De acordo com o Instituto Português de Oncologia (IPO), o cancro renal representa 3% de todos os cancros diagnosticados em Portugal, situando-se entre os 10 mais frequentes. Nos últimos anos, temos verificado um aumento no número de diagnósticos, devido ao uso crescente de exames de imagem na prática clínica, o que permite detetar tumores renais pequenos de forma precoce.

A nefrectomia parcial, por exemplo, que consiste em remover o cancro preservando o resto do rim saudável, continua a ser a principal opção de tratamento para tumores com menos de 7 cm, devido à capacidade maior que tem de preservar a função renal, em comparação com a nefrectomia radical, que consiste na remoção total do órgão.

A American Society of Clinical Oncology (ASCO) estima que, em 2023, foram diagnosticados mais de 80 mil novos casos de cancro renal só nos Estados Unidos, que provocaram a morte de 15 mil pessoas. No entanto, nas últimas duas décadas, a mortalidade por cancro renal diminuiu no mundo ocidental, graças ao aumento dos diagnósticos precoces, que permitem o tratamento da doença em estágios iniciais, quando a probabilidade de sucesso é maior. Atualmente, com a facilidade de realizar exames de imagem, como ecografias e TAC, a maioria dos tumores renais é diagnosticada acidentalmente, durante exames realizados por outras razões. Isto ocorre porque, inicialmente, a maioria dos doentes não apresenta sintomas.

Existem vários fatores de risco conhecidos para o cancro renal, como o tabagismo, a obesidade, a hipertensão arterial e ter familiares diretos com carcinoma de células renais. Por isso, as medidas de prevenção incluem parar de fumar e perder peso em casos de obesidade.

De acordo com as diretrizes clínicas da Associação Europeia de Urologia para o cancro renal, de 2023, deve optar-se pela realização de uma nefrectomia parcial nos tumores localizados sempre que seja tecnicamente possível e oncologicamente indicado. Os avanços tecnológicos permitiram que a cirurgia minimamente invasiva se tornasse a técnica de eleição, demonstrando uma menor taxa de transfusões e de sangramentos, bem como menor dor no pós-operatório e uma recuperação mais rápida. A cirurgia robótica, por sua vez, permite realizá-la em tumores mais complexos, reduzindo o tempo da operação.

A nefrectomia parcial tem três objetivos: remover o tumor com segurança oncológica, tratar o doente por meio de cirurgia minimamente invasiva, para reduzir o risco de complicações e facilitar a recuperação, e finalmente preservar o tecido saudável, para diminuir o risco de insuficiência renal, que é uma das possíveis complicações associadas ao tratamento.

Um dos fatores mais decisivos para a preservação do tecido saudável do rim é a reconstrução realizada após a remoção do tumor, ainda durante a cirurgia. A reconstrução tradicional utiliza sutura e o seu uso no rim está associado a um aumento das complicações, nomeadamente à perda de função renal.

Para as evitar, desenvolvemos uma técnica de reconstrução do rim inovadora, que evita o uso de sutura e previne danos no tecido saudável: a RSD (Renal Sutureless Device). Nos doentes que já tratámos com esta técnica, os tumores variavam entre 2 cm e 7,5 cm. Todos completaram com sucesso o procedimento, sem complicações, sem necessidade de transfusões, mantendo a função renal pré-operatória, com um internamento pós-cirúrgico de apenas 48 horas.

A técnica RSD baseia-se na criação de um molde que substitui o tumor removido e é o resultado de uma pesquisa realizada em colaboração com bioengenheiros e radiologistas, com recurso a imagens do tumor e a moldes 3D. Esta inovação tecnológica permite uma reconstrução mais precisa e eficaz em comparação com as técnicas tradicionais.

O cancro renal tem dois principais riscos: o próprio cancro e a perda de função renal devido à cirurgia para a remoção do tumor. Detetar o cancro renal de forma precoce melhora as opções de tratamento e possibilita a realização de uma cirurgia parcial do rim. Usar tecnologia avançada, como a cirurgia robótica, e aplicar técnicas inovadoras permite diminuir o dano provocado ao rim e atingir os objetivos desejados no tratamento.

Coordenador de Urologia no Hospital CUF Tejo