Harvick tem sido um dos detratores mais vocais, apontando para momentos em que eventos aleatórios—como vitórias de azarões ou incidentes durante a corrida—determinam os resultados dos playoffs. Gabehart, o novo diretor de competição da JGR, recentemente ecoou esses sentimentos, chamando a atenção para a aleatoriedade que pode descarrilar até as temporadas mais dominantes.

“Cada corrida é sobre vencer, mas a dificuldade está nas muitas variáveis fora do controle da equipa,” disse Gabehart, referindo-se à final de 2021 onde uma bandeira amarela tardia arruinou as esperanças de título de Martin Truex Jr. e entregou o campeonato a Kyle Larson.


A Vitória de Wild Card de Harrison Burton: Um Problema Sistémico

A temporada de 2024 forneceu outro exemplo das falhas do sistema de playoffs. A vitória emocional de Harrison Burton em Daytona em agosto garantiu-lhe um lugar nos playoffs, mas isso veio à custa de desempenhos mais consistentes que ficaram de fora. A vitória de Burton—impulsionada por controvérsias de empurrões tardios na corrida—destacou como o sistema recompensa momentos singulares em vez da excelência ao longo da temporada.

Para muitos fãs, essa aleatoriedade parece uma traição às raízes da NASCAR. Pilotos como Richard Petty, Dale Earnhardt Sr. e Jeff Gordon construíram os seus legados com base na dominância ao longo da temporada, não na sorte de uma única corrida. Em contraste, o sistema de playoffs de hoje frequentemente deixa os fãs a questionar a legitimidade dos campeões coroados sob suas regras.


O Título de 2024 de Joey Logano: O Momento Kenseth, Revisitado

O campeonato de Logano marcou o terceiro título consecutivo para a Team Penske, um testemunho da consistência da equipa em navegar pelo desafio dos playoffs. No entanto, para muitos, também sublinhou as falhas do sistema. Apesar do seu sucesso, a narrativa predominante em torno da vitória de Logano estava menos relacionada com a sua condução e mais com as falhas no formato que o coroou.

A situação parece estranhamente reminiscentes do campeonato de Matt Kenseth em 2003, que desencadeou a criação do sistema de playoffs em primeiro lugar. A única vitória de Kenseth naquela temporada, combinada com consistentes classificações entre os 10 primeiros, foi suficiente para garantir o título por uma larga margem—um resultado que os críticos consideraram “entediante” e inadequado para um desporto que procura a emoção ao nível da NFL.

A resposta de Brian France foi reformular a estrutura do campeonato, mas como as audiências e a afluência têm mostrado, as alterações não proporcionaram o interesse sustentado que ele imaginou. Agora, com fãs e pilotos a expressarem frustração, o título de Logano em 2024 pode tornar-se outro ponto de inflexão para a mudança.


O Caminho à Frente: A NASCAR Vai Ouvir?

O presidente da NASCAR, Steve Phelps, reconheceu o crescente debate, prometendo rever o sistema de playoffs. No entanto, adotou um tom cauteloso, observando que as opiniões estão divididas mesmo entre os insiders da indústria.

“Para todos os que querem fazer uma mudança, há alguns do outro lado que não querem,” disse Phelps. “Vamos sentar-nos numa sala com pilotos, equipas e pessoas da NASCAR para ver se há algo melhor.”

Este ato de equilíbrio—entre apaziguar os tradicionalistas e manter um produto que atraia novos fãs—está no cerne do dilema atual da NASCAR. O sistema de playoffs nasceu de um desejo de competir com a NFL e outros grandes desportos, mas as suas falhas alienaram alguns dos seguidores mais leais do desporto.


O que está em jogo?

O debate sobre os playoffs não se resume apenas a coroar campeões—é sobre a identidade da NASCAR. O desporto está disposto a sacrificar as suas raízes meritocráticas em prol do espetáculo? Ou conseguirá encontrar um meio-termo que honre tanto a sua história como o seu futuro?

Para veteranos como Harvick e Gabehart, a resposta parece clara: o sistema atual precisa de uma reavaliação. Como disse Harvick, “Temos sacrificado talento por entretenimento há tempo demais.”

Com o descontentamento dos fãs a crescer e as audiências do desporto em mudança, a NASCAR enfrenta um momento crítico. Quer opte por insistir na sua experiência de playoffs ou retorne a um formato mais tradicional, a decisão moldará a trajetória do desporto nos próximos anos.