Portugal encontra-se numa posição estratégica para se destacar na era digital. Enquanto hoje conceitos como Inteligência Artificial dominam a atenção pública, o futuro da tecnologia global está na Web3, na blockchain e nos serviços descentralizados. A Web3 tem sido impulsionada pelas criptomoedas, mas as suas aplicações vão muito além: pode transformar setores como a saúde, logística, administração pública e muitos outros, criando novas oportunidades para países visionários.

Portugal tem agora a hipótese de se tornar uma referência no desenvolvimento destes serviços de próxima geração. Graças à dificuldade de regulamentação fiscal sobre criptomoedas, ao custo de vida competitivo e ao clima ameno, o país está a atrair talento tecnológico internacional. Para capitalizar esta vantagem, é crucial focarmo-nos em criar valor a partir de Portugal — através de serviços e tecnologia de que o mundo necessite.

Mais do que criptomoedas: aplicações práticas da Web3

A Web3 nasceu no mundo das criptomoedas, mas o seu impacto vai muito além. Esta tecnologia permite criar plataformas descentralizadas para áreas como identidade digital, contratos inteligentes e rastreabilidade de produtos.

Imagine o valor de sistemas que garantem, de forma transparente e descentralizada, a proveniência de alimentos, ou que facilitam a troca segura de dados médicos entre hospitais e prestadores de saúde. Estes serviços serão essenciais para o futuro, e Portugal pode ser pioneiro no seu desenvolvimento.

Por exemplo, no caso da identidade digital, a Web3 oferece aos seus utilizadores a possibilidade de provarem a sua identidade sem ter de partilhar os seus dados pessoais com entidades em quem não confiam, eliminado a possibilidade de esses dados serem roubados e/ou utilizados com intenções maliciosas.

Atração de talento: transformar Portugal num hub de Web3

A relativa ausência de regulamentação em Portugal tem sido um forte atrativo para profissionais de Web3, que muitas vezes recebem os seus salários em criptoativos. Contudo, em vez de apenas tirar partido disso, temos a oportunidade de capitalizar esta afluência de talento internacional. Este influxo de empreendedores e engenheiros digitais permite criar, localmente, um ecossistema de inovação, que desenvolva serviços tecnológicos robustos e essenciais para mercados internacionais.

Atualmente, grande parte deste talento ainda trabalha para empresas estrangeiras, exportando o valor gerado. Mas com incentivos adequados à criação de startups focadas em Web3, podemos fomentar o desenvolvimento de soluções que sirvam de base para economias mais regulamentadas. Ao impulsionarmos estas empresas em Portugal, o país passará de mero recetor de talento para criador de tecnologia de ponta.

Ao desenvolvermos soluções Web3, abrimos portas para uma nova economia de serviços que poderá ser exportada e usada globalmente. Em vez de nos focarmos apenas na implementação local, podemos tornar-nos num centro de fornecimento de serviços digitais descentralizados — oferecendo tecnologia indispensável a outras nações.

Portugal no cenário global: o momento é agora

O tempo para agir é agora. A Web3 está numa fase emergente e, quem liderar o desenvolvimento desta tecnologia, poderá definir o futuro da economia digital. Em vez de ser um simples utilizador desta revolução, Portugal pode e deve ser um arquiteto ativo dos serviços que irão moldar o futuro digital global.

Com uma estratégia inteligente e aproveitando a posição vantajosa atual, Portugal pode transformar-se num ator indispensável, oferecendo serviços e tecnologia de alta complexidade que o mundo necessitará para acompanhar a evolução da Web3. Esta é uma oportunidade única para passar de uma economia periférica a um protagonista da era digital — e o momento certo para agir é agora.

Engenheiro de Automação, membro da Iniciativa Liberal.