![Momentos e frases de Pinto da Costa: «Se estiver aqui uma bomba, espero que expluda!»](https://homepagept.web.sapo.io/assets/img/blank.png)
Parreira e a manchete de A BOLA
Quando Artur Jorge saiu do FC Porto pela segunda vez, em 1991, havia vários treinadores que podiam ingressar no FC Porto. Pinto da Costa explicou as negociações: «Um dos que eu tinha pensado era o Carlos Alberto Parreira. Ele estava em Lisboa hospedado no Hotel Altis e como eu falava muito com o Fernando Martins, um dia ele telefona-me e diz-me: ‘Presidente, tem que vir a Lisboa porque amanhã o Parreira vai-se embora para o Brasil para ser condecorado pelo Bragantino. Portanto, se você quer falar com ele, tem que ser amanhã’. E eu disse: ‘Então você faça-me um favor, diga ao homem que eu vou aí tomar o pequeno almoço com ele.’ Tive reunião até às duas da manhã e depois fui de carro para Lisboa para tomar o pequeno almoço com o Carlos Alberto Parreira. Fiquei muito bem impressionado e combinámos as condições de contrato e disse-lhe: ‘Ainda não falei com a minha direção e, embora me tenham dado carta branca para escolher o treinador, será desagradável que eles saibam, não por mim, mas amanhã pelos jornais ou por qualquer declaração sua de que você será o treinador. De modo que vamos fazer assim. Você vai ao Brasil e daqui a três dias oficializamos isto, pois entretanto falo com a minha direção.’ E frisei: ‘Se você se arrepender e quiser voltar atrás, é dizer para os jornais; porque se vier nos jornais você não é o treinador do FC Porto.’ Ele viajou e, no dia seguinte, primeira página do jornal A BOLA: ‘Carlos Alberto Parreira, treinador do Futebol Clube do Porto’. Telefonei-lhe e disse-lhe: ‘Não venha porque saiu na primeira página da Bola e, portanto, pelas razões que lhe disse, não poderá ser o nosso treinador.’ E ele mesmo confessou-me que o empresário Manuel Barbosa tinha ido ao hotel para o levar ao aeroporto de Lisboa e que ele lhe tinha contado.»
Junho de 1991
«Meta-se no avião porque o treinador é você»
Com Carlos Alberto Parreira de fora, Pinto da Costa telefonou ao também brasileiro Carlos Alberto Silva, com quem já várias vezes conversara e disse-lhe: «’Mister, meta-se no avião, liberte-se lá do seu clube [Corinthians] e venha amanhã, que o senhor é o treinador do FC Porto.’ E ele disse-me: ‘Mas a imprensa está aqui a dizer que é o Carlos Alberto Parreira.’ Respondi: ‘O senhor acredita em mim? Então meta-se no avião porque o treinador do FC Porto é você.’ E veio. Era excelente pessoa e teve um bom desempenho, mas depois, por problemas, creio que do sogro, quis voltar ao Brasil.»
Junho de 1991
Lucescu e Wenger ‘contratados’
«Tive dois treinadores contratados por 24 horas ou 48 horas, nos quais acreditava muito. Vieram ao Porto e assinaram contratos condicionados a libertarem-se dos clubes onde estavam. O primeiro foi o Mircea Lucescu. Em 1991, esteve três dias no Porto na casa de um familiar do Reinaldo Teles e assinou, condicionado a que o Dínamo Bucareste o libertasse. Porém, o Dínamo pediu uma verba que nós não podíamos dar e, portanto, o contrato ficou sem efeito. O outro caso foi o Arsène Wenger. Esteve comigo e com o Luciano D'onofrio no Porto para conhecer a cidade e assinar contrato. Ele treinava o Mónaco e estava convencido de que o Mónaco o libertava. Conversámos um dia inteiro no bar e ficou tudo assinado, só que o Mónaco, contrariamente ao que ele esperava e tentou, não o libertava, a não ser com uma verba que para nós não era possível dar. Um ano depois foi para o Arsenal.»
Junho de 1991 e de 1995
A hérnia de Reinaldo Teles
A 21 de outubro de 1992, na sequência do empate do FC Porto em Sion (2-2) para a 1.ª mão da 2.ª eliminatória da Liga dos Campeões, Pinto da Costa falou de um grande amigo que passava por momento delicado, depois de ter sido operado a uma hérnia discal. «Quem não gosta do Reinaldo [Teles], não gosta de ninguém».
Outubro de 1992
Escoltas e ameaça de bomba
Junto ao hotel onde o FC Porto estava instalado para disputar o jogo com o Feyenoord da Liga dos Campeões, houve de tudo um pouco: distúrbios e ameaça de bomba às duas da manhã do dia do jogo. Valeu a coragem de Pinto da Costa. «Se tivermos de morrer, morremos todos», disse o presidente. E ninguém saiu do hotel. Mais tarde, no caminho para o estádio, o autocarro que transportava a equipa portuguesa teve de ser escoltado: dois carros blindados, um à frente outro atrás; duas motos à frente mais cinco atrás e, ainda, vários carros da polícia.
Novembro de 1993
O convite a Bobby Robson
Bobby Robson tinha sido despedido do Sporting e Pinto da Costa, como o futebol do FC Porto não estava bem, lembrou-se de o tentar contratar para substituir Tomislav Ivic: «Fui a Lisboa para falar com ele e fui a sua casa, lá para Sintra. Quando cheguei, ele estava a fazer embrulhos e a empacotar tudo sozinho, pois a mulher já tinha ido embora para Inglaterra. Quando começámos a conversar, disse-lhe: ‘O senhor está a fazer embrulhos para quê?! Venha mas é para o Porto connosco que são apenas três horas de viagem.’ E ele disse: ‘Para o Porto?’. Respondi: ‘Sim, mister, estou a convidá-lo para ser treinador do FC Porto’. E ao fim de duas horas de conversa, ele diz: ‘OK, aceito, aceito’. Fomos para o Porto e ele veio connosco. Ficou hospedado no Grand Hotel e no dia seguinte de manhã fizemos o contrato. Foi um treinador fantástico, um homem profundamente conhecedor do futebol, um disciplinador e um gentleman.»
Janeiro de 1994
A penhora da retrete e a bomba no Pavilhão do FC Porto
Eduardo Catroga, ministro das Finanças de Cavaco Silva, emite uma penhora ao Estádio das Antas por dívidas do Fisco e à Segurança Social, entre as quais a famosa retrete. Pinto da Costa dá uma conferência de imprensa presenciada por dois mil adeptos e faz um dos discursos mais inflamados dos seus 42 anos de presidência: «Enquanto existir esta penhora, o FC Porto não se sentará com ninguém, não dialogará a dívida nem pagará um tostão dela. Peço-vos a maior serenidade porque acabo de ser avisado de que vem a caminho do Pavilhão do FC Porto a GNR com o pretexto de que estará aqui uma bomba. Se estiver aqui uma bomba eu espero que ela expluda!»
Março de 1994
«O emblema de brilhantes de Ivic»
«O Ivic foi dos homens mais cultos e mais conhecedores do futebol com quem convivi e que vivia o futebol intensamente, mas que, no regresso ao FC Porto, em 1993, passou um período terrível», revelaria Pinto da Costa. E explicou: «Foi na altura da guerra na Jugoslávia e ele perdeu muito dinheiro. Tinha um restaurante e uma ourivesaria e foi tudo destruído. O homem estava completamente perturbado e entendeu que não tinha condições para continuar. Falava de futebol com ele e ele só me falava da Jugoslávia. Um dia mais tarde, encontrei-o no aeroporto de Paris e fiquei muito admirado porque ele tinha na lapela o emblema de brilhantes do FC Porto que eu lhe tinha oferecido, quando assinou pelo clube».
Março de 1994
Oliveira ‘vinga’ Pedroto
A seguir à saída de Bobby Robson em 1996, PC queria um treinador português: «Sempre entendi que, havendo portugueses com capacidade para treinar o FC Porto, era preferível. O António Oliveira tinha feito um excelente trabalho na Seleção Nacional [1994 a 1996], era um homem da casa e convidei-o. Aceitou e finalmente conseguimos o tricampeonato, em Guimarães. Senti que o Pedroto estava ‘vingado’ no bom sentido.»
Maio de 1997