Longe vão os tempos em que falar de uma transição para sistemas alimentares sustentáveis se resumia apenas a algumas variáveis. Num contexto socioeconómico e ambiental cada vez mais exigente para todos, hoje, e sobretudo na data em que assinalamos o Dia Nacional da Sustentabilidade, falar de uma transição para sistemas alimentares sustentáveis deixou de ser uma opção e deu lugar a uma necessidade absolutamente urgente.

. Num contexto em que os desafios climáticos são crescentes, em que se intensificam os alertas para os números do desperdício alimentar, mas também numa era em que temos agricultores cada vez mais sedentos de soluções que lhes permitam fazer face às exigências na produção de alimentos, é urgente entender que defender o planeta, assegurar a preservação dos recursos e lutar por sistemas alimentares mais sustentáveis impõe uma responsabilidade partilhada: juntos, governos, agricultores, empresas e consumidores precisam de estar prontos para agir coletivamente e ser parte desta mudança.

Do produtor ao consumidor, passando pelas entidades governamentais e europeias, todos têm um papel a desempenhar. Se à União Europeia cabe assegurar o desenvolvimento de políticas e regulamentos baseados na ciência e inovação que tenham em consideração a complexidade e diversidade da produção alimentar em diferentes ambientes, sob diferentes contextos sociais e culturais, capacitando as autoridades locais para avaliar a sustentabilidade e evitando potenciais distorções comerciais provocadas pelas exigências na União Europeia; para os agricultores, empresas e consumidores, os alertas e reforços não ficam atrás. Importa salientar a importância do papel do agricultor, colocando à sua disposição as ferramentas necessárias à otimização na produção de alimentos: da tecnologia à engenharia genética, passando pelas ferramentas de agricultura digital ou novas técnicas de reprodução, é imperativo formar e capacitar os verdadeiros agentes no terreno, caminhando juntos nesta transição. Do lado do consumidor a aposta em mais informação, maior conhecimento e maior awareness sobre os desafios que o planeta enfrenta, leva a um caminho de consumo mais consciente, menos fundamentalista, de maior valorização do que é local e sazonal, contribuindo para a diminuição da pegada ambiental, evitando o desperdício, e confiando em quem produz.

No Dia Nacional da Sustentabilidade somos desafiados a relembrar que a ação coletiva é absolutamente fundamental. Garantir um planeta habitável para as próximas gerações começa com uma mudança que está marcada para hoje. As alterações climáticas não esperam, as necessidades dos agricultores também não, os avanços científicos e tecnológicos não desaceleram e a investigação, conhecimento e inovação sentam-se connosco à mesa, todos os dias, mostrando-nos como é possível, de forma cada vez mais otimizada, obter alimentos em quantidade e qualidade suficiente para todos. O efeito de globalização trouxe muitos avanços, mas também deixou expostas algumas das maiores fragilidades dos sistemas alimentares e, por isso, é urgente encontrar soluções multilaterais. Um mundo globalizado requer um esforço coordenado para apoiar produtores locais, implementar medidas que olham para as especificidades de cada país e que promovem sistemas alimentares cada vez mais resilientes e inteligentes.

Que neste Dia Nacional da Sustentabilidade, que, na verdade, são todos os nossos dias, possamos reservar alguns minutos para refletir sobre a defesa de uma casa que é de todos e que conta com o contributo de todos, a defesa do nosso planeta.

Diretor Executivo da CropLife Portugal