A celebração do Dia da Discriminação Zero, no dia 1 de março, motiva uma reflexão sobre a realidade atual da nossa sociedade. Apesar de a Constituição Portuguesa consagrar a igualdade de todos os cidadãos perante a lei e a proibição de qualquer forma de discriminação, sabemos que ainda persistem desafios, especialmente no setor financeiro, onde a inclusão deve ser um princípio fundamental.
Embora o acesso a serviços financeiros seja uma necessidade básica para a participação plena na sociedade e economia portuguesa, muitos ainda enfrentam barreiras significativas que os impedem de gerir as suas finanças com autonomia e dignidade. A exclusão financeira continua a ser uma realidade para diversas populações vulneráveis, desde pessoas com rendimentos mais baixos até trabalhadores informais e comunidades migrantes. Essas barreiras que existem na prática em termos de acesso a contas bancárias, crédito ou seguros, limitam oportunidades e perpetuam desigualdades.
Para ultrapassar estes obstáculos, é fundamental investir na educação financeira e na inclusão digital, duas ferramentas essenciais para reduzir a exclusão financeira e promover um acesso mais equitativo aos serviços financeiros. Muitas pessoas, especialmente as mais vulneráveis, não têm o conhecimento necessário para tomar decisões informadas, o que dificulta a sua participação autónoma. Adicionalmente, o acesso desigual à tecnologia impede que muitos utilizem soluções financeiras digitais, conduzindo ainda mais à exclusão. Por isso, é essencial investir no conhecimento e garantir que todos tenham acesso às ferramentas adequadas.
O setor financeiro tem, assim, um papel crucial nesta transformação, e deve dar o primeiro passo para a mudança. Práticas de mercado, como critérios excessivamente restritivos na concessão de crédito ou o uso de algoritmos que podem perpetuar preconceitos implícitos, reforçam a discriminação, violando o princípio da igualdade consagrado na Constituição. A revolução necessária para transpor esta realidade exige um esforço conjunto entre reguladores, instituições financeiras e comunidades para garantir que ninguém fica para trás.
Nos últimos anos têm também aparecido novas soluções que ajudam a promover a inclusão financeira, com a digitalização a assumir-se como uma poderosa aliada na democratização do acesso a este tipo de serviços. No entanto, a inclusão não se faz apenas pelo digital - para muitas pessoas, especialmente em determinadas regiões do país, a possibilidade de realizar depósitos e levantamentos num ponto físico continua a ser essencial no seu dia a dia. Iniciativas que simplifiquem o processo de abertura de conta e eliminem burocracias excessivas são fundamentais para assegurar que todos possam gerir o seu dinheiro de forma segura e eficiente, seja através de canais digitais ou presenciais.
Assim, é essencial pensar nesta temática de forma contínua, reforçando o compromisso de construir um setor financeiro mais justo, acessível e inclusivo. E o caminho passa não só pelo reconhecimento das barreiras existentes, mas também pela implementação de soluções que coloquem as pessoas no centro do sistema. No fim de contas, a inclusão financeira não é apenas uma questão de justiça social; é uma condição essencial para o progresso económico e para uma sociedade mais justa.
CEO da Nickel Portugal