"Envio dinheiro para os meus pais e irmãos para atender às suas necessidades", afirmou Domingos Cristóvão, de 33 anos, filho mais velho de uma família com oito irmãos do município de Baucau.

Pedro Pinto, 32 anos, terceiro de uma família de seis filhos do município de Lautém, disse que apoia a educação dos irmãos e está a ajudar os pais a construir uma casa, mas quer também comprar terrenos em Díli, capital timorense.

"Desde 2020, acho que já terei enviado mais de 10.000 dólares [cerca de 9,5 mil euros] para a minha família", explicou Pedro Pinto.

Com 1,3 milhões habitantes e uma das populações mais jovens do mundo, a taxa de desemprego em Timor-Leste afeta principalmente os cidadãos em idade ativa, que sem oportunidades de crescimento profissional e melhoria das condições de vida opta ou por emigrar definitivamente ou participar em programas de trabalho sazonal.

O Estado timorense não tem conseguido dar resposta à criação de emprego, nomeadamente através do crescimento do setor privado, mas acordou com a Austrália e com a Coreia do Sul programas de trabalho sazonal, no setor agrícola e nas pescas.

Os dois trabalhadores afirmaram que estão atualmente a poupar dinheiro com o objetivo de no futuro regressar a Timor-Leste e criar os seus próprios postos de trabalho.

Domingos Cristóvão foi a primeira vez para a Austrália em 2020, no âmbito do programa laboral, regressou em 2023 e espera agora voltar nos próximos meses.

"Participo na colheita de uvas, melancias, bananas, morangos e tomate, além do plantio e poda de legumes", explicou Domingos Cristóvão à Lusa, referindo que pretende no futuro investir na agricultura no seu município de origem.

"Agora, estou a planear, mas como timorense que aprendeu muito no estrangeiro, quero partilhar o meu conhecimento com outros timorenses e criar oportunidades de emprego para eles", salientou.

Domingos Cristóvão queixou-se de algumas dificuldades e exploração por parte das agências australianas e do elevado custo de vida, mas, mesmo assim, pediu aos jovens para se aventurarem naquela experiência e para irem com "motivação e dedicação", porque quando regressarem a Timor-Leste podem concretizar planos de vida.

Pedro Pinto foi a primeira vez trabalhar para a Austrália em 2019, mas em 2020 deixou o programa de trabalho sazonal, acusando algumas agências australianas de manipulação dos seus direitos.

Acabou por ficar naquele país por conta própria e não regressou a Timor-Leste.

"Fui trabalhando em várias áreas, mas escolho principalmente a horticultura e trabalho para várias empresas", explicou Pedro Pinto.

"A Austrália dá oportunidade a todos os emigrantes. Alguns de nós timorenses aproveitamos para obter um visto, procurar trabalho e estudar", disse.

Segundo dados das autoridades australianas, em setembro de 2024 estavam no país no âmbito dos programas de trabalho sazonal 4.140 trabalhadores timorenses.

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