A nomeação dos novos comissários europeus levanta questões sobre o perfil e o papel da Comissão Europeia, que continua a ser vista como uma instituição com um forte viés tecnocrático e muitas vezes distante das preocupações dos cidadãos. Em vez de reforçar a transparência e a representatividade, a composição atual da Comissão pode acabar por ampliar a desconfiança pública, especialmente se for considerado que alguns dos nomeados trazem um histórico político controverso e marcado por decisões impopulares.

Maria Luís Albuquerque, indicada como comissária por Portugal, é um exemplo desse fenómeno. Albuquerque, que foi uma figura central das políticas de austeridade em Portugal durante a crise económica de 2011 a 2014, tem uma experiência consolidada em gestão financeira devido a esses tempos de crise. Alguns consideram o seu histórico como prova de competência técnica, mas há uma faceta igualmente inegável e polémica do seu percurso, em que se levantam suspeitas de "portas giratórias", um fenómeno em que ex-funcionários públicos assumem cargos em empresas cujos interesses já regulamentaram anteriormente .

Essas acusações resultam na perceção de que essas figuras poderiam priorizar interesses financeiros em detrimento de um compromisso imparcial com a regulação e com os cidadãos europeus, reforçando a visão da Comissão como uma entidade "fechada", mais alinhada com interesses técnicos e financeiros do que com as necessidades do cidadão comum.

A nomeação de Maria Luís Albuquerque, no entanto, não é uma exceção dentro da nova Comissão Europeia. Vários outros comissários, nomeados pelos seus governos, também trazem questões de semelhantes, relativamente à integridade e um perfil tecnocrata que pode mostrar-se desconexo das necessidades populares. É importante não esquecer que a União Europeia está a ficar menos competitiva. A União Europeia está a ficar para trás, as previsões económicas não são positivas e parte da razão de isto acontecer está relacionada com as políticas burocráticas que têm acompanhado os decisores da União.

Se pensarmos em Teresa Ribera, comissária espanhola, braço direito de Ursula Von Der Leyen, tem uma carreira política marcada por rigorosas mas não necessariamente bem-sucedidas políticas ambientais e também a sua trajetória política suscitou críticas quanto à imposição de medidas com pouca consulta pública.

Henna Virkkunen, da Finlândia, especializada em soberania digital, representa outra escolha de caráter técnico, promovendo uma agenda digital ambiciosa, mas que parece ignorar os desafios sociais relacionados com a proteção de dados e à acessibilidade.

Neste novo elenco de comissários, é possível referir ainda personalidades como Hadja Lahbib, da Bélgica, e Ekaterina Zaharieva, da Bulgária, com um perfil mais preocupante no que diz respeito à sua integridade moral, já que enfrentam controvérsias que lançam dúvidas sobre sua aptidão para ocupar cargos de tão alta responsabilidade. Lahbib, criticada pela sua gestão de vistos para iranianos, e Zaharieva, ligada a um escândalo de venda de passaportes búlgaros, exemplificam as preocupações éticas que permeiam esta Comissão.

Esta série de nomeações levanta uma questão central junto dos cidadãos europeus: até que ponto a Comissão Europeia está comprometida em representar os cidadãos europeus e agir em seu benefício? Ao priorizar tecnocratas, a União Europeia parece reforçar uma visão de governança altamente especializada, mas potencialmente desconectada da realidade e das necessidades populares. Com comissários cuja história de atuação pública é, por vezes, questionável, o risco de a Comissão ser vista como um órgão fechado, alinhado a interesses financeiros e corporativos, intensifica-se.

Para que a Comissão Europeia consiga reconquistar a confiança pública, é crucial rever o processo de seleção dos seus comissários, priorizando critérios de integridade e representatividade, que sejam claros e objetivos.

A União Europeia precisa de líderes que inspirem confiança e que se comprometam com transparência e responsabilidade. O caminho para uma Europa forte e conectada com os seus cidadãos passa por garantir que a Comissão seja composta por pessoas realmente comprometidas com o futuro da União Europeia, respeitando as suas características e soberanias, operando da melhor forma possível dentro destes moldes, em vez de reforçar o perfil burocrático e a imagem distante que, infelizmente, muitos europeus já associam a estas instituições que consequentemente veem a sua credibilidade afetada.

Se falha a economia e falha a credibilidade, a longo prazo a União Europeia está a colocar-se em risco.

Coordenação do movimento Ladies of Liberty Alliance - Portugal e Fellow Young Voices Europe