«Mas o que falta na vida é elegância…» afirmou Tony Ramos no Talk Show Lady Night de Tatá Werneck, uma frase que nos leva a interrogar o que é, afinal, este conceito de elegância. Será assim tão vago e subjetivo? Será algo universalmente reconhecido e extensível a todos nós? A resposta, ao que parece, é não.

Antes de compreendermos o que é a elegância, é necessário distinguir entre dois conceitos fundamentais: modos e boa educação. A confusão entre estes termos é comum e, ao longo dos anos, testemunhei muitos a confundirem modos com boa- educação.

Os modos são somente o parente pobre da boa educação. Há uma parte da sociedade que acredita que ter bons modos é sinónimo de ser educado, que saber estar à mesa, usar corretamente os talheres e colocar o guardanapo no lugar certo é suficiente. Contudo, educação é muito mais do que isso. Educação é elevação da alma, é empatia, é o respeito pelo próximo, é não se julgar superior por vir de uma classe social diferente. É saber comportar-se e relacionar-se com todos, independentemente da origem ou condição geográfica, económica, social, etc.

A este respeito, o livro de Vázquez-Figueroa, "Tuaregue", exemplifica a arte de bem receber. Esta arte não é nada mais do que fazer com que um convidado se sinta em casa, uma verdadeira demonstração de boa educação e empatia. Esta prática reflete a verdadeira essência de educação e hospitalidade, algo que vai muito além dos meros modos convencionados em cada cultura.

É cruel ouvir "não faças isso porque é coisa de povo”. É cruel chamar a atenção de alguém de outro meio cultural ou social, apontando como deve comportar-se à mesa. Contudo, não é incomum, ainda que especialmente alarmante, o contraste entre a preocupação de certos pais com o parecer bem, enquanto que a formação de um ser humano ético e empático fica bem longe da lista de prioridades. Ao final do dia, de que serve isso? Qual o ganho? Pertencer a uma elite em que o que conta são as aparências? O que isso interessa? Qual é o propósito ou contributo para um mundo melhor?

Outra pergunta que grita é, o que se ganha com a superficialidade? Viver apenas para as aparências é viver na prisão da aprovação alheia. Este é um fardo pesado e, na verdade, vazio. A vida tem de ser mais que um desfile de vaidades e status social. Quem vive apenas para parecer, nunca será realmente uma pessoa em construção, capaz de evoluir e ser melhor. Por vezes, a aparência desmorona-se e revela o vazio interior.

Alguém pode vestir o melhor casaco de vison, ter um carro topo de gama, ocupar o cargo de CEO, saber usar impecavelmente os talheres à mesa e falar de forma eloquente, mas se não souber tratar o próximo com respeito e dignidade, não é verdadeiramente um ser revestido de humanidade.

Quando Tony Ramos fala em elegância, refere-se à elegância da alma, algo que é realmente poderoso e importante. Este tipo de elegância, ao contrário do que muitos pensam, não está disponível para todos. Apenas alguns têm a capacidade de alcançá-la, e é isso que realmente importa. A verdadeira elegância é, portanto, uma combinação de boa educação, empatia e respeito pelo próximo.

A verdadeira elegância não se vê, sente-se. Não está no gesto ensaiado, mas na naturalidade do respeito e do carinho. Não se encontra no olhar julgador, mas no olhar compreensivo. A verdadeira elegância é a que transcende a superfície e toca a essência humana.

É um erro comum confundir modos com boa educação. Ser educado vai muito além das aparências e dos gestos superficiais. É uma questão de caráter e de alma. Infelizmente, muitos dos que se consideram bem-educados revelam-se cruéis e desumanos, esquecendo-se de que a verdadeira elegância reside no respeito e na dignidade com que tratamos os outros.

Assim, a verdadeira lição que podemos retirar é que, na ausência de uma alma elevada e de empatia genuína, os modos e as aparências são apenas uma máscara vazia. A verdadeira elegância é rara e preciosa, um poder que apenas alguns possuem. No final das contas, ser bem-educado não é apenas saber comportar-se à mesa, mas sim saber comportar-se na vida.

Jurista