Em 2024, o investimento global em fintech atingiu 95,6 mil milhões de dólares em 4.639 negócios. Tanto o investimento global quanto o número de negócios caíram para níveis não vistos desde 2017, de acordo com o Pulse of Fintech H2’24, um relatório semestral publicado pela KPMG.

Uma “tempestade perfeita” de fatores combinados terá abrandado o apetite dos investidores, incluindo desafios macroeconómicos, conflitos e tensões geopolíticas num ano de eleições nas principais jurisdições.

A segunda metade do ano foi notoriamente mais lenta do que a primeira, com o investimento a cair de 51,7 mil milhões de dólares no primeiro semestre para 43,9 mil milhões de dólares. No entanto, uma análise mais atenta dos resultados oferece algum otimismo; entre o terceiro e o quarto trimestre de 2024, o investimento global em fintech aumentou de 18 mil milhões de dólares para 25,9 mil milhões de dólares. Tanto o valor da transação de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) quanto o investimento em capital de risco (venture capital) também aumentaram em relação ao trimestre anterior, de 7,4 mil milhões para 14,2 mil milhões de dólares e de 9,7 mil milhões para 11,2 mil milhões de dólares, respetivamente.

EUA acolhe metade do investimento

Regionalmente, as Américas atraíram a maior parte do investimento em fintech, em 2024, nomeadamente 63,8 mil milhões de dólares em 2.267 negócios. Destes, 50,7 mil milhões de dólares, relativos a 1.836 negócios, aconteceram nos EUA. Em 2023, o investimento nos EUA tinha totalizado 77,6 mil milhões.

Europa, Médio Oriente e África (EMEA) atraíram 20,3 mil milhões em 1.465 negócios, em 2024, o valor mais baixo desde 2016. Sendo que no ano anterior o valor tinha sido de 27.6 mil milhões em 1,833 negócios. A região Ásia-Pacífico (ASPAC) registou 11,4 mil milhões de dólares em 896 negócios.

A nível setorial, o setor dos pagamentos atraiu a maior parte do investimento (31 mil milhões de dólares), seguido dos ativos e moedas digitais (9,1 mil milhões de dólares) e da regtech (7,4 mil milhões de dólares).

“Foi um ano difícil para quase toda a gente – fintechs, empresas e sociedades de capital de risco – dada a amplitude dos desafios e incertezas no mercado global. Salvo raras exceções, ninguém queria tomar a iniciativa nos maiores negócios, que há muito tempo são um pilar do investimento em fintech”, afirma Karim Haji, diretor global dos Serviços Financeiros da KPMG International, em comunicado.

Porém, acrescenta que já “há muitos motivos para sermos positivos a caminho de 2025. Muitas eleições críticas ficaram para trás e a atividade de investimento e negócios está a começar a aumentar. Estamos a começar a ver mais negócios por causa dos cortes nas taxas de juros em diferentes jurisdições e do menor custo de financiamento. No entanto, teremos de esperar para ver se a alteração das condições do comércio mundial tem impacto na inflação, nas taxas de juro e, consequentemente, nestes sinais positivos de mudança do mercado”.

Pagamentos e ativos digitais lideram investimento

O setor de pagamentos continuou a impulsionar a maior parte do financiamento das fintech globalmente, respondendo por 31 mil milhões de dólares em investimentos, em 2024, acima dos 17,2 mil milhões em 2023. Uma grande parte desse investimento foi impulsionada por consolidação e iniciativas defensivas, em vez de empresas que procuram escala, incluindo os dois maiores negócios do ano – a compra pela GRCR, por 12,5 mil milhões de dólares de uma participação maioritária na Worldpay com sede nos Estados Unidos e a aquisição de 6,3 mil milhões de dólares da Nuvei, com sede no Canadá, pela PE Advent International. Para além do acordo com a Nuvei, o segundo semestre de 2004 assistiu a vários outros acordos de pagamentos importantes, incluindo a aquisição por 1,6 mil milhões de dólares da Transact Campus, com sede nos EUA, pela Roper Technologies, e um aumento de capital de risco de 788 milhões de dólares, pela Mynt, com sede nas Filipinas.

Quanto à área de ativos e moedas digitais, esta atraiu 9,1 mil milhões de dólares em investimentos globalmente em 2024 – o maior total de todos os tempos. Uma grande parte desse investimento concentrou-se em infraestrutura de mercado digital, tokens e ativos digitais.

Segundo a KPMG, quatro dos cinco maiores negócios ocorreram nas Américas, incluindo a aquisição no valor de 1,1 mil milhões, pela Stripe, da empresa de infraestrutura de ´stablecoin´ Bridge.

Um aumento de 100 milhões de dólares na Crytocoin, sediada no Reino Unido, representou o maior negócio na região EMEA, enquanto um aumento de 80 milhões de dólares na Partior, sediada em Singapura, foi o maior negócio na ASPAC.

Com a expetativa de que a nova administração dos EUA seja favorável à criptografia, é provável que os ativos e moedas digitais continuem a ver um interesse e investimento crescentes em 2025, conclui a KPMG.

Sentimento de otimismo para 2025

Com as taxas de juros a cair em muitas jurisdições e as incertezas eleitorais a diminuir, a consultora refere que há um “sentimento cauteloso de otimismo” no mercado de fintech rumo a 2025.

A KPMG estima também que a área dos pagamentos deverá continuar a ser o motor dos investimentos globalmente e que os ativos e moedas digitais estão bem posicionados para um aumento no investimento, especialmente quando se trata de infraestrutura de mercado, tokenização digital e ‘stablecoins’.

Espera-se também que a IA continue a ser uma prioridade para os investidores, sendo que as soluções relacionadas com a regtech e a cibersegurança deverão registar o maior interesse no primeiro semestre de 2025.

“Há definitivamente muito interesse em IA, IA generativa e automação, mas também há muita cautela. No próximo ano, as regtechs focadas em IA provavelmente verão a maior tração entre os investidores, à medida que as empresas de serviços financeiros procuram melhores maneiras de responder ao ambiente regulatório cada vez mais complexo”, comenta Anton Ruddenklau, líder de Inovação Global e Fintech, Serviços Financeiros da KPMG International.