Durante décadas, crescemos… sem perguntar para onde íamos. O aumento do PIB, o investimento em capital e a expansão do consumo foram — e continuam a ser — os principais termómetros do sucesso nacional. Mas a realidade que hoje enfrentamos — marcada por alterações climáticas, eventos extremos, perda de biodiversidade e desigualdades persistentes — obriga-nos a repensar este paradigma. A questão já não é se devemos crescer, mas como devemos fazê-lo.
Falar de sustentabilidade é, necessariamente, falar de equilíbrio entre três dimensões fundamentais: económica, ambiental e social. Uma economia só é sustentável se gerar valor de forma duradoura, respeitando os limites ambientais e promovendo coesão social. Ignorar qualquer uma destas dimensões compromete o desenvolvimento sustentável — e o futuro coletivo.
A relação entre crescimento económico e sustentabilidade envolve simultaneamente oportunidades e desafios. Por um lado, o crescimento pode impulsionar a inovação e melhorar a eficiência no uso dos recursos; por outro, acarreta riscos de degradação ambiental e de esgotamento dos recursos naturais, muitas vezes associados a um consumo excessivo. Existem trade-offs reais entre expansão rápida e preservação ambiental, entre competitividade e equidade. O turismo em zonas costeiras e rurais tem impulsionado economias regionais, mas também pressionado os recursos hídricos, o solo e a habitação, com efeitos negativos nos ecossistemas e nas comunidades locais. A mobilidade elétrica é crucial para a descarbonização, mas levanta dilemas sociais e ambientais — desde a extração intensiva de lítio até à acessibilidade dos veículos para famílias com rendimentos mais baixos. Reconhecer estes desafios não significa travar o progresso — significa orientá-lo com responsabilidade, clareza e visão de futuro.
O desenvolvimento sustentável não surge por acaso. O sucesso na implementação da Agenda 2030 e dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), definidos pelas Nações Unidas, exige visão, vontade política e ação coordenada. Só assim o crescimento económico se poderá traduzir em verdadeiro bem-estar para as pessoas e para o planeta. Essa implementação bem-sucedida requer uma abordagem coerente e articulada a todos os níveis de governação. Monitorizar o progresso e avaliar o impacto das políticas e intervenções — tanto nacionais como locais — é essencial para assegurar que a transição ocorra de forma eficaz, inclusiva e duradoura.
Portugal tem vindo a registar progressos consistentes nesta matéria, ocupando atualmente o 16.º lugar no ranking global de cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. O avanço tem sido positivo, embora com diferentes perfis regionais. Lisboa destaca-se com resultados muito positivos em 11 dos 17 ODS. A região Centro segue com uma prestação sólida em 9 ODS. O Alentejo, embora registe avanços em áreas como parcerias e educação, apresenta um menor número de ODS com desempenho elevado (6), refletindo desafios em termos de coesão territorial e desenvolvimento integrado.
As crescentes tensões geopolíticas representam uma ameaça direta ao crescimento sustentável, ao desviarem prioridades políticas e fragmentarem a cooperação internacional. No entanto, num mundo cada vez mais polarizado, o crescimento sustentável permanece como um objetivo comum e mobilizador — capaz de unir povos, territórios e gerações em torno de uma visão partilhada de justiça, equilíbrio e futuro. Crescimento sustentável não tem prazo de validade — é a única forma de garantir que o progresso de hoje não compromete o mundo de amanhã.
Ana Brochado, Presidente da Delegação Regional Centro Alentejo, Ordem dos Economistas. ISCTE. DINÂMIA’CET.