Após mais uma semana devastadora de incêndios florestais no norte do país, assistimos ao habitual "voltar à normalidade". Nas reportagens televisivas, as vítimas vagueiam pelos escombros das suas casas, recordando com tristeza: "Aqui era um armário, ali a cama, e acolá...". O que vemos, no entanto, é sempre o mesmo cenário: montes de entulho e cinzas.

Os funerais chegam e, com eles, as prestigiadas figuras da nação aparecem para prestar homenagem aos "heróis" que perderam a vida. O "Presidente dos Afetos" e o primeiro-ministro distribuem abraços, num gesto que tem tanto de verdadeiro como de eficaz, para resolver este problema crónico.

Mais um verão, mais um incêndio, mais uma câmara de televisão apontada às chamas, mais uma casa queimada, mais uma vida perdida, e... claro, a mesma lengalenga de sempre.

Incêndios de Pedrógão

O nome Pedrógão Grande ainda ecoa nas nossas memórias como um dos maiores pesadelos do verão de 2017. Sete anos depois, o que mudou? A resposta é simples: quase nada. Os mesmos erros repetem-se, como uma peça de teatro com um guião velho e cheio de pó.

A sequência é familiar:

  1. O Presidente e o primeiro-ministro lamentam as mortes, com muito pesar e dor.
  2. A oposição oferece as mais "sinceras e profundas condolências".
  3. O governo anterior finge não ter responsabilidades, sacudindo a culpa como quem limpa a fuligem de um incêndio. Aproveita e diz que a culpa é do atual...
  4. As pessoas fizeram donativos de água e comida aos bombeiros, devido à falha do Estado em fornecer tais bens essenciais em tempo útil.
  5. Marcelo dá uns abraços e uns beijinhos e diz que somos uma malta muito porreira e solidária e temos uns bombeiros espetaculares.

Últimos sete anos de preparação

Não sou especialista em florestas ou em estratégias de combate a incêndios, mas há três verdades universais que, aparentemente, o governo ainda não descobriu:

  1. Os incêndios florestais acontecem com uma frequência alarmante.
  2. O Estado tem a obrigação de os prevenir e combater de forma eficaz.
  3. Quando o Estado falha, o governo promete que "para a próxima será diferente". Spoiler alert: nunca é.

As promessas surgem logo após as chamas se apagarem: "Vamos mudar tudo!" – como se esta fosse a primeira vez. Confesso que já estou farto deste círculo vicioso de promessas ocas e culpas sacudidas como cinzas ao vento. Se não aprenderam nada em 2017, não vão aprender mais nada agora.

Ponto de vista de um comum português

Tal como a maioria dos portugueses, não sou especialista em incêndios. Não me cabe estudar se o pinheiro manso mais depressa que o eucalipto. Para ser franco, é-me indiferente se a mata precisa estar limpa a 50 metros ou a três milhas náuticas de uma habitação. E também não me interessa se são os bombeiros da Moita ou de Alenquer a combater as chamas.

O que me importa é que existam pessoas e organizações competentes que previnam e combatam os incêndios. Afinal, elegemos governos precisamente para resolver estes problemas, certo? Mas, pelo que vejo, PS e PSD são apenas duas faces da mesma moeda. Se não foram capazes de aprender com Pedrógão Grande, o que nos faz pensar que será diferente no futuro?

Conclusão

"As desculpas não se pedem, evitam-se", já dizia o ditado popular. No entanto, parece que em Portugal nem se pede desculpa, nem se evitam os mesmos erros. Se 50 anos de democracia ou sete anos de Pedrógão Grande não bastaram para trazer uma mudança, o que será preciso mais?

Somos governados por partidos que no verão prometem tudo e no inverno esquecem até como se escreve a palavra "incêndio". Precisamos de exigir mais e melhor, e lembrar que o futuro dos nossos filhos e netos está em jogo.

Eu dispenso promessas vazias e facilitismos. Sei que as mudanças necessárias são difíceis, mas foi para isso que elegemos quem governa. Basta de ver pessoas a perder tudo porque, em Lisboa, alguém decidiu voltar a pôr na gaveta este assunto.

Fica a pergunta, e se este fosse um problema de uma cidade grande? Será que em Portugal, o fogo só arde onde o voto não conta­?

PS e PSD são especialistas em apagar fogos com palavras, mas continuam a deixar o circo a arder, pode ser que um dia o circo mude de dono.