Natural de São Paulo, Lucas Piazon deu os primeiros passos no futebol no Coritiba, em 2005. Aos 17 anos, já estava a bordo de um avião a sobrevoar o Oceano Atlântico, pronto para vestir a camisola do Chelsea, onde guarda memórias marcantes. Seguiram-se aventuras no Málaga, Vitesse e Eintracht Frankfurt, antes de regressar a Inglaterra para jogar, também por empréstimo, pelo Reading e Fulham.
Em 2019, aterrou em Portugal pela primeira vez, começando por Vila do Conde, antes de assinar com o SC Braga, que também lhe deu a oportunidade de voltar ao Brasil, treinado por Luís Castro no Botafogo.
Agora, com 30 anos, Lucas Piazon inicia uma nova aventura na Vila das Aves, clube que representa desde o início da época e que chegou com o objetivo de «ajudar a equipa a conquistar resultados positivos».
- Nas conferências de imprensa, o treinador Vítor Campelos tem mencionado frequentemente o pouco tempo que a equipa teve para consolidar as dinâmicas de jogo. Enquanto jogador, como percebe este fator e de que forma o tem ultrapassado?
Vejo isso como algo natural. A nossa equipa é completamente nova, com muitos jogadores novos, um treinador novo, a trabalhar juntos pela primeira vez. É normal que leve algum tempo a criar entrosamento e a estabelecer as dinâmicas desejadas. No entanto, acredito que temos respondido bem. Em quase todos os jogos, lutamos até ao fim por pontos ou pela vitória, à exceção do jogo com o Sporting, que foi um jogo muito difícil. No geral, estamos a lidar com esta situação de forma positiva.
- Após oito jornadas, o Aves SAD regista duas vitórias, três empates e três derrotas. Considera este saldo positivo?
Na minha opinião, considerando que estamos em 10.º lugar, podíamos estar um pouco melhor. Poderíamos tranquilamente ter alcançado os 12 pontos, não os nove que temos atualmente. Portanto, tendo em conta que somos uma equipa nova e ainda em processo de adaptação, considero que é um saldo positivo. Temos muito espaço para crescer e melhorar.
- Como tem preparado a estreia do Aves SAD na Taça de Portugal? Quais são as ambições do clube para esta competição?
Esta semana foi mais tranquila, pois realizámos um amigável no sábado [vitória por 4-2 sobre o Lusitânia de Lourosa] para dar minutos a quem não tem jogado tanto. Tivemos dois dias de folga e, na terça-feira [hoje], voltaremos ao trabalho para focar na preparação do jogo de domingo [visita ao Os Sandinenses]. Queremos entrar na Taça de Portugal com grande determinação e ambição.
- Após a Taça de Portugal, o Aves SAD defronta o FC Porto para o campeonato. Encaram esta partida como o maior desafio até agora? Que dificuldades o FC Porto pode apresentar e como pretendem superá-las?
Sem dúvida, o jogo mais difícil até agora foi contra o Sporting em Alvalade, mas sabemos que o FC Porto é uma grande equipa, jogando um futebol muito ofensivo. Este será um desafio enorme para nós. Contudo, temos tido bons resultados em casa e faremos tudo para manter essa tendência.
- Quais jogadores do plantel o surpreenderam? Como o treinador Vítor Campelos consegue extrair o melhor de si?
O nosso plantel tem imensa qualidade. Jogadores que têm vindo a atuar e até aqueles que não foram convocados têm mostrado uma grande qualidade e potencial. Entre os que me surpreenderam, destaco o John Mercado, o Vasco Lopes e o Devenish. Relativamente à minha posição em campo, embora não seja nova para mim, tenho jogado menos nesta posição ao longo da minha carreira. O Vítor [Campelos] tem-me ajudado a posicionar-me melhor e a receber a bola de forma mais eficaz, o que me permite ser mais objetivo em campo. Sinto-me bem a jogar assim e a confiança que ele me transmite é fundamental.
- No Botafogo, trabalhou com Luís Castro. Como contribuiu para a formação do jogador que é hoje?
Foi uma experiência intensa, mas a situação era um pouco caótica, com muitos jogadores a entrar e a sair. Embora não tivéssemos muito tempo para um desenvolvimento mais profundo, foi uma experiência valiosa e positiva, até pelo facto de ter voltado ao Brasil. Não houve muito tempo para me ajudar a ser um jogador melhor, era um plantel muito grande.
- Já jogou ao lado de atletas que, na altura, estavam em clubes mais pequenos em Portugal e que agora estão no mais alto nível, como Taremi, Francisco Moura, Galeno e Vitinha. Qual deles o surpreendeu mais?
O Taremi foi, sem dúvida, o que me deixou mais impressionado. Quando cheguei ao Rio Ave, ele já fazia parte da equipa. Fez uma temporada fantástica. Desde cedo, percebi que ele não ficaria ali muito tempo, o que de fato se viu a comprovar. Deu dois saltos enormes na sua carreira, passando do FC Porto para o Inter de Milão.
- Quais as melhores e piores memórias dos anos em que representou o Chelsea?
O meu primeiro jogo como profissional e a minha estreia na Premier League foram momentos marcantes. Por outro lado, o momento mais triste foi a perda da final do Mundial de Clubes para o Corinthians no Japão, em 2012.
- Como a sucessão de empréstimos – Málaga, Vitesse, Eintracht Frankfurt, Reading, Fulham e Chievo – o tornou um jogador melhor?
Ter passado por diferentes países e estilos de jogo enriqueceu a minha experiência. Cada um trouxe desafios distintos que exigiram adaptações. Essas vivências ajudaram-me a compreender melhor o jogo e a desenvolver uma leitura tática mais apurada, que eu faço bem, permitindo-me adaptar-me rapidamente a diferentes situações em campo.
- Em 2013, jogou pelo Málaga nos dois jogos contra o FC Porto, que culminaram na eliminação na Liga dos Campeões. Que recordações guarda desses encontros?
Lembro-me bem desses jogos. No Dragão, tivemos grandes dificuldades no primeiro tempo, foi muito difícil, mesmo, mas conseguimos perder apenas por 0-1 e dar a volta em Espanha. Foi uma experiência especial para nós em Málaga chegar aos quartos de final foi inédito para o clube.
- Pode recordar como foi a mudança do São Paulo para o Chelsea em 2011? Que memórias guarda dessa transição?
Foi uma mudança gigantesca, não só em termos de futebol, mas também de estilo de vida. Enfrentei uma cultura e um país completamente diferentes, onde a língua era um desafio. No entanto, adaptei-me rapidamente, em parte graças ao apoio de outros brasileiros e aos meus colegas ingleses do sub-23, que me ajudaram a sentir-me em casa em Londres.
- Qual foi o seu melhor momento enquanto jogador? O golo na final da Taça de Portugal contra o Benfica, em 2021, está entre os seus melhores?
Sem dúvida, essa trajetória na Taça de Portugal foi um dos melhores momentos da minha carreira. A meia-final contra o FC Porto, a final contra o Benfica, assim como outros momentos positivos na minha passagem pela Inglaterra e no Fulham, marcaram muito a minha trajetória.
- Aos 30 anos, o que ainda deseja conquistar?
Estou a entrar na minha 12.ª época como profissional. É difícil falar do futuro. Tenho mais um ano de contrato, o que desejo agora é fazer o meu melhor aqui na Vila das Aves. Ainda tenho muita fome de bola. Quero estar no meu melhor nível em todas as vertentes e tenho uma enorme motivação para continuar. O meu principal objetivo é ajudar a equipa a conquistar resultados positivos e a deixar o Aves SAD numa posição tranquila no final da temporada. Quero continuar a jogar durante mais cinco ou seis anos. O futuro está nas mãos de Deus. Estou motivado e gosto muito do que faço.