Faltavam ainda quase duas horas para começar o jogo e da Luz já chegavam ecos de goleada. Sabia o Sporting logo à partida que, empurrado pela maré verde de quase 15 mil leões que estavam no Bessa a soprar ventos para levar a equipa para o ataque, tinha de vencer o Boavista sob pena de perder a liderança. E foi um leão a surfar a onda verde de entusiasmo criada pelos adeptos, bem equilibrado e com manobras de alta qualidade, que arrecadou, sem quedas nem beber pirolitos, mais três pontos com uma exibição nota 10!

Rui Borges sabia ao que ia e também já sabia o resultado da Luz. E ao mesmo tempo tinha contas para ajustar com o Boavista, pois entrava para a quinta ‘bateria’ com os axadrezados sem saber o que era ganhar-lhes. Lançou Pedro Gonçalves a titular, para reeditar o demolidor trio de ataque, com Trincão e Gyokeres, que fez furor no início da época e que já tinha ensaiado na Taça com o Rio Ave. No banco, arma secreta, ficava Geovany Quendam (lançado na segunda parte para o lugar de Pote, que contou com mais 45’), com Geny Catamo a assumir a ala direita. E contou com um inspirado Maxi Araújo pela esquerda que aos 6’ já oferecia o 1-0 ao inevitável Gyokeres – e aos 57’ marcou o seu e que pode agradecer ao sueco que falhou com o uruguaio a marcar na recarga.  

Stuart Baxter não estacionou propriamente um autocarro de dois andares mas a linha de cinco atrás pretendia parar a força da corrente leonina. Quando chegou ao Bessa, o treinador escocês avisou que teria de usar um veiculo da STCP para parar Gyokeres e companhia mas na véspera deste jogo ressalvou que para tirar pontos aos leões não bastaria meter a marcha atrás e deixar o pesado de passageiros à frente da baliza – que seria necessário não apenas defender bem à frente da baliza mas mais acima na estrada de acesso a ela e ser também uma ameaça. Mas a ameaça foi sempre para o mesmo lado…

Se aos 6’ os leões já tinham feito manobra com nota de golo, tiveram mais nove vezes durante a primeira parte em zona de finalização. Começaram bem e acabaram melhor os primeiros 45’, outra vez Gyokeres, o surfista das ondas gigantes, uma espécie de Garrett McNamara não da Nazaré mas de Alvalade que deslizou pela esquerda, numa surfada vista vezes sem conta desde que chegou ao Sporting, e nunca mais parou até ao golo.

(O pior para os leões antes do intervalo foi mesmo o amarelo a Hjulmand, o que o deixa à bica para o dérbi com o Benfica, que falhará se vir outro cartão com o Gil Vicente.)

E deu para tudo

O mar no Bessa continuou verde. Baxter mudou ao intervalo (Koné e Van Ginkel por Bozenik e Ariyibi), Borges também. Mas ficou tudo na mesa e em 12 minutos (50’ e 57’) mais dois golos, Gyokeres (ora quem poderia mais ser?) e Maxi. Domínio total dos leões, ocupação de espaços perfeita, triangulações ao primeiro toque pelos três corredores que terminavam na profundidade para Gyokeres que marcou quatro e não marcou mais porque Vaclik ainda o impediu por quatro vezes!

E a partir daqui deu para tudo: para Morita entrar – não o fazia pelos leões desde 15 de março e depois lesionou-se ao serviço da seleção do Japão – e começar a ganhar ritmo para o dérbi da Luz que se adivinha decisivo no dia 10; para Diomande ver cartão amarelo e assim limpar a pensar precisamente no encontro com o Benfica; para Gyokeres marcar mais um e ficar com 38 golos no campeonato, 57 pontos na Bota de Ouro e ultrapassar Salah na corrida ao troféu de melhor marcador da Europa. Palavras para quê? É um artista sueco e um leão que vai na crista da onda!