Há guerras silenciosas que se travam longe dos holofotes da geopolítica, mas cujos impactos se sentem diretamente nas prateleiras dos supermercados e nos relatórios mensais das pequenas e médias empresas. A mais recente escalada de tarifas comerciais entre os Estados Unidos e a União Europeia é um desses conflitos. E como quase sempre acontece nestes casos, quem sofre primeiro são os que menos margem têm para reagir.

Para muitas PME portuguesas, o mercado americano representa muito mais do que uma oportunidade. É, em muitos casos, o principal motor de crescimento fora do espaço europeu. E quando o acesso a esse motor começa a ser condicionado por tarifas que encarecem o produto em 10%, 15% ou até 20%, o problema deixa de ser macroeconómico e passa a ser visceralmente operacional.

Mas neste campo de batalha assimétrico, onde as decisões políticas nos escapam, ainda há espaço para iniciativa — e essa iniciativa começa na forma como comunicamos. Uma empresa não pode decidir a política aduaneira de Washington, mas pode — e deve — decidir como quer ser percebida por quem a compra, a distribui ou a representa.

O consumidor norte-americano, apesar da volatilidade económica, continua a valorizar marcas com identidade. Produtos com origem clara, com história, com propósito. Não compra apenas um sabor ou uma função. Compra um símbolo, uma atitude, uma confiança. E é isso que as Relações Públicas podem, e devem, ajudar a construir. A diferenciação, neste contexto, não é feita só de design ou de preço. É feita de coerência, de presença nos meios certos, de vozes que validam a autenticidade e de histórias que emocionam e informam ao mesmo tempo.

No meio da crise das tarifas, é fácil cair na tentação de cortar em tudo o que parece intangível. Mas o que parece intangível é, muitas vezes, o que mais protege um negócio nos tempos difíceis. Marcas que investem em relações públicas sólidas, que cultivam reputações de forma estratégica, que sabem responder com clareza e firmeza aos seus públicos, são marcas que não apenas sobrevivem a crises externas — são as que saem reforçadas delas.

Claro que nenhuma campanha de comunicação elimina um custo alfandegário. Mas pode justificar, aos olhos de quem importa e de quem compra, porque é que vale a pena continuar a apostar num produto português — mesmo com o custo extra. Pode abrir portas alternativas, encontrar aliados nos media especializados, criar conexões com influenciadores de nicho, ou posicionar uma marca ao lado de causas que lhe tragam novo significado. Isso não é marketing vazio. Isso é inteligência competitiva.

A guerra das taxas pode parecer um problema distante, decidido por comissários europeus e presidentes americanos. Mas a forma como cada empresa responde a ela começa dentro de portas. Começa na escolha entre calar ou comunicar, entre reagir ou posicionar-se, entre queixar-se do mundo ou explicar ao mundo quem se é.

As PME portuguesas têm uma vantagem que muitos esquecem: sabem fazer muito com pouco. Têm criatividade, têm autenticidade e, acima de tudo, têm histórias reais para contar. Cabe agora decidir se essas histórias ficam guardadas numa cave… ou se atravessam o Atlântico, mesmo que custem mais 20% na alfândega.

Fernando Batista, fundador e CEO da Do It On