O novo ano económico está marcado pela forte incerteza e desafios consideráveis. De facto, os próximos 12 meses continuarão a ser moldados por eventos recentes, como o prolongamento de significativos conflitos geopolíticos, o avanço da inteligência artificial (IA) e a eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos. Combinados, estes fatores têm o poder de afetar profundamente a economia global, seja para melhor ou para pior.

A guerra em curso, especialmente em regiões como a Ucrânia e o Médio Oriente, continuará a ditar o ritmo do quotidiano económico, pressionando os preços da energia e dos alimentos. Tal realidade força a generalidade dos países, especialmente os pertencentes à Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), a ponderar cuidadosamente a forma de alocação dos seus recursos orçamentais internos. Esta necessidade é ainda mais premente face ao regresso de Donald Trump como figura cimeira da política norte-americana. O presidente eleito já afirmou repetidamente que pretende rever o apoio dos Estados Unidos à NATO, criticando o incumprimento por parte de vários membros da aliança relativamente à obrigação de alocar, pelo menos, 2% do seu Produto Interno Bruto à defesa. Donald Trump acrescenta incerteza ao quadro político mundial noutros âmbitos, ao ameaçar rever alianças globais de longa data e ao prometer reduzir o apoio dos Estados Unidos a organismos multilaterais. Estas posições não só criam um ambiente de instabilidade acelerada, como têm o potencial de redefinir o equilíbrio de poder global. Infelizmente, o potencial impacto de Trump sobre as nossas vidas económicas não se fica por aqui.

Defensor de uma visão fortemente protecionista, o presidente eleito tem como objetivo reforçar as tarifas comerciais dos Estados Unidos, o que poderá intensificar as tensões entre potências económicas, em especial com a China e a União Europeia. Este cenário pode desencadear uma guerra comercial entre os principais blocos económicos mundiais, cujas consequências são totalmente imprevisíveis.

Há, lamentavelmente, outros fatores que adensam a incerteza sobre o quadro económico de curto prazo. Entre eles destaca-se o impacto que a IA já está e continuará a ter sobre as nossas vidas. Esta tecnologia está a transformar radicalmente sectores como a indústria, os serviços financeiros e a saúde. Existem já inúmeros exemplos de empresas, algumas delas verdadeiros gigantes mundiais que, ao adotarem a IA de forma estratégica, conseguiram aumentar a sua produtividade e eficiência de forma assinalável. Estes avanços permitem atingir níveis de criação de valor sem paralelo na história da humanidade, abrindo avenidas de investigação e desenvolvimento cada vez mais disruptivas, com potencial para melhorar significativamente a nossa qualidade de vida num futuro muito próximo.

Contudo, como diz o adágio popular, "não há bela sem senão", a revolução da IA traz consigo desafios significativos. Um deles está relacionado com o enorme consumo de energia associado à sua utilização, o que pressiona ainda mais o já frágil equilíbrio ambiental do planeta. Por outro lado, esta revolução levanta questões críticas sobre o futuro do trabalho e a desigualdade económica. Por exemplo, os seus efeitos no mercado laboral já se começam a fazer sentir, com muitos postos de trabalho tradicionais a serem substituídos por soluções automatizadas. E estamos apenas no início: prevê-se que, a curto prazo, várias profissões técnicas também venham a ser impactadas pelo desenvolvimento da IA. Neste contexto, 2025 é, pois, um momento de transição. Já se fazem sentir os impactos da IA, mas permanece a incerteza quanto à sua extensão e consequências. Esta realidade explica a ausência de políticas públicas suficientemente robustas para mitigar os efeitos negativos desta transição tecnológica. Como tal, a revolução da IA emerge como um novo factor de tensão social e incerteza económica, cuja gestão será crucial nos próximos anos.

Uma pequena economia aberta como a nossa está, naturalmente, exposta a toda esta incerteza. Basta recordar a dependência de Portugal em relação às importações de energia ou de diversos alimentos básicos, o que nos torna extremamente vulneráveis a choques nos preços internacionais. Para além disso, o país continua a enfrentar dificuldades em alterar a composição da sua economia, que apresenta baixa competitividade a nível internacional, com índices de produtividade muito aquém do desejável. Acrescente-se a este cenário um elevado nível de endividamento, tanto público como privado, e um equilíbrio das contas públicas sempre instável, e percebe-se que os próximos meses poderão ser bastante desafiantes para os portugueses.

Apesar deste panorama, há razões para algum otimismo. Portugal tem dado passos interessantes nos domínios das energias renováveis, nomeadamente na produção de energia solar e eólica. Importa, por isso, reforçar os investimentos em infraestruturas verdes, que poderão ser concretizados através de parcerias público-privadas capazes de impulsionar realmente a economia nacional. Estes investimentos não só criariam empregos qualificados e bem remunerados, como também atrairiam o muito necessário capital estrangeiro. Adicionalmente, o país ainda dispõe de financiamento europeu, em particular através do Plano de Recuperação e Resiliência. O ano de 2025 será crucial para tirar o máximo partido destas verbas, que terão de ser devolvidas no ano seguinte caso não sejam executadas de acordo com o planeado. Este é, sem dúvida, um momento decisivo para Portugal, onde a gestão eficaz destes recursos poderá fazer toda a diferença para o futuro da economia nacional.

Em síntese, 2025 promete ser um ano de desafios e transformações económicas globais e locais. O contexto internacional, influenciado pela guerra, pela revolução da IA e pela dinâmica política, determinará as oportunidades e os riscos para países como Portugal. Contudo, com uma estratégia bem delineada e investimentos em sectores-chave, o país tem o potencial de enfrentar estas adversidades e posicionar-se de forma competitiva no cenário global. Seremos nós capazes de responder afirmativamente a todos estes desafios? Só o tempo o dirá.

Votos de um excelente 2025 para todos os leitores e respetivas famílias.

NOTA: Este artigo apenas expressa a opinião do seu autor, não representando a posição das entidades com as quais colabora.