Gostava de oferecer um presente, no Dia dos Reis, a António Costa. Vejam, Dia dos Reis, fica bem, é palaciano. Ofertar um curso intensivo de inglês ao senhor presidente do Conselho Europeu. Com certificado. Assim passávamos todos a perceber coisas como cheaper, faster e concrete benefits, tudo emitido numa só frase por António Costa. Pareceu-me, na primeira vez ouvida, que ele estava a anunciar uma roulotte de farturas pitorescas mais baratas e mais rápidas. De notar o ar alegre com que fala, ou grita em inglês. À segunda vez, pareceu-me continuadamente o mesmo.

A ideia da prenda era, também, agradecer a nostalgia de voltar a ouvir António Costa em inglês A1.  É que já em 2015, o antigo primeiro ministro simpático orava em inglês de forma muito empoderada, mas curta. Não sabendo, talvez, que os erros eram massivos e a tradução quase provocava incidentes internacionais. Ora, agora há dias, estava a ouvir de novo o nosso estimado, quando me apercebi que os cursos de aprendizagem de inglês poderão não estar a resultar ou o aluno de novas línguas saltou módulos como quem salta sílabas– desde junho de 2024 noticiou-se que o político estava a esforçar-se com cursos de língua inglesa para exercer o seu novo cargo ascendente no Conselho Europeu.

Volto ao discurso último, de dezembro de 2024: parecia-me estar a ouvir tutoriais de inglês asiático sobre apontamentos académicos amistosos. Não ficava mal melhorar o inglês ou baixar o volume para não se notar tanto o desvio fonético em todo o discurso.

Enquanto especialista na área da linguagem e neurocognição, há uma premissa que pode dispensar as críticas todas a António Costa, exonerar a sua inabilidade articulatória em inglês: para se saber falar bem, na sua posição, tem de primeiro saber-se fluentemente a sua língua materna. Muitos foram os erros em português ao longo do seu governo (“prelenemente”, por exemplo).

Mais queixas alheias de dezembro: foi um recorde o número de reclamações dos portugueses em dezembro 2024 quanto aos serviços dos CTT, sobre o atendimento da Worten, sobre serviços de TV e internet,  sobre os transportes… por comparação com setembro de 2024: ora que novidade. Estas estatísticas são tão sérias quanto as notícias rosa de pseudofamosos. Note-se que é em dezembro, e não em setembro, que todos se lembram de escrever cartas e postais para fazer o ato de contrição da alma antes que o Natal desapareça, é em dezembro que vão todos comprar coisas de que nem precisam, é em dezembro que andam aos matagais nos transportes para poderem comprar ainda mais coisas que depois devolvem -- e reclamam. Setembro teve um recorde de poucas queixas; porque será? Ainda estávamos todos em pecado pré-Natal e ninguém escrevia coisas bonitas ou comprava presentes. Nem havia o subsídio de Natal para se esfumar.

Um conselho sobre o subsídio natalício:
- poupar;
- viajar e esquecer os transportes públicos e as compras súbitas sem nexo.

Por falar em dinheiro: só se ouve falar, nos noticiários, de salários e reina quem mais ganha no meio dos deputados e dos aposentados da governança política. Soa-me a algo muito pouco educado andar a contabilizar os tostões de cada um, sobretudo para entristecer mais os portugueses. Parece-me mesmo brejeiro fazer estas análises. Nisto, ora lembrei-me das feiras a que ia quando morei 30 anos "no campo": o edredão mais adornado gritava-se em euros valentes. E nem era bom o edredão, porque havia o mesmo nas lojas online estilo AliExpress. E invejava-se quem ganhava mais, quem o ganhava gabava-se no seu último veículo de gama lá no café central da vila. E falava do vizinho e dos euros que auferia.

Hoje, nada muda, porque se inveja quem mais ganha e ainda se ostenta isso mesmo, sem rogo e sem medo. Continua muita pessoa brejeira a espreitar os recibos de vencimento alheio (sou testemunha-vítima disto). Afinal, já passou o Natal e a era pecadora voltou. Em janeiro deve estar tudo apertadinho, de subsídio sumido e a devolver os fatos dos foguetes da Passagem de Ano nos saldos. No próximo dezembro volta-se às queixas e, bem antes, teremos discursos deliciosos em inglês parco do amável António Costa.

Bom dia dos reis!

 Professora universitária, investigadora científica e escritora