No Dia da Poupança, é de valor abordar o ato da poupança de forma global. Desse modo, sem o cingir à dimensão financeira, mais convencional. Uma outra é a da poupança de recursos e, em tempos de consumismo, assume uma importante relevância.

No Dia da Poupança, importa considerar o conceito de poupar em toda a sua abrangência, não o limitando apenas à vertente financeira tradicional. A economia de recursos naturais, por exemplo, assume hoje particular relevância, nesta era marcada pelo consumismo excessivo.

Vivemos no tempo da rapidez e, por isso, do descartável. Avaliando as suas variadas consequências, a mais grave delas relaciona-se com o ambiente e a principal razão disso é clara: mais estímulos ao consumo rápido, para suprir prazeres materiais momentâneos, equivalem a mais e mais lixo. Por outras palavras, a um padrão de consumo insustentável.

Olhe-se para o desperdício eletrónico. O lixo eletrónico, qualquer produto descartado com ficha ou bateria, constitui um perigo para a saúde e para o ambiente. O The Global E-Waste Monitor 2024 destaca que o volume de lixo eletrónico aumentou 82% em 2022 comparado a 2010, atingindo um recorde histórico. Face à reciclagem documentada de dispositivos e utensílios eletrónicos, cresce cinco vezes mais.

Noutro plano, apesar de tudo esperançoso, o mercado de equipamentos recondicionados tem registado um crescimento contínuo e estável. Segundo um estudo da IDC, estima-se que este mercado atinja, a nível mundial, um valor de 100 mil milhões de euros até 2027. Portugal é parte da tendência positiva, com um número crescente de consumidores a optar por dispositivos recondicionados. Os segmentos de maior interesse neste mercado são os smartphones, tablets e computadores portáteis.

Estes dados indiciam uma abertura cada vez maior ao mercado de recondicionados, e um reconhecimento de qualidade do produto. E há motivos para tal pois estes equipamentos, apresentados ‘como novos’, passam por inúmeros controlos de qualidade e são vendidos com garantia. Identificados por selos que distinguem os vários produtos de ’excelente’ a ‘bom’, a compra de artigos recondicionados permite aos compradores uma poupança considerável (de até 40% face ao seu valor original); reduz o impacto ambiental da produção constante de equipamentos; garante uma oferta mais diversificada a compradores com diferente poder de compra; e por fim, mas seguramente importante, contribui para a economia circular.

O modelo de economia circular significa, na sua essência, reduzir o desperdício ao mínimo através da reutilização e reciclagem. Além das vantagens óbvias, de cariz ambiental, esse é um modelo gera valor inegável. De acordo com um relatório publicado pela Thredup em 2023, por exemplo, o mercado de roupas em segunda mão duplicará até 2027, atingindo os 350 mil milhões de dólares em todo o mundo. De outro prisma, criará novos empregos - segundo a Organização Internacional do Trabalho, 24 milhões de novos empregos poderão ser criados até 2030 se forem implementadas as políticas necessárias para promover a economia circular. Finalmente, por evitar o desperdício, a economia circular reduz a dependência de matérias-primas não renováveis.

É sobretudo na vida quotidiana que se promove uma economia circular. Algumas sugestões passam por procurar um computador recondicionado, preferir sempre a reparação à substituição ou depositar óleos usados no ecoponto (para possam ser transformados por exemplo, em biodiesel)

Não haja dúvida: a quebra do ciclo do descartável começa em casa, no trabalho e na iniciativa de cada um.

Francisco Esteves, responsável pela Refurbed no mercado português