Temos treinadores e jogadores de alto nível, em termos internacionais. Vamos ter também árbitros de alto nível internacionalmente?
Não tenho a mínima dúvida. Há poucos anos Portugal tinha, no universo total de árbitros internacionais, 20 e tal árbitros. Hoje passa aos 40. É a prova inequívoca da confiança que as instâncias internacionais têm na nossa arbitragem. Ainda bem recentemente tivemos um árbitro que esteve no Campeonato Europa, fez uma final europeia. Isto é a prova da confiança que as estruturas internacionais têm na nossa arbitragem e naquilo que é a qualidade do desempenho. Ainda agora se deu a subida do árbitro João Pinheiro ao grupo de elite da UEFA. O futuro está assegurado e temos de continuar a fazer o nosso caminho porque nós não nos contentamos em ter um árbitro de elite. Temos condições para ter mais e os nossos árbitros merecem.
Quando há jogos mais polémicos e algumas pessoas reclamarem a vinda de árbitros estrangeiros para a arbitragem portuguesa, que opinião é tem?
Não vejo problema algum. Assim como os jogadores e os treinadores mudam de país e os treinadores mudam de país, eu vejo isto de uma forma saudável. Um árbitro que venha de fora terá menos anticorpos. Pode ser inferior do ponto de vista qualitativo, mas tem menos anticorpos, assim como um português quando vai lá fora. Nós estamos no século XXI. O século XIX ficou para trás. Há oito anos não havia videoarbitragem e hoje há. Eu, quando vim para a arbitragem, as bandeiras eram de madeira. Hoje passou a BIP, passou a sistemas de comunicação. O futebol avança.
Um árbitro que venha de fora terá menos anticorpos. Pode ser inferior do ponto de vista qualitativo, mas tem menos anticorpos, assim como um português quando vai lá fora
Falava de quando foi para a arbitragem. O Jorge acompanhou essa mesma evolução. Foi ameaçado. Viu as paredes de casa vandalizadas, depois arbitrou sem ninguém, em plena pandemia. Que sentimento tem quando recorda todo esse caminho?
Foram 26 anos, que passaram no ápice. A vida é muito rápida. Temos de desfrutar. Nós podemos verdadeiramente divertirmo-nos, fazendo aquilo que gostamos. Eu diverti-me. Deu-me prazer ser árbitro de futebol. Comecei com uma bandeira de madeira. Acabei parecia um terrorista com tanto fio e equipamento. Mas, fiquei com uma mágoa, confesso. Acabar a carreira com um estádio vazio, em Braga, num SC Braga-FC Porto, era algo que eu não estava à espera. Gostaria de ter feito uma despedida diferente, com o estádio cheio. Não foi possível. Mas, orgulho-me do que fiz. Não foi uma carreira perfeita. Foi uma carreira com erros, naturalmente. Mas, acho que acrescentei valor à arbitragem e ao futebol. Acho que prestigiei a classe.
Chorou mais nesse SC Braga-FC Porto ou quando viu as paredes de casa vandalizadas?
Não chorei. Eu sou forte. Eu aguento. Quando me pintaram os muros de casa, percebi que o futebol é irracional. Mas, não dei grande crédito. Temos de ter medo de quem não nos ameaça. Quem nos ameaça não faz nada. Aquilo foi apenas o trabalho de ter de pegar num balde de tinta, pintar e voltar toda a normalidade.
26 anos enquanto árbitro, mas não largou a arbitragem quando arrumou o apito e agora quer ainda assumir mais responsabilidades. A arbitragem é uma paixão?
Eu diria que a arbitragem é um vício. Podia viver sem a arbitragem, mas, não seria a mesma coisa. Enquanto sentir que sou válido terei todo o entusiasmo em cá estar, até o futebol um dia dizer que não precisa de mim.
Que os árbitros não façam as coisas pela metade e que se esforcem
Uma mensagem para os árbitros portugueses?
Duas coisas. Que não façam as coisas pela metade e que se esforcem. Que se dignifiquem. Que não queiram ser só mais um árbitro. Que queiram ser mesmo bons árbitros. Um árbitro não pode ser árbitro apenas andando lá em serviços mínimos. A segunda coisa que eu gostaria de dizer aos árbitros é que se divirtam.
E, para quem vota? Qual é a mensagem?
É muito simples. No dia 14 de fevereiro irão existir vários boletins para escolher a Direção, o Conselho de Disciplina, Conselho de Justiça, Conselho de Arbitragem. Cada delegado tem uma responsabilidade para com o futebol e não tenho dúvidas de que cada delegado votará em consciência para cada órgão naquele que irá representar o melhor possível o futebol português. Aquilo que eu espero é que para a arbitragem as pessoas olhem para a nossa equipa como aquela equipa que apresenta mais capacidade, mais competência, mais experiência para poder prestigiar o futebol. Não tenho dúvidas que todas as pessoas que vão estar envolvidas no processo eleitoral do dia 14 vão votar em consciência para cada órgão.