O sistema de partidos, a liberdade de expressão e associação são essenciais em qualquer regime democrático e Portugal não é exceção. Acontece que todos os partidos portugueses, mais uns do que outros, desde o 25 de Abril de 1974, evoluíram desligados da realidade da sociedade que deveriam conhecer e na qual deveriam estar inseridos.
Hoje é difícil, para não dizer impossível, encontrar um líder político relevante nos partidos políticos que tenham experiência profissional fora da política. Que venha da sociedade civil. Todos os primeiros-ministros, desde Sá Carneiro, foram políticos profissionais, mesmo quando diziam que não o eram. Alguns só episodicamente tiveram atividades fora da política e do Estado (nomeadamente professores). As exceções foram Francisco Pinto Balsemão (empresário) e Pedro Passos Coelho (gestor e professor universitário). Mário Soares, Cavaco Silva, António Guterres, Durão Barroso, Santana Lopes, José Sócrates, António Costa e agora Luís Montenegro foram/são políticos a tempo inteiro, durante décadas.
Os presidentes da República não fogem a esta regra. Desde Ramalho Eanes, que liderou a passagem do poder dos militares para os civis, a Mário Soares, Jorge Sampaio, Cavaco Silva e agora Marcelo Rebelo de Sousa foram políticos profissionais, dois deles tendo sido igualmente primeiros-ministros. Talvez o facto de os principais atores políticos em Portugal terem sido políticos profissionais, na generalidade dos casos desligados dos problemas reais dos portugueses, explique a ausência de reformas estruturais que a sociedade reclama há anos e que os partidos políticos se recusam a fazer. Têm medo de as fazer porque parte delas serão, pelo menos na sua fase inicial, impopulares.
Tem sido mais fácil despejar dinheiro sobre os problemas, mascarando-os. Guterres beneficiou da entrada de Portugal no euro. As taxas de juro da dívida pública baixaram drasticamente permitindo ao Estado beneficiar de milhares de milhões de euros, que o então primeiro-ministro esbanjou, até chegar ao que ele próprio descreveu como pântano. Sócrates beneficiou de uma conjuntura económica extraordinária, com inflação e taxas de juro zero e até negativas. Pensava que ia durar para sempre e gastou... gastou até ser obrigado a chamar a troika, para conseguir pagar os salários à função pública. António Costa colheu os frutos da inabilidade política de Passos Coelho, que apertou o cinto aos portugueses com impostos diretos, deixando a Costa todos os indiretos para aumentar, anestesiando os portugueses, que empobreceram aos poucos, enquanto o Estado enchia os cofres à custa da miséria dos cidadãos.
Teve ainda a oportunidade, que não aproveitou e deixou para Montenegro, de gastar as dezenas de milhares de milhões de euros do PRR, que um iluminado desenhou num fim de semana, despejando milhares de milhões no Estado e empresas públicas, inflacionando mercados como o da construção, encarecendo o bem mais escasso dos portugueses jovens, que é a habitação. Como um drogado, o país está na fase da euforia. Paga tudo a todos. Espere-se pela inevitável ressaca.
Todos, sem exceção, engordaram o Estado, tornando-o numa máquina asfixiante da economia no seu todo e fazendo a vida negra a cada um dos cidadãos que precisa de se relacionar com os serviços públicos. Os portugueses pagam a duplicar a saúde, a educação dos filhos e a justiça, que não existe nem para ricos nem para pobres. Pagam impostos para financiarem o Estado, para este oferecer aos cidadãos serviços de péssima qualidade. Depois pagam no privado para terem tais serviços Para acesso a cuidados de saúde decentes, mais de 4 milhões de portugueses pagam seguros e preferem recorrer aos hospitais privados. Para beneficiarem de educação de qualidade para os filhos, quem pode paga colégios e são cada vez mais as famílias a recorrerem ao ensino privado. Quem tem o azar de precisar dos tribunais, para além de esperar anos a fio que se faça justiça ainda tem de pagar custas judiciais escandalosas, que impede o acesso aos tribunais, a pobres e a ricos. Os cidadãos têm de lidar com centenas de impostos, adicionais e complementos e ainda mais de 3 a 4 mil taxas das câmaras e dos serviços públicos. Cada vez que se entra num serviço público dá-se logo um pontapé em meia dúzia de taxas.
É este o país destes partidos políticos. Distribuem o que não têm, endividando as gerações futuras. Nunca preocupados com a criação de riqueza para, então sim, distribuir de forma justa o que se produz. O sistema de partidos que temos, que se protegem face a choques externos que possam exigir deles responsabilidade e patriotismo, convive mal com o aparecimento de figuras como o Almirante Gouveia e Melo: Sem dependências partidárias ou outras e eficiente nas missões que foi chamado a desempenhar.
É uma personalidade destas, independente dos partidos e das corporações, uma vez Presidente da República, que pode exigir aos partidos políticos eficiência na ação, sentido de Estado nas reformas a empreender, colocando Portugal na senda do crescimento económico, com melhores oportunidades para os cidadãos.
É esta a situação a que os partidos políticos e os sindicatos, com a cumplicidade das associações empresariais conduziram o país, em cinco décadas de democracia. Um país que cresce ao nível da média europeia porque a Alemanha e a França estão a passar por graves crises económicas e políticas e são determinantes para essa média. Nos últimos vinte anos, Portugal foi ultrapassado em PIB per capita por países da Europa de Leste e nórdicos, com entradas muito mais recentes na União Europeia e estratégias de crescimento económico bem mais consequentes.
Em síntese, os partidos políticos que temos moldaram a sociedade nos últimos 50 anos de forma a criar cada vez mais pobres e subsídio-dependentes, a expulsar os jovens do país porque este nada de interessante tem para lhes oferecer e nem o brinde do IRS jovem reverte tal tendência, diabolizando a criação de riqueza. Sufocaram a economia com impostos, taxas e burocracia. Sem critério, semearam o país de RAN, REN, Rede Natura e proteções dos pássaros e afins, impossibilitando a instalação de atividades económicas, um pouco por todo o lado, criando condições para a corrupção e para o tráfico de influências.
Economista e empresário
PS: Não conheço pessoalmente o Almirante Gouveia e Melo. Nunca estive com ele. Este texto só me responsabiliza a mim