O relatório “Revisão Anual da Situação dos Direitos Humanos das Pessoas LGBTI na Europa e na Ásia Central”, recentemente divulgado pela ILGA-Europe, ecoa desafios perturbadores que as comunidades LGBTI enfrentam em várias partes do mundo. Este documento não só denuncia o alarmante aumento da legislação anti-LGBTI, como também revela uma tendência inquietante: a normalização do discurso de ódio e da discriminação. No fundo, ao ler o relatório, parece que estamos a ver um filme de terror, mas sem a possibilidade de sair da sala.

Em muitos países europeus e na Ásia Central, as políticas públicas são moldadas por narrativas que tratam as pessoas LGBTI como verdadeiras vilãs de histórias de “tradição” e “valores familiares”. As táticas, inspiradas nas leis de ‘agentes estrangeiros’, assemelham-se a uma caça às bruxas, onde o objetivo é denegrir organizações não governamentais e silenciar vozes que lutam por igualdade e inclusão. Este cenário é alarmante; o ataque aos direitos LGBTI não é apenas uma violação de direitos humanos, mas sim um sinal de um retrocesso profundo na defesa da democracia e da convivência pacífica.

Contrastando com este panorama deprimentemente sombrio, Portugal tem-se destacado como um farol de esperança na promoção e defesa dos direitos LGBTI. A legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo e a aprovação de leis que garantem o reconhecimento da identidade de género são marcos que transformaram a nossa sociedade num exemplo a seguir. Contudo, mesmo com as luzes do progresso a brilharem, a comunicação emerge como uma ferramenta essencial, porque precisamos de garantir que a mensagem de inclusão e respeito atinge todos os recantos da nossa sociedade.

O nosso país tem sido palco de iniciativas comunicacionais bem-sucedidas. Campanhas educativas nas escolas, promoções nas redes sociais e a visibilidade da comunidade LGBTI nos media têm contribuído para aumentar a consciencialização sobre a diversidade. Afinal, o que não se comunica, não se conhece; e o que não se conhece, não se aceita. Estas ações ajudam a desmantelar preconceitos e a combater estigmas, fazendo com que o respeito pela diferença se torne uma norma social. É uma verdadeira cura contra o veneno do preconceito.

Num momento em que a retórica anti-LGBTI ganha terreno em várias partes da Europa, é vital que Portugal mantenha o seu estatuto de defensor dos direitos humanos. Temos a oportunidade de nos tornar um farol de esperança, um exemplo positivo para o continente. A luta pela inclusão, pela visibilidade e pela dignidade das pessoas LGBTI transcende questões de direitos de uma comunidade; trata-se de algo que deve tocar a todos nós. O respeito pela diversidade e o combate à discriminação são pilares fundamentais de uma sociedade civil saudável e devem ser encarados como responsabilidades compartilhadas entre todos os cidadãos.

Os desafios que a comunidade LGBTI enfrenta noutros países europeus devem servir como um alerta para todos nós. A normalização do discurso de ódio e da discriminação política deve ser combatida diariamente, através da educação e da comunicação. É nossa responsabilidade coletiva criar um espaço onde a empatia, a solidariedade e o respeito sejam valores intrínsecos à convivência social. Afinal, não se trata apenas de os outros estarem bem; é uma questão de que todos nós nos sintamos bem nesta “nossa casa”.

Ao contemplarmos a situação LGBTI na Europa e na Ásia Central, somos lembrados de que a luta pelos direitos humanos é uma batalha contínua. Com um compromisso sólido e estratégias de comunicação eficazes, podemos construir um futuro em que todos, independentemente da sua orientação sexual ou identidade de género, possam viver com dignidade, liberdade e respeito.

Em Portugal, temos a oportunidade não apenas de preservar os nossos avanços, mas também de afirmar que a inclusão é um ideal não só possível, mas profundamente desejável. Olhando para o futuro, é bom reconhecer que a luta pela igualdade e pelos direitos humanos é uma luta de todos. Afinal, quando defendemos a dignidade e a liberdade de um, estamos, na verdade, a zelar pelos direitos de todos. E é esta verdade que, em última análise, nos tornará uma sociedade verdadeiramente justa e democrática.

Consultora de comunicação