Os reformados vivem mal e os jovens não têm casa para viver. Tudo está preso por arames na Educação, na Função Pública, na Saúde... E nem me façam falar dos dramas amplamente divulgados do rapaz com uma otite e do adulto "a fazer febre" que foram mal encaminhados pelo SNS24. Os preços vão todos aumentar em janeiro (surpresa!) e os salários já não chegam para pagar as contas. E agora até as polícias perderam as estribeiras.

Onde já se viu, polícias a fazer rusgas em bairros inseguros? Como é que se dá eco às ideias de Passos Coelho de que é preciso saber quem aqui chega em lugar de abrir as fronteiras indiscriminada e descontroladamente, deixando que se criem livremente guetos e bairros de tendas onde se vive em condições sub-humanas? Qual é o problema de ter milhares de pessoas ilegais no país? É que nada justifica que as forças de segurança entrem em certos bairros como se fossem para uma zona de guerra, só porque são recebidas com uma chuva de pedras, tiros e a ocasional sanita arremessada, e não se comportem assim em Alvalade, dizem aqueles que se passeiam por Alvalade mas nunca puseram um pé na Cova da Moura e acham que o Martim Moniz é deliciosamente colorido, ainda que mantenham as filhas longe dali.

A culpa, claro, é dos fascistas, xenófobos e capitalistas, que gostavam de ver o país em ordem e nos querem submeter aos seus maquiavélicos planos de crescimento e valorização do mérito. É por culpa das políticas da direita que batemos neste fundo em que tudo está mal. Mesmo que, na quase última década, só os últimos oito meses tenham sido conduzidos pela coligação PSD-CDS. Mesmo que tenham saído do PS, aliado às esquerdas radicais e com o beneplácito do PAN, as decisões que degradaram irremediavelmente os serviços públicos e nos deixaram estagnados. Apesar de esses governos socialistas terem beneficiado de um ano de democracia à condição, cortesia da covid, e recebido o maior envelope financeiro da História. Ainda que aqueles que criticam o estado a que as coisas chegaram tenham estado vergonhosamente por dentro das decisões que provocaram o atual momento e tenham contribuído ativamente para o aumento do risco de pobreza (que subiu pela primeira vez em sete anos, em 2023, chegando a uma em cada cinco pessoas), a estagnação ou mesmo recuo da qualidade de vida da maioria e até o maior número de sem-abrigos (de 78% em quatro anos, 23% só no ano passado). É o insuspeito Instituto Nacional de Estatística quem indica as curvas.

Não é isso que nos dizem, claro, a mensagem passada é que é tudo culpa das políticas de direita, que não olham ao povo e às minorias, que seguem práticas de capitalismo selvagem, querem vender o SNS aos privados e desejam um Estado securitário. E o resultado está à vista.

Deve ser bem competente, Luís Montenegro, para conseguir produzir tanta mudança em menos tempo do que uma grávida leva a gerar um bebé. Um primeiro-ministro capaz, em oito meses, de guinar todas as máquinas que durante praticamente nove anos seguiram pela ravina socialista e provocar colapsos sucessivos.

Ou isso ou querem fazer-nos crer no impossível. Querem, aqueles que governaram e decidiram os destinos do país durante oito anos e os que vendem os seus pecados como milagres, fazer-nos acreditar que estamos dominados pelos malfeitores da extrema-direita, que é culpa deles todo o mal que nos acontece. Ainda que, como é amplamente visível, o partido de direita radical que se senta no Parlamento com 50 deputados se alie diariamente aos socialistas para tentar meter a mão na governação, depois de a coligação vencedora o ter deixado do lado de fora.

Como diria o saudoso Fernando Pessa, "e esta, hein..."

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