
Caros leitores,
Espero que esta minha carta vos encontre de boa saúde e sem necessitar dos meus cuidados.
Já alguma vez pensaram na figura que organiza e garante a qualidade dos cuidados de saúde que recebemos? Quando recorremos a um serviço no Sistema Nacional de Saúde (SNS), esperamos, naturalmente, que tudo esteja coordenado, que os profissionais estejam disponíveis para a prestação dos cuidados e que os recursos sejam rentabilizados da melhor forma. Mas quem assegura que este cenário acontece?
Eu sei que muito provavelmente desconhece o papel do Enfermeiro Gestor. Uma figura que desempenha um papel essencial na estrutura do SNS, assumindo-se como um agente imprescindível na organização e gestão dos serviços de saúde e nos cuidados que são prestados. Falo de um profissional que, na sua atuação, abrange diversas áreas, desde a liderança de equipas até à gestão de recursos, sempre com o objetivo de garantir a qualidade, eficiência e a segurança dos cuidados prestados.
Falo-vos de uma figura cuja importância está reconhecida na legislação portuguesa, em diversas normas e regulamentos. O Regime Jurídico das Instituições do Serviço Nacional de Saúde (SNS) definido no Decreto-Lei n.º 52/2022, de 4 de agosto, define a organização das instituições SNS e os princípios de governação clínica, onde os enfermeiros gestores desempenham papel indispensável, ou ainda o caso do Regime da Carreira de Enfermagem (Decreto-Lei n.º 71/2019, de 27 de maio) que define as categorias da carreira, estabelecendo as suas funções de liderança, gestão de equipas e participação na tomada de decisões estratégicas, táticas e operacionais.
É verdade que, por vezes, só damos valor a determinadas funções quando algo corre mal. Por isso, nesta semana em que se assinala o Dia Mundial da Saúde, quero apresentar e sublinhar o trabalho dos Enfermeiros Gestores, presente todos os dias, ao promover um ambiente de trabalho colaborativo e motivador, e ao garantir que todos os profissionais estão alinhados com as diretrizes institucionais e que os cuidados são prestados de forma segura e eficiente. Faz ainda parte das suas funções uma gestão eficaz dos recursos humanos, assegurando o equilíbrio das escalas de trabalho, organizando o trabalho de forma justa e garantindo que a equipa está adequada às necessidades dos doentes. Além disso, ainda assegura a gestão eficiente dos materiais e equipamentos hospitalares, evitando desperdícios e otimizando os recursos disponíveis, contribuindo para a sustentabilidade financeira das instituições de saúde.
Por desempenhar um trabalho crucial, é importante investir na valorização e na formação destes profissionais, não apenas por uma questão de justiça, mas essencialmente pela necessidade estratégica para a sustentabilidade do SNS. Um sistema de saúde eficiente depende não só de bons profissionais clínicos, mas também de uma gestão sólida e bem estruturada.
O reconhecimento das competências acrescidas e avançadas na área de gestão destes profissionais, assim como a sua capacidade de liderança, não devem ser pontos de discórdia, mas sim uma tomada de posição para a construção de um SNS mais forte e preparado para os desafios de futuro. Por se assumir um pilar estratégico para a sustentabilidade, eficiência e efetividade dos serviços de saúde, desafio os leitores a refletir sobre esta realidade, reconhecendo o impacto que estes profissionais desempenham para a qualidade dos serviços que todos nós recebemos.
Os melhores cuidados de saúde dependem de uma boa gestão. E no fim, ganhamos todos com isso.
Nelson Guerra, professor Coordenador na Escola Superior de Saúde Atlântica e presidente da Associação Portuguesa dos Enfermeiros Gestores e Liderança