A rápida subida da inflação em Angola poderá corroer o poder de compra dos cidadãos, desencorajar e dificultar o investimento no país, considerou esta semana, em Luanda, o economista chefe do Standard Bank para Angola, Moçambique e República Democrática do Congo, Fáusio Mussá.

Falando na apresentação da I Edição do Briefing Económico de 2025, o responsável disse que isso vai manter uma tendência para as pessoas preferirem a informalidade.

“A maior parte do emprego em Angola e é típico das economias africanas é informalidade. É um emprego informal que se socorre muito da agricultura e de alguns serviços”, afirmou.

Fáusio Mussá ressaltou que as pessoas se sentem mais confortáveis a operar nessa informalidade, porque operam com muito menos custos operacionais.

“Claramente, tem havido um esforço para recuperar o valor do salário mínimo em termos de moeda externa, mas ainda é extremamente baixo. E qual é o problema de um poder de compra baixo? O problema é que é difícil encorajar mais investimentos”, assumiu.

À medida que eu vou conversando com as empresas e com os investidores, segundo fez saber, existe uma percepção de que o mercado começa a ficar saturado, porque não há um crescimento do poder de compra.

“Isso resulta em empresas angolanas ou multinacionais que operam em Angola, começam a investir nos países vizinhos. O Estado tem que estar atento a isto para se conseguir estabilizar o investimento”, apelou.

Por outro lado, o economista chefe frisou que o desempenho da economia angolana será afectado pela elevada exposição à volatilidade do preço do petróleo e pelo fraco investimento.

“Se em 2024 se observou uma forte aceleração do Produto Interno Bruto (PIB), com um crescimento de 4,4%, tendo-se registado 14,6 mil milhões de kwanzas de receitas, em 2025 o cenário é mais desafiante”, reforçou.

Olhando para a receita prevista no Orçamento do Estado (OE) para 2025, de 19,9 mil milhões de kwanzas, em comparação com o que se realizou em 2024, Fáusio Mussá argumentou que se verifica que para o país alcançar essa meta, seria necessário um aumento na ordem dos 38%.

“É praticamente impossível alcançar essa receita se o preço do petróleo se comportar como nas últimas semanas, ficando abaixo do que o Governo projectou no OE. Havendo a perspectiva de não ser possível alcançar a receita antecipada, e se o Estado mantiver despesa prevista, Angola vai ter “um défice fiscal muito superior ao que tinha sido projectado. Isso implica que o Estado terá de financiar esse défice. Ou com dívida doméstica ou com dívida externa ou com uma combinação das duas. Ou até socorrer-se de alguma poupança do fundo soberano”, sustentou.

Apontou ainda que o Estado terá de racionalizar e ver quais os projectos mais prioritários.

“Poderá ser necessário o Governo angolano implementar este ano um orçamento rectificativo, isto é, produzir um novo OGE, levar à Assembleia da República para discutir e chegar a um acordo sobre o que é prioritário, para que não haja um deslize fiscal que resulte numa pressão sobre a dívida pública, sobretudo porque o serviço da dívida ainda consome cerca de 85% da receita do Estado”, concluiu Fáusio Mussá.