Foi o Papa Paulo VI que teve a ideia de celebrar o primeiro dia de cada ano, como o Dia Mundial da Paz (inicialmente Dia da Paz), extensivo a todos os povos da Terra, mesmo àqueles que não professassem qualquer credo religioso. Tal foi concretizado através da mensagem datada de 8/12/1967, com o desejo que tal se comemorasse a partir do primeiro de janeiro do ano seguinte. Assim se tem feito. Em cada ano Sua Santidade estabelece um tema. O tema escolhido pelo Papa Francisco para o corrente ano é "Perdoai-nos as nossas ofensas: dai-nos a Vossa Paz". Um bom tema (que ninguém cumpre).

Sem embargo, a Assembleia Geral das Nações Unidas decretou, em 30/11/1981, o dia 21 de setembro, como o Dia Internacional da Paz. A ideia em si é boa, bem como o objetivo que a sustenta: a vivência em paz, no planeta. Não deixa, porém, de ser uma ideia abstrata, não sustentada em qualquer realização concreta. É assim como que a afirmação de uma esperança.

Sua Santidade não se esquece de falar no tema o que, por dever de ofício, é repetido um pouco por todo o lado nas homilias do dia; passam umas referências nos media – seguramente mais nos países de matriz cristã do que nos outros – passado o que logo todos se engalfinham na luta diária. Sim, porque a paz entre os países passa pela paz dos indivíduos, das famílias, dos povos e das nações. Ora quase nada se tem feito para atacar as raízes do fenómeno. Elaboremos um pouco sobre isto.

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A paz (do latim pace), que julgamos não ter uma definição mundialmente aceite, pode ser definida como a tranquilidade pública; concórdia; sossego; serenidade; harmonia; silêncio; cessação de hostilidades. Talvez a melhor definição se encontre em Santo Agostinho: "A paz é a tranquilidade da ordem de todas as coisas." Todavia a paz só existe em contraponto ao seu antónimo, guerra (do gôt. wirra), ou seja, uma luta com armas entre as nações ou partidos; hostilidades; luta; arte militar; campanha.

Segundo Barrot, em Philosophie de l’ Histoire, o termo "guerra" não carece de definição, já que a noção de guerra é "a única inata no homem". De mais a mais, há várias sensibilidades para a paz e a guerra: o que é paz para uns, não o será para outros; pode até, ser revolta. O que procuramos é a paz ou a justiça? Paz sem justiça não pode ser tirania? Paz é a procura do que deve ser ou apenas a busca do que não nos incomoda? A paz dos cemitérios será uma paz verdadeira?

De facto, o que até hoje melhor tem preservado a paz (ou a não guerra) é a dissuasão; mas uma paz baseada apenas na dissuasão não é uma paz completa, verdadeira, pois se baseia no receio: é a paz do medo. A paz, para ser plena deve ser interiorizada, aceite e predispor à harmonia do ser e do estar.

Quando transpomos o conceito de paz do nível dos Estados para o nível individual, as coisas são diferentes, mas não mais fáceis. Aí o conceito de guerra é menos alargado e mais raro (no sentido de um conflito violento e total), mas a conflitualidade e a desarmonia são mais alargados pois estendem-se à família, aos amigos, às relações de trabalho e sociais e, em primeiro e último lugar, ao eu íntimo. Em síntese, a origem basilar de um conflito ou discórdia é a injustiça ou o que é tido como tal.

O problema da paz (ou da guerra) é, pois, um problema de sempre. Os apelos à paz são por norma vãos. Será que só haverá paz quando os homens desaparecerem da face da Terra? Assim parece ser e o facto de não haver guerra, mas equilíbrios naturais no mundo animal e vegetal, só reforça a ideia.

Vejamos: nesse mundo (que é parte do nosso) existe paz, no sentido em que não há guerra. Os animais e as plantas não se guerreiam nem entre eles, nem entre si. Alimentam-se uns dos outros a fim de manter a cadeia alimentar equilibrada e, desse modo, todas as espécies lograrem sobreviver. Apenas alguns seres se desafiam – normalmente os machos quando acasalam – para melhor garantir a sobrevivência e perpetuação da espécie.

Não é assim com os humanos. Aos homens, para além de ostentarem o título do maior predador à face da terra, foi dado um pensar e um sentir diferente, que não aceita esta harmonia nem o statu quo em que a Natureza (Deus?) o colocou. O homem desafia tudo e todos (incluindo Deus), não se sacia com nada e, dotado de livre arbítrio, não tem conhecido limites à sua ação. Assim sendo parece que devemos convir, na necessidade de conhecermos as causas da guerra (lato senso) – e a natureza humana que lhe é suporte – se quisermos ter algum sucesso e faça algum sentido evocarmos a paz para além de gozarmos o seu feriado.

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Durante centenas de milhares de anos toda a Pré-História, isto é todo o Paleolítico e Neolítico, a terra era escassamente povoada por grupos de famílias/tribos, maioritariamente nómadas. As causas dos conflitos prendiam-se fundamentalmente com a ocupação de terrenos de caça ou com o rapto de mulheres, ou pela posse de algo. Aliás a questão da posse de bens é, porventura, o máximo divisor comum das desavenças pessoais desde sempre, o que é bem ilustrado ao longo dos tempos pelo que se passa relativamente a testamentos e heranças... No fim do Neolítico, dá-se início a uma sedentarização progressiva das populações com o aparecimento da agricultura o que permitiu o aumento da população e passa a exigir métodos de organização social e política, mais elaborados.

Sabemos tudo isto porque alguém, algures na antiga Mesopotâmia, inventou a escrita e passou a registar os eventos que se iam dando, nascendo assim a História a qual, apesar de muito gabada, poucos estudam. Situamo-nos 5 a 6.000 anos antes de Cristo. Aqui as coisas complicaram-se, dado que o aumento da população e da produção de bens, fez acumular riqueza e reservas, originou inventos o que, por sua vez, permitiu o aperfeiçoamento do aparelho militar e a melhoria do armamento. Surgiram impérios, ou seja unidades políticas fortes e dominadoras. Aumentaram as guerras e os conflitos por questões dinásticas, ou de simples tomada do poder. Tal induziu sentimentos de medo e de cobiça – muito comuns à natureza humana – os quais apenas necessitam de uma oportunidade, ou uma faísca para se manifestarem.

Deste modo, as razões da guerra alargaram-se: entre os povos das montanhas e os das planícies; pelo comércio, pela obtenção de escravos, pelo acesso a matérias-primas (incluindo a água); pela posse de pontos geográficos importantes e ainda – fenómeno novo e incipiente na altura – por razões religiosas no sentido em que as "divindades" que enformavam os diferentes povos, eram chamados à contenda como ajuda e porque eram, obviamente, melhores e mais verdadeiros que os outros...

O fenómeno da escravatura surgiu por então e só foi proibido, a nível mundial, em finais do século XIX. Na Mauritânia, por ex., só terminou nos anos 80 do século XX e, no início do século XXI, vemos o tráfico multiplicar-se sob formas encapotadas, mesmo nos países ditos desenvolvidos. O aumento da população permitiu e fomentou a individualização das profissões e o aparecimento do estudo e do ensino o que veio melhorar o conhecimento da natureza e seus fenómenos; do comportamento humano; da transcendência e do aproveitamento dos recursos existentes. Ao mesmo tempo que permitia a diferenciação de povos e civilizações

A partir da Idade Média, o conhecimento passou a ser recolhido, estudado e difundido nos conventos (das diferentes confissões religiosas) e posteriormente nas universidades. Foi nesta senda que chegámos ao que temos.

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"Facilmente se começa a guerra
E com dificuldade se acaba."
Salústio

Nas brumas dos tempos, sem ninguém saber precisar quando, nem como, apareceu o dinheiro. Um cómodo de alto valor que se veio a revelar terrível. Num mundo onde se trocavam mercadorias em espécie e onde o valor do trabalho era pago em géneros ou em proteção, tornava-se muito difícil, sobretudo se colocássemos realidades diferentes em comum, encontrar um padrão que correspondesse e correlacionasse o valor das coisas e pagasse – isto é, atribuísse um valor – ao trabalho de cada um.

Quando se descobriu os metais e a metalurgia os permitiu tratar, elegeu-se o ouro a prata e, mais tarde, o cobre e o bronze para se cunhar a moeda. Esta invenção é comparável, pela sua importância, ao fogo e à roda. As moedas mais antigas conhecidas, com as características atuais, são do século VII a.C. e têm origem na Grécia e na Lídia. As primeiras a representarem uma esfinge são do ano 330 e representam Alexandre, o Grande. Tinham o valor do metal com que eram fabricadas, costume que se manteve até à invenção do cuproníquel, em que o seu valor era o facial, e extrínseco ao preço do material usado.

O ouro e a prata foram escolhidos pela sua raridade, beleza, valor económico e serem imunes à corrosão. Outrossim por razões religiosas, já que os sacerdotes da antiga Babilónia, ensinavam que havia uma estreita ligação entre o ouro e o sol, bem como a prata e a lua. Existia uma crença no valor mágico destes metais. Estes metais eram de difícil acesso e transformação e a sua posse determinava a riqueza dos povos e dos indivíduos. Cedo os reis e imperadores – figuras primeiras que encarnavam a autoridade nas formas incipientes ou elaboradas de Estado que foram surgindo, tiveram o cuidado de individualizar o dinheiro com marcas próprias e a garantirem o monopólio da sua emissão.

O papel-moeda surgiu muito mais tarde, na Idade Média, quando passou a ser usual haver pessoas que guardavam o seu património em metais valiosos ou pedraria, nos ourives, recebendo da parte destes um recibo, garantia do que lá ficava. Alguns destes recibos passaram a ser usados como meio de pagamento, acabando por dar origem às notas como hoje as conhecemos. A equivalência de umas e outras foi-se fazendo ao longo do tempo por processos de que já ninguém retém na memória – se é que alguma vez aprendeu – processos de que os cambistas se tornaram os principais agentes.

Neste negócio se especializaram, por razões específicas, os diferentes ramos dos povos que abraçaram a religião judaica. No campo dos metais preciosos o ouro ocupou, desde sempre o lugar de primazia, a ponto de se tornar uma espécie de padrão mundial e da sua posse, sob a forma de barras, constituir o esteio de uma moeda e o seguro de uma economia. Tal facto deixou de ser verdade apenas no terceiro quartel do século XX, quando o Presidente Nixon cancelou a convertibilidade do dólar em ouro, em 1971, deitando por terra o acordo de Bretton Woods, de 1944. Essa medida foi ratificada pelas principais potências capitalistas, em 1973. A partir daí o sistema financeiro internacional passou a usar de taxas de câmbio flutuantes e a lidar com a hegemonia do dólar.

Ora a invenção e disseminação do dinheiro, apesar de ter aumentado as tentações da cupidez humana, trouxe incontáveis vantagens, ou tidas com tal, que foram aceites por todos os povos e governantes da Terra. Até que "alguém, algures" – mais uma vez as coisas se perdem na bruma dos tempos –, deitou tudo a perder ao inventar o juro. O juro não é mais do que uma percentagem em dinheiro, que uma entidade – mais tarde os financeiros/cambistas e os bancos – paga a quem deposita dinheiro ou outros bens à sua guarda, ao mesmo tempo que essa entidade recebe de outrem, percentagem maior de matéria fiduciária, por dinheiro que lhe empresta, importância com a qual, esse outrem, utiliza para algo de sua necessidade ou pretensão.

Todavia, a existência do juro veio criar riqueza a partir do nada, o que passando a constituir riqueza de jure, não o era "de facto". Ou seja, é uma riqueza fictícia que não tem correspondência em bens criados ou trabalho realizado, mas que passou a existir nas contas públicas e privadas. Este sistema que se tornou universal passou a constituir um polvo imenso que ninguém sabe ou consegue regular ou domar...

Acresce que desde a invenção do juro, interveio a natureza humana, no seu pior, o que deu origem à usura (um juro exagerado), ou seja à exploração indevida e imoral de outros seres humanos/estados, por parte de quem usufrui de capital acumulado (e não tem escrúpulos). A atuação da troika no nosso país não esteve longe do âmbito apontado. No âmbito da prática dos juros, da usura e atividades afins pontificam – segundo rezam as crónicas – judeus e, a partir do século XVIII, algumas famílias reformistas, até porque a riqueza foi considerada uma dádiva de Deus, para protestantes, calvinistas e anglicanos.

Não deixa de ser curioso e esclarecedor que as principais religiões, quando se deram conta da existência e da imoralidade dos juros e, sobretudo, da usura, as condenaram energicamente (embora no judaísmo haja uma diferenciação relativamente aos da sua crença e aos outros). Ficaram célebres os textos de S. Tomás de Aquino – talvez o principal doutor da Igreja, de todos os tempos – sobre estes temas.

S. Tomás defendia que o juro era errado pois representava "uma dupla taxa": uma taxa para o dinheiro e outra para o seu uso. Este conceito seguia os ensinamentos de Aristóteles que ensinava que o dinheiro se destinava a servir os membros da sociedade e para facilitar as trocas de bens necessários para viver uma vida virtuosa. O juro era contrário à razão e à justiça, pois colocava um fardo desnecessário no uso do dinheiro. Desse modo a Igreja, na Idade Média, proibiu a cobrança de juros, nos empréstimos e até rotulou essa ação de crime, chamando-lhe "usura".

Além disso S. Tomás tinha reparado que a única coisa que ocorria entre o depósito/empréstimo do dinheiro e o recebimento do juro, era a passagem do tempo. Ora o tempo era uma dádiva de Deus e devia ser usufruído igualmente por todos. Não era comerciável. Mas o poder do dinheiro é de tal ordem que a própria Igreja Católica, talvez escorada no que lhe resta de poder temporal, representado pelo Estado do Vaticano, teve de jogar com a realidade, criando o seu próprio sistema financeiro (e não deve haver paróquia que não tenha dinheiro a render em qualquer banco).

Será que aquela é uma das causas que levaram à renúncia do Papa Bento XVI, para já não falar no possível assassinato de João Paulo I?

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"A guerra que é necessária
pode chamar-se justa."
Tito Lívio

Entretanto foi-se tentando legalizar e regulamentar juros e usura, através da criação de bancos – de que talvez a Ordem do Templo possa ser considerada como sua origem remota. Uma das suas atividades consistia em receber o dinheiro de uma pessoa que viajava, mediante um "recibo", que depois era trocado no destino pelo equivalente à soma depositada, permitindo assim que o pecúlio do viajante ficasse a salvo das contingências da viagem.

O primeiro banco central de que há registo parece ser o da Suécia, fundado em 1656, embora a cidade de Amesterdão reclame para si essa honra, ao ter fundado um banco em 1609, o qual acabou encerrado, em 1819. No entanto o primeiro banco considerado como verdadeiramente sendo um banco central – tendo servido de modelo – é o Banco de Inglaterra, fundado em 1694. De facto, o banco era privado (ao contrário do que o seu nome queria fazer crer) e só foi nacionalizado em 1946 (mas não totalmente).

Entretanto inventaram-se as bolsas de valores. Ou seja, locais onde são negociados títulos emitidos por empresas de capital aberto. Desde o século XV quotas de participação em companhias, eram comercializadas no meio da rua como qualquer outro produto. O primeiro "mercado" de que há memória existiu em Bruges (Flandres), desde 1487.

Aquando das reformas bancárias e do mercado de capitais, realizadas em 1964, as bolsas passaram a ter as funções que atualmente exercem, sendo um dos principais símbolos do Capitalismo e da Globalização. A primeira verdadeira bolsa foi constituída em Amesterdão, em 1602, quando a Companhia Holandesa das Índias Orientais criou, instituiu e comercializou as primeiras ações. Na altura as vendas eram feitas à voz/pregão, no próprio recinto enquanto hoje são efetuadas por meios eletrónicos, em tempo real.

Uma ação representa uma pequena parte do capital de uma empresa, e o seu proprietário passa a dispor de uma quota em percentagem da quantidade de ações que detém, da totalidade existente. As empresas, por sua vez, quando não querem pedir dinheiro emprestado aos bancos, podem financiar-se na bolsa, emitindo ações segundo as regras estabelecidas. O preço das ações e sua flutuação é derivado de um processo algo alquímico que, segundo os entendidos, tem a ver com a credibilidade; o mercado; a solidez de uma empresa e outros atributos que ninguém sabe medir nem como são avaliados. A subjetividade é quase total.

De há uns anos a esta parte passaram a ter preponderância desmedida as agências de rating que vão propagandeando informação sobre o que entendem ser a credibilidade financeira das empresas, chegando ao ponto de passar a classificar os países (o nosso anda normalmente, nas ruas da amargura). Tirando os empregos que gera, toda esta atividade assemelha-se a estabelecer uma outra forma de juros, ou seja a inventar dinheiro a partir do nada, sem criar riqueza alguma, a que os génios financeiros apelidaram de "dinheiro escritural". Ou seja está escrito, mas não existe.

Pelo caminho e como não podia deixar de ser, a natureza humana passou a trabalhar no seu pior, ou seja pela ganância, transformando as bolsas em antros de corrupção, especulação e numa espécie de casino onde tudo se joga. O que passou a ser primordial nem sequer é o dinheiro (real ou fictício), mas a informação privilegiada, que permite jogadas de antecipação e cortinas de deceção. A confusão é mais que muita – que os paraísos fiscais exponenciam – e não há organismo capaz de regular e pôr ordem nesta bagunça que se arrisca a gerar um cataclismo cósmico!

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"A Esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem;
a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão;
a coragem, a mudá-las."
Santo Agostinho

A partir do século XVIII (já com antecedentes no século anterior) através dos ideais racionalistas e enciclopedistas, dos filósofos das "luzes" e do aparecimento da Maçonaria especulativa, à luz do dia, em Londres, em 1717, a questão das causas da guerra passaram a ser estudadas algo cientificamente. Mais tarde o fenómeno da Guerra passou a ser estudado numa disciplina do Saber, que tomou o nome de Polemologia.

A causa primeira a ser equacionada foi a religiosa – a Guerra dos 30 Anos tinha causado uma devastação enorme, sobretudo na Europa Central, e a sua memória estava bem viva. Ou seja foi considerado que a causa primeira das guerras era a Religião e portanto era necessário substituí-la ou contê-la. Daí ter ganho foros de cidade o desenvolvimento de ideias laicas e do Estado laico; o ataque ao trono baseado no Altar (Rei por "graça de Deus"); a ideia de a legitimação do exercício da autoridade passar para o povo, através do voto e até da substituição maçónica de toda a forma de Deus, pela do Supremo Arquiteto do Universo.

As Revoluções Americana e Francesa tentaram espalhar estas ideias e acabar com privilégios de ordem social mas, como se sabe, as guerras longe de acabarem, aumentaram. O século XIX viu crescer os nacionalismos, como nunca visto e o nascimento de novos Estados/nações, com muitas guerras pelo meio, que culminaram na débacle da II Guerra Mundial. Do mesmo modo surgiram as mais variadas ideologias que, até ao presente, não lograram resolver coisa alguma.

A partir daí uma corrente alargada de pensadores intentou acabar com as nações, dado entenderem ser a sua existência a origem das guerras entre umas e outras. Como as nações são constituídas por famílias, a melhor maneira de destruir as nações – célula base da sociedade e também das religiões – nada melhor do que destruir a família. Foi o que se passou a fazer.

Este estádio prossegue a um ritmo acelerado a nível da atual União Europeia e já se vislumbra o desastre que tal vai causar. Mais ainda, como se entende que a Humanidade é uma só, acabando com as famílias e os países, ou seja, misturando tudo – o multiculturalismo não é mais do que uma ferramenta, por ex., para este desiderato – o que, deste modo, levaria ao desaparecimento dos conflitos e, portanto, à paz. Ou à subjugação. As migrações em massa e desreguladas tornaram a situação explosiva (desde as Primaveras árabes e o Pacto de Marraquexe de 2018).

A doutrina socialista e comunista (e suas ramificações) acreditaram evitar as guerras eliminando o que pensavam que as causavam ou seja, a religião – decretando a sua extinção; a posse de bens, através da socialização da economia e da propriedade privada, pela proletarização da sociedade eliminando a existência de proprietários, empresários ou qualquer outra manifestação burguesa. Também se sabe o desastre a que tudo isto conduziu no mundo inteiro, embora entre nós se aprofunde a entronização a herói nacional de um dos maiores próceres desta tragédia incomensurável.

Enfim, resta o dinheiro, colocado entrementes nos "altares" como Deus Mamon, apesar de ser esteio de incontáveis vilanias e financiador e credor de todas as guerras, desde que o inventaram. Em vez de representar apenas um justo aferidor da medida das coisas e do trabalho.

Os atores modernos (numa evolução que já tem 250 anos) – aparentemente não consideram o dinheiro uma causa da guerra, senão já teriam tentado, não direi acabar com ele, mas regular o seu uso – mas pensam, talvez, passar a mandar na Humanidade através do controlo total do mesmo e de todos os bens e trabalho que o mesmo compra. Por isso cada vez há mais dinheiro, quer real, quer fictício, sem embargo de estar concentrado em cada vez menos mãos.

O dinheiro, como as armas, a energia nuclear, etc., não são um mal em si mesmo, mas o uso que se lhes dá é que pode ser bom ou mau. E por detrás está sempre uma mão humana. Parece pois que ninguém atina com as causas da guerra, ou aquilo que gera a paz – pois, sabemos que se fala para aí no amor. Talvez, ou seguramente, porque a Paz e a Guerra derivam da natureza humana e nesta coexiste a eterna luta entre o Bem e o Mal, normalmente consubstanciada na "crise de valores".

Porque é que isto se passa assim? Bom, tal resposta é a que vale um milhão de dólares; ninguém sabe responder, faz parte do mistério da nossa existência. Possivelmente só saberemos depois de ultrapassarmos as portas da morte.

Não há nada a fazer, então? Creio que há, basta colocarmo-nos o mais possível do lado do Bem e combater por ele, sempre dava para vivermos melhor. E mais não sei dizer.

Enquanto isso os perigos de um cataclismo mundial são reais e, até hoje, não houve Dia Mundial da Paz que lhes valesse. Espero que tenham um bom ano, já que paz, não me parece nada que vá haver.

Oficial Piloto Aviador (Ref.)