A chegada do Natal e do fim de ano não significa apenas uma época natural de celebração, alegria e convívio, mas também um período marcado por um aumento do consumo, muitas vezes desmedido e inconsciente. Apesar das festividades, é importante lembrar que a crise climática, que afeta profundamente o nosso quotidiano, não tira férias e, como tal, a nossa responsabilidade em relação ao ambiente não deve abrandar. Sendo uma altura propensa a excessos, é essencial adotar uma abordagem mais consciente e responsável tanto nos hábitos de consumo quanto na promoção de uma produção sustentável.
Dados da ONU revelam que, a cada ano, são recolhidas globalmente 11,2 mil milhões de toneladas de resíduos sólidos e desperdiçadas cerca de 931 milhões de toneladas de comida. Até no papel, o consumo desmedido é igualmente alarmante. Só no Reino Unido, estimava-se que a quantidade de papel utilizada em 2016 para os presentes de Natal fosse suficiente para “embrulhar” o planeta 22 vezes. Este desperdício tem um enorme impacto na emissão de gases de efeito estufa, pois além de representar uma sobrecarga para os fluxos normais de tratamento e reciclagem de resíduos, que não estão preparados para este pico, traduz ainda o risco de alguns destes resíduos serem descartados de forma incorreta.
Num momento crítico em que estamos a consumir, desde agosto, mais recursos do que a natureza consegue repor, esta preocupação ambiental torna-se ainda mais urgente. Somos responsáveis por, anualmente, utilizar a natureza 1,7 vezes mais rápido do que os ecossistemas do planeta conseguem regenerar. O consumo excessivo de recursos naturais, tais como a água, energia e solo, para a produção de todo este desperdício, deveria servir como alerta para a necessidade de mudar comportamentos que estão claramente a colocar em risco os recursos vitais para a nossa sobrevivência e o equilíbrio do planeta. É urgente que sejamos mais proativos na mudança.
Perante esta emergência climática cada vez mais intensificada, torna-se indispensável que tanto consumidores quanto empresas e indústrias - que, segundo a Agência Portuguesa do Ambiente, são um dos principais setores que contribui em larga escala para a poluição do planeta - repensem a sua ação, redirecionando o foco para encontrar oportunidades de inovação que lhes permitam tornar-se mais sustentáveis e resilientes. Neste sentido, investir em energias renováveis e limpas é uma das chaves principais para um compromisso maior com a sustentabilidade, ao reduzir a emissão de fontes poluentes, ao mesmo tempo que limita também a dependência da exploração de combustíveis fósseis tradicionais e serve como catalisador para impulsionar o desempenho de setores como a indústria ou a mobilidade. Além disso, ao utilizar e reaproveitar resíduos que de outra forma seriam apenas descartados de forma incorreta, tanto consumidores como empresas e indústrias podem - e devem - tornar-se agentes promotores de uma economia circular.
Por este motivo, a transição energética em prol da neutralidade carbónica deve ser uma das prioridades transversais de todos e em qualquer momento do ano, num compromisso claro com a sustentabilidade para o planeta que queremos deixar para as próximas gerações. Apostar na descarbonização do país pode parecer complexo, mas é fundamental para criar uma sociedade mais sustentável. Existe um longo caminho a ser percorrido, mas existe também margem para inovar, diversificar e fortalecer uma economia energética.
Apesar de esta ser uma época de festividades, é essencial que reflitamos sobre o impacte das nossas escolhas, a nossa responsabilidade ambiental e o nosso papel nesta crise climática. Pequenas ações podem gerar uma diferença significativa, como, por exemplo, substituir o papel de embrulho por jornais e revistas que tenhamos em casa. Esta simples mudança já seria um primeiro passo importante. Ao priorizarmos este debate, podemos adotar estratégias que nos permitam celebrar esta época de alegria e festividade, de forma consciente e contribuindo para um futuro ecologicamente mais responsável.
Nuno Matos, Diretor-geral da Eco-Oil