Poderia iniciar esta história com uma daquelas frases feitas utilizadas por quase todos os treinadores no final dos jogos: «Gostaria, primeiro de tudo, de agradecer aos adeptos que estiveram aqui a apoiar a equipa». Porque no caso em particular, olhando para as condições atmosféricas em Braga, o verdadeiro dilúvio (chuva, vento e frio…) que caiu na Pedreira, com algumas quebras de energia no estádio, os 4.265 adeptos que aqui estiveram foram heróis. Apaixonados pelo futebol.
Depois, bem depois olhar para as quatro linhas. Duas equipas que, ao contrário dessas falhas energéticas motivadas pela chuva no recinto, apresentaram muita… eletricidade. De processos bem definidos mas com armas bem diferentes. O SC Braga, muito mais robusto, soluções diversas (Carvalhal trocou seis peças em relação ao jogo com St. Gilloise), a aproveitar para estrear (mais) um jovem da casa, Chissumba, de 19 anos e uma maturidade competitiva que deu sinais de ter o jogo decidido assim que Navarro… abriu o marcador. Do outro, outra equipa, que somava duas vitórias na Liga (a última das quais em novembro do ano passado), limitada nos números, com cadeiras vazias no banco de suplentes e que tem procurado… sobreviver com as poucas armas que tem.
Não seria difícil, por isso, adivinhar qual seria a tendência do jogo. Um SC Braga a atacar, a carregar sobre o adversário axadrezado, a procurar construir vantagem cedo, e um Boavista a procurar resistir e aguardar por deslizes defensivos minhotos (que têm marcado a equipa esta época) que os pudessem ferir. Na verdade isso não aconteceu e o jogo deixou de ter história após o golo de Navarro antes dos 15’. Um lance muito bem trabalhado por Gharbi e Víctor Gómez no corredor direito com o último a cruzar e o espanhol a aproveitar uma defesa incompleta de César. Golo que deu um conforto ainda maior ao conjunto de Carlos Carvalhal, sempre incisivo, acutilante até, nas suas movimentações ofensivas. O segundo golo, pouco depois dos 30’, premiou essa entrega, com Bruma a ser arquiteto (com um passe brilhante) para Horta aparecer sem marcação na cara de César.
Então e o papel do Boavista deste jogo? Fácil. Foi aquele que o SC Braga permitiu. E que foi muito pouco. Apenas a espaços, nas raras vezes que sentiu quebra de ritmo dos minhotos (o que aconteceu no arranque da etapa final) ameaçou a baliza de Hornicek (Namora e Bozenik foram os mais ambiciosos). Mas não deu para mais. Deu sim para o SC Braga gerir, descansar jogadores (vem aí uma final com a Lazio) e fechar o resultado com um terceiro golo, o bis de Navarro, após um penálti de Abascal sobre Gabri Martínez. O SC Braga celebra feito inédito, de três vitórias consecutivas na Liga, aproximou-se de Benfica e FC Porto (a escassos 4 pontos) e recebeu injeção de confiança para o que aí vem. O Boavista continua a viver tempos difíceis e pior que os resultados é a falta de equilíbrio emocional que Abascal não teve após uma expulsão absurda nos instantes finais após agressão a Gabri Martínez (como pode um treinador sobreviver a isto?). Uma equipa que ontem, perante condições adversas, entrou em curto-circuito e voltou a apanhar um choque de realidade.