Nos primeiros dias do ano, no meio das montanhas de papelão e de papel de embrulho que compõem os despojos do Natal, eis que no meio do passeio irrompe um aparelho de micro-ondas. Estará avariado? Quem o usava resolveu voltar ao fogão tradicional? Terá sido substituído por um air fryer? Ou será que explodiu quando alguém pôs uma lata de conservas lá dentro a aquecer?  Nunca saberemos.

Mas sei que aquilo que se encontra de manhã nas ruas é um alimento para a imaginação e um mostruário de comportamentos.

Porque será que quem se desfez do aparelho não o deixou num ponto de reciclagem? Por que razão alguém decide enfeitar a rua desta maneira?

Vou à procura de informação e descubro que a rede Electrão já tem mais de 12 mil pontos de recolha de equipamentos elétricos em Portugal. Entre janeiro e junho de 2024, a rede Electrão recolheu e enviou para reciclagem mais de 13 mil toneladas de equipamentos elétricos usados.

O anterior dono deste micro-ondas não sabe que há pontos de recolha para estes aparelhos. Ou então, o que é muito provável, não quer saber e larga no meio da rua o que já não lhe serve.

Bem vistas as coisas são muitos os que, na realidade, não se importam com o que fazem à rua onde vivem — no fundo, é uma demonstração de que não se importam com os outros.

Nos gestos diários de vida coletiva, numa rua, num bairro, numa vila ou cidade, há cada vez mais uma lei do menor esforço na forma como as pessoas se comportam. Se calhar algumas são as mesmas que se queixam de que as ruas andam sujas e olham de lado para os vizinhos.