Em modo pausa, assim está a política de tarifas do presidente dos Estados Unidos da América, após um enorme e previsível trambolhão das bolsas mundiais e a pressão dos mercados financeiros e dos empresários que apoiaram Donald Trump nas últimas eleições.

Os milionários não paravam de perder dinheiro em tão poucos dias. Vários economistas preveem uma recessão maior e mais rápida do que esperado. União Europeia e China avançaram com retaliações comerciais. As bolsas entraram em colapso perante o efeito boomerang da aplicação de tarifas elevadas dos EUA a quase todos os seus parceiros comerciais. A confiança dos líderes mundiais e de parte crescente da opinião pública dos EUA a esvair-se, em tão poucas semanas. Era preciso parar a tempestade, imediatamente.

Trump decidiu tentar estancar a hemorragia, na quarta-feira (9 de abril), com o anúncio de uma pausa de 90 dias na aplicação da nova pauta de taxas alfandegárias, com a exceção da China. Será o suficiente? Há uma regra básica na economia e no setor empresarial que se aplica a quase tudo na vida dos cidadãos: a confiança demora anos a conquistar, mas pode perder-se em poucos minutos.

É difícil não recordar a imagem do elefante na loja de porcelanas, perante o que está a acontecer à administração Trump. O elefante entrou na sala com estrondo e partiu quase tudo nas prateleiras. Agora fecha a loja por três meses e vai tentar limpar os estragos ou colar peças partidas até à reabertura. Mas tendo esse elefante um comportamento tão imprevisível e agressivo, qual é o dono de lojas que quer fazer comércio com ele?

Esta pausa instrumental pode ter sido urgente e necessária para travar o pânico dos mercados, mas a pouca confiança que já existia dos parceiros tradicionais dos EUA é agora quase nula. Exige-se cautela redobrada a lidar com Washington, que parece deixar de ser um parceiro confiável. Ironicamente, são os norte-americanos que mais falam de “trust”, mas de pouco servirá agora invocar “in God we trust”, quando essa confiança parece ter-se estilhaçado.

Quem pode negociar ou falar com um chefe político que responde a uma jornalista, sobre o efeito das tarifas nos mercados, “a sua pergunta é estúpida”? Quem trata parceiros do Canadá, México, União Europeia ou Ucrânia da forma como Trump (des)tratou? O que espera receber de volta? Quem assusta os mercados financeiros com tamanha agressividade e, simultaneamente, tanta permissividade perante a Rússia do ditador Putin? Que respeito pode esperar?

Mesmo que o objetivo primordial da administração Trump seja a rápida redução do défice externo e da dívida dos EUA, com a imposição de tarifas a praticamente todos os parceiros comerciais (o que é inteiramente legítimo), que margem tem agora o presidente quando se vê obrigado a anunciar uma pausa na sua política e na imagem de Trump a mostrar uma tabela das novas taxas sobre cada país?

Mesmo internamente, Trump fica fragilizado, por mais que o seu discurso populista tente maquilhar a ferida. Esta parece maior e mais verdadeira do que a do tiro que feriu a sua orelha, num comício na última campanha eleitoral.

Quer Trump rebatizar a conhecida lei de Murphy — quando algo tem forte probabilidade de correr mal, vai mesmo correr mal? A questão agora é saber qual o efeito (danos e duração) dessa nova “lei de Trump” na economia e na ordem mundial.

Jornalista