A associação de conservação da natureza Quercus decidiu não participar na COP 29, por considerar a cimeira do clima uma encenação mediática, realizada num país onde se vive "uma crise de direitos humanos".

Em comunicado, por ocasião da abertura da cimeira da ONU em Baku, no Azerbaijão, a Quercus desafia os países a repararem os danos e a protegerem os recursos naturais do planeta.

"Enquanto fenómenos climáticos extremos devastam vidas e ecossistemas, e os recordes de temperatura se acumulam ano após ano, os compromissos climáticos continuam a ser adiados", critica a associação.

“Fracas perspetivas”

A Quercus justifica que optou por não se deslocar a mais uma conferência onde as ações essenciais já são conhecidas, mas "raramente executadas com coragem".

"A Quercus entende que realizar a Conferência das Partes (COP) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) em mais um país produtor de petróleo é um indicador de que teremos fracas perspetivas para dar resposta efetiva e atempada às necessidades para limitar o aquecimento global e combater as alterações climáticas, fazendo cumprir as reduções estabelecidas no Acordo de Paris", lê-se no documento.

Além das preocupações ambientais, a Quercus considera "desconcertante" participar numa COP num país onde os direitos humanos são "sistematicamente violados e as vozes críticas silenciadas", com "detenções arbitrárias" e repressão de jornalistas, defensores de direitos humanos e ativistas civis.

“Estão a arrastar-nos para um cenário catastrófico”

A associação sublinha ainda que o Azerbaijão enfrenta "tensões fronteiriças graves" com a Arménia, que afetam a segurança e estabilidade na região.

"As políticas atuais estão a arrastar-nos para um cenário catastrófico de 3.1ºC de aquecimento global pós era industrial e as pessoas e ecossistemas estão a pagar um preço terrível. Há muito que é tempo de agir", adverte a Quercus, lembrando que a seca e o aumento das temperaturas criaram condições ideais para incêndios florestais devastadores em regiões como Portugal, Chile e Califórnia (EUA).

"Estes padrões climáticos instáveis indicam que 2024 poderá tornar-se o ano mais quente e mortal já registado, culminando em Valência, onde chuvas torrenciais resultaram em inundações catastróficas, mais de 200 mortos e milhares de desalojados, devido à tempestade "gota fria" (DANA), com uma precipitação equivalente a um ano em poucas horas", exemplifica a organização.

Para a Quercus, o mundo já não tem tempo para cerimónias diplomáticas, quando a temperatura global e a frequência de fenómenos extremos disparam: "É hora de exigir medidas reais, de forma transparente e comprometida, para reduzir emissões e proteger o futuro dos nossos ecossistemas e comunidades".

Um inquérito do Banco Europeu de Investimento (BEI), hoje divulgado, revela que quase todos os portugueses (99%) apoiam medidas para combater as alterações climáticas, questão que 66% considera prioritária.