O Campeonato Mundial de League of Legends – Worlds 2024 promete ser uma edição histórica, repleta de grandes expectativas e incertezas. Para além do espetáculo competitivo, este é um evento que reflete o estado atual do e-sports e o futuro da indústria. Estarão as grandes regiões a caminho de perder o seu domínio?
O Fator Humano no E-sports
Num torneio desta magnitude, é fácil focarmo-nos apenas nas estatísticas, nos resultados e nos desempenhos mecânicos. No entanto, o Worlds é muito mais do que simples números e vitórias — é também um palco para as narrativas humanas, para as histórias de superação e fracasso. A pressão de estar num evento desta dimensão pode quebrar os mais talentosos, ao passo que outros encontram aí o espaço perfeito para brilhar.
Este ano (mais uma vez), o nome mais sonante é, sem dúvida, Faker, o “demónio” da T1. Já considerado o maior de todos os tempos, Faker carrega o peso de uma nação e de uma legião de fãs, todos ansiosos por vê-lo levantar o troféu mais uma vez. Mas o que estará em jogo para ele em 2024? A questão é: até quando poderá continuar a carregar este fardo? Num cenário competitivo cada vez mais feroz, a história do quatro vezes campeão mundial tem tanto de lendária quanto de frágil. Será que esta será a última vez que o veremos lutar num palco deste calibre?
Além de Faker, outros nomes já gravados na história dos e-sports estão em jogo. Ruler, o atirador que se sagrou campeão do mundo em 2017, volta agora com a esperança de conquistar o título pela segunda vez. A carreira de um jogador de e-sports é breve e marcada por altos e baixos. Se estes veteranos falharem em conquistar o título, que impacto terá isso no seu legado? E que nova geração se erguerá para ocupar os seus lugares?
Coreia e China: O Império Imbatível?
Há algo de fascinante no domínio prolongado das regiões coreana e chinesa. Se, por um lado, já estamos habituados a ver equipas da LCK e LPL a dominar o Mundial, por outro, o próprio desporto alimenta-se da imprevisibilidade. O que torna o Worlds emocionante é a possibilidade de uma narrativa surpreendente, um David a derrotar Golias.
No entanto, ano após ano, os “Golias” asiáticos têm mostrado a sua resiliência. Gen.G, Dplus KIA, e a própria T1 fazem parte de uma dinastia de equipas coreanas que dominam os Worlds há anos. Na China, o cenário é semelhante, com equipas como a Weibo Gaming e Top Esports a apresentarem plantéis repletos de talento e táticas de jogo afiadas ao extremo.
Será que estamos a assistir à estagnação competitiva, onde apenas estas regiões têm chance real de vencer? Esta é a crítica comum, mas há nuances a considerar. A qualidade de jogo da LCK e da LPL é inegável; contudo, não se trata apenas de superioridade técnica. É um reflexo da cultura de treino e da mentalidade com que estas regiões encaram o desporto: uma dedicação ao limite do sacrifício pessoal. O domínio coreano e chinês pode, na verdade, ser mais um espelho de um sistema que força a perfeição e menos de uma barreira intransponível para as outras regiões.
O Que Significa para a Europa e América do Norte?
Se olharmos para as estatísticas dos últimos anos, os representantes da EMEA e da América do Norte têm tido dificuldade em acompanhar o ritmo das equipas asiáticas. No entanto, isso não significa que estejam condenados ao insucesso. A G2 Esports, uma das equipas mais emblemáticas da Europa, entra no torneio com a ambição de quebrar o ciclo de hegemonia asiática. A questão que se coloca é: será que têm armas suficientes?
Historicamente, as equipas europeias têm sido aquelas que mais próximas chegaram de desafiar o domínio asiático, com a G2 e a Fnatic a chegarem às finais em edições passadas. Contudo, 2024 não será fácil. A força das equipas da EMEA reside na sua capacidade de adaptação — uma característica que pode ser crucial no formato do Swiss Stage. Ainda assim, será isso suficiente? Ou a Europa continuará a viver na sombra das superpotências do Oriente?
Já a América do Norte, em particular, enfrenta o seu próprio dilema. Durante anos, a LCS lutou para se afirmar como uma liga competitiva a nível internacional, mas tem falhado consecutivamente. Será 2024 o ano em que a FlyQuest, 100 Thieves ou Team Liquid surpreenderão? Ou estarão novamente destinadas ao papel de coadjuvantes num cenário dominado por outras regiões?
Minor Regions: De Outsiders a Contenders?
Uma das alterações mais significativas deste ano é a nova estrutura do Play-In, onde as minor regions terão uma oportunidade mais justa de se destacarem. Para muitos, este formato renovado é uma chance de finalmente vermos equipas de regiões menos cotadas a fazer história.
Equipas como a paiN Gaming do Brasil ou a Movistar R7 da América Latina trazem consigo não apenas o desejo de competir, mas também de representar milhões de fãs que anseiam ver a sua região num palco mundial. As minor regions podem parecer à margem, mas a beleza dos Worlds reside no seu potencial para gerar surpresas. Quem pode esquecer a Albus Nox Luna em 2016 ou a DetonatioN FocusMe em 2021?
Se o Mundial de 2024 nos ensinar alguma coisa, é que a linha entre o gigante e o underdog pode ser mais ténue do que parece. Com um nível de competitividade crescente, a questão é se alguma dessas equipas pode ser a surpresa que todos amam testemunhar.
Para Além da Competição: O Impacto Cultural do Worlds
Mais do que uma competição, o Mundial de League of Legends tornou-se um evento cultural. A Riot Games tem investido fortemente na criação de conteúdos que ultrapassam o jogo em si, com eventos, skins exclusivas, e colaborações musicais que geram um enorme impacto no mundo do entretenimento. A especulação em torno da banda sonora deste ano — com rumores a apontarem para uma colaboração com os Linkin Park — mostra como o evento se tornou um ponto de convergência entre os e-sports e a cultura pop.
A influência dos Worlds vai além da esfera dos jogos. Ele molda tendências de moda, comportamento e entretenimento digital. Para muitos, assistir aos Worlds é mais do que torcer pela sua equipa — é fazer parte de uma comunidade global que partilha uma paixão comum.
O palco está montado para nos brindar com momentos inesquecíveis e a questão não é apenas quem irá vencer, mas quem terá a resiliência, a criatividade e a audácia para se destacar num dos cenários mais competitivos do planeta. Seja um gigante como a T1 ou uma equipa menos cotada das minor regions, o que está em jogo é muito mais do que um título: é a oportunidade de deixar uma marca indelével na história dos e-sports. E é isso que faz do Worlds um evento verdadeiramente mágico.