O interesse de determinada Liga pode ser avaliada de diversas formas. O campeão é sempre o mesmo ou há boa variabilidade? São sempre as mesmas equipas a entrar, por exemplo, nos quatro primeiros lugares ou há meia dúzia que aspira a entrar nesse núcleo restrito? Há competitividade até ao fim ou, cumpridos, por exemplo, três quartos da prova, está tudo mais ou menos definido?

Assim sendo, nova pergunta faz sentido: terá Portugal o campeonato mais monótono da Europa? A análise às últimas dez Ligas (desde 2015/2016) indica que, se não é a mais previsível, anda perto. Pelo menos no topo. Quantos campeões teve nos últimos dez anos? Três: Benfica, FC Porto e Sporting.

Inglaterra, Itália, Turquia e Bélgica são, neste aspeto, ligeira pedrada no charco, pois têm as Ligas com maior número de campeões diferentes na última década: quatro cada. São as Ligas do top-ten europeu que mais diversificam vencedores, logo as mais democráticas, se assim podemos chamar.

Leicester, Chelsea, Manchester City e Liverpool venceram a Premier League de 2015/2016 para cá e, esta época, os reds lideram com 14 pontos de avanço sobre o Arsenal, a nove jornadas do fim. Nada provável, pois, que haja campeão diferente dos últimos quatro. A não ser que os gunners ganhem o que não ganham desde 2003/2004.

Juventus, Inter, Milan e Nápoles venceram a Serie A nos últimos dez anos. Embora menos evidente, não parece crível que seja agora que a Atalanta faça o que nunca fez: ganhar a Liga. Tem seis pontos de atraso para o Inter e três para o Nápoles e não deverá ser desta que a equipa de Bérgamo será campeã.

Besiktas, Galatasaray, Basaksehir e Trabzonspor foram os mais fortes na Super Liga na última década. E só José Mourinho e Fenerbahçe poderão impedir que o campeonato seja, de novo, vencido por uma daquelas quatro equipas. Os canários de Istambul estão no 2.º lugar, a seis pontos do Galatasaray e com menos um jogo. Embora já não volte a defrontar o Gala (perdeu em casa e empatou fora), o Fenerbahçe é a equipa com mais possibilidades de acrescentar um quinto campeão aos quatro dos últimos anos e repetir o que fez em 2013/2014.

Club Brugge, Anderlecht, Genk e Antuérpia ganharam a Jupiter Pro League na última dezena de anos. O Genk parte para a segunda fase da prova com seis pontos de avanço sobre o St. Gilloise e quatro sobre o Club Brugge. Só repetindo o que fez pela última vez em 1935, a velha dama quebrará o ciclo, introduzindo um quinto campeão.

Segue-se, com três campeões de 2015/2016 para cá, a maioria das Ligas. Espanha com Real Madrid, Barcelona e Atlético Madrid; França com PSG, Lille e Mónaco; Países Baixos com Ajax, PSV e Feyenoord; Portugal com FC Porto, Benfica e Sporting.

O Athletic Bilbao é quarto classificado na La Liga e a oito pontos de Barcelona e Real Madrid e a quatro do Atlético Madrid. Muito complicado que os bascos repitam as históricas épocas de 1982/1983 e 1983/1984 e que haja um campeão fora dos três dos últimos dez anos.

PSG é PSG e, por isso, voltará a ser campeão de França. Tem 19 pontos de avanço sobre o Marselha a oito jornadas do fim da Ligue 1 e só um milagre fará com que a equipa do sul de França repita 2009/2010, época em que foi campeã pela última vez.

Na Chéquia, só três foram campeões desde 2015/2016: Sparta de Praga, Slavia de Praga e Plzen. O Slavia tem 14 pontos de avanço sobre o Banik Ostrava a quatro jornadas do fim do campeonato, logo impossível haver campeão diferente.

Nos Países Baixos, PSV, Feyenoord e Ajax chegaram ao título. E agora o Ajax tem seis pontos de avanço sobre o PSV e nada menos de 15 sobre o Utrecht. Que não é campeão desde 1957/1958. E ainda não será desta que o será.

Por fim, a Bundesliga. Campeonato quase monocromático nos últimos dez anos: Bayern venceu nove e Leverkusen ganhou o último. E como a equipa de Munique lidera com 17 pontos de avanço sobre o Mainz, 3.º classificado (Leverkusen é segundo), é praticamente impossível haver terceiro campeão na década.

BENFICA, FC PORTO, SPORTING, SC BRAGA E... V. GUIMARÃES

Se a Liga portuguesa não é das mais previsíveis em termos de campeões, o mesmo não se passa quando abrimos o espectro e passamos do campeão de cada Liga para os quatro primeiros. De 2015/2016 para cá. Teoricamente, poderíamos ter 36 equipas diferentes nas últimas nove Ligas (2024/2025 ainda não terminou).

Portugal está na ponta negativa deste espectro. E sozinho. Enquanto Alemanha, França, Bélgica e Chéquia tiveram dez equipas diferentes nos quatro primeiros lugares de 2015/2016 para cá, a Liga teve apenas cinco: FC Porto, Benfica, Sporting, SC Braga e V. Guimarães (e só em 2016/2017).

A Bundesliga (Bayern, Bayern, Bayern), tão monocromática nos últimos campeões quanto a Ligue 1 (PSG, PSG, PSG), teve Bayern, Dortmund, Leipzig, Leverkusen, M’gladbach, Hoffenheim, Wolfsburgo, Union Berlim, Schalke e Estugarda nos quatro primeiros. E esta época deverá haver novos membros, pois Mainz e E. Frankfurt estão em 3.º e 4.º com três pontos de avanço sobre o Leipzig. E até o Friburgo, em 6.º, tem hipóteses.

A também pouco democrática Ligue 1, na qual o PSG tem sido quase crónico campeão, como o Lyon entre 2002 e 2008 ou, em menor escala, o Marselha nos anos 80/90 e o St. Etiènne nas décadas de 60/70, é bastante flexível, digamos assim, quanto falamos dos quatro primeiros da última década.

Nada menos de dez equipas terminaram um campeonato francês no top 4: PSG, Mónaco, Lyon, Marselha, Lille, Rennes, Nice, St-Etiénne, Lens e Brest. O Estrasburgo é, em 2024/2025, quem está mais perto de entrar nesse lote, embora, em 7.º lugar, esteja a quatro pontos de lá chegar.

Também Bélgica e Chéquia têm dez equipas que entraram, na última década, num dos quatro primeiros lugares. Os belgas com Club Brugge, Anderlecht, Antuérpia, Gent, Genk, St. Gilloise, Standard Liége, Oostende, Charleroi e Cercle Brugge, os checos com Slavia Praga, Plzen, Sparta Praga, Jablonec, Slovan Liberec, Mladá Boleslav, FC Slovácko, Sigma Olomouc, Banik Ostrava e Bohemians 1905. Pelo meio, entre os dois extremos, aparecem Inglaterra (9 nas quatro primeiras posições), Espanha e Turquia (ambos 8), Itália e Países Baixos (ambos com 7).

PSG e BAYERN

Há equipas que dominam as maiores Ligas europeias. Seja porque já foram campeãs, seja porque nunca falharam lugares entre os quatro primeiros. É o caso do Manchester City, PSG, Bayern, PSV, Club Brugge, Slavia de Praga, Real Madrid, Barcelona e Atlético Madrid e Benfica, FC Porto e Sporting.

Só na Turquia e em Itália não houve equipas sempre nos quatro primeiro de 2015/2016 para cá. Besiktas (falhou em 2021/2022 e 2023/2024) e Basaksehir (2020/2021 e 2022/2023) e Juventus (2022/2023) e Inter (2016/2017) terminaram por oito vezes no top-4 da Superliga e da Serie A.

Há duas equipas que não desceram no 2.º lugar nas respetivas Ligas de 2015/2016 para cá: PSG e Bayern. Os franceses venceram sete das últimas nove ligas e em 2016/2017 e 2020/2021 ficaram em segundo atrás de Mónaco e Lille. Os alemães ganharam oito Ligas e foram segundos em 2023/2024 atrás do Leverkusen. E ambos vão ganhar a Ligue 1 e a Bundesliga em 2024/2025.

Por cá, Benfica venceu quatro Ligas, FC Porto mais duas e Sporting outras duas. Tudo indica que águias ou leões somarão mais um título em 2024/2025, mas o melhor mesmo é esperar até maio. Neste período, os dragões caíram apenas uma vez para o 3.º lugar e estão agora na luta por mantê-lo.